O escritor Scott Anthony, numa reflexão oportuna e lapidar sobre inovação, publicada na Harvard Business Review, em 2011, compilou alguns dos principais mitos que perduram em nossos dias. Um deles diz que “Inovação é algo que ocorre de forma aleatória”, algo como geração espontânea, na versão antiga dos pesquisadores sobre a origem do universo. Inovação é disciplina. O autor cita o exemplo da empresa Procter & Gamble’s que triplicou sua taxa de sucesso em projetos de inovação revendo suas práticas produtivas a luz de parâmetros de sustentabilidade. No caso das empresas instaladas em Manaus, onde a indústria de transformação está à frente de outras plantas industriais do país em termos de agregação de valor por inovação, a adoção desse instrumento é ainda discreta mas tem todos os instrumentos para evoluir. Tudo, quer dizer, enfaticamente, a inclusão dos recursos pagos pela Lei de Informática para P&D. Por isso, rever os critérios de aplicação de recursos e mobilização política para retê-los na região são duas faces de uma mesma prioridade essencial. Diz Scott Anthony, “Apenas gênios altamente criativos podem inovar”, para enumerar um mito a ser desconstruído. Inovação e criatividade são distintos. Criatividade certamente ajuda, mas pessoas que não são propriamente consideradas como criativas podem criar inovações de alto impacto se seguirem um processo correto. Daí o papel de uma cultura inovadora, que inclui a mobilização das empresas instaladas em Manaus, tanto no sentido de divulgação sistemática de sua política de P&D, como na persuasão de seus matizes para estudar investimentos neste setor para a planta de Manaus.
ABITA, um caminho
A iniciativa do CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, de compor sua nova configuração a partir de ampla consulta às empresas do polo industrial de Manaus, priorizando essas expectativas na formulação de suas diretrizes operacionais e linhas de pesquisa e desenvolvimento, pode ajudar a desmontar outros mitos. E isso tem chance de fomentar uma cultura inovadora, na medida em que a instituição começa a definir seu modelo de gestão – com a formação da ABITA (pronuncia-se ÁBITA) ASSOCIAÇÃO DE BIOECONOMIA E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DA AMAZÔNIA, a partir da inclusão das entidades de classe, do poder púbico, das instituições de P&D da região. Nesse instante entra em pauta um antigo mito “Ou você é inovador ou não é”. De acordo com pesquisas descritas no livro “The Innovator’s DNA“, inovação seria 30% “natural” e 70% fruto de uma preparação. Ou seja, as demandas vão determinar respostas, mantida a interatividade fecunda, na rotina da atividade produtiva, onde será abolido mais um mito, segundo o qual, “Inovação ocorre apenas em laboratórios de pesquisa”. Inovação ocorre (pode ocorrer) em qualquer área ou departamento da empresa, onde todos deveriam procurar novas fórmulas para solucionar velhos problemas. E este não necessariamente exige que apenas os recursos de uma tecnologia superior podem resolver antigas questões. Muitas abordagens de sucesso que aparecem no mercado se baseiam em modelos de negócio inovadores e não, necessariamente, em tecnologias novas, diz o articulista. “A virada do jogo da inovação é feita apenas por novos empreendedores”. Eis um mito que permanece na cabeça das pessoas. Grandes inovações nos últimos anos foram desenvolvidas, também, por grandes empresas, como aquelas que existem no polo industrial de Manaus, não apenas na área de informática e telefonia celular. O segmento de duas rodas tem sido um irradiador de inovação. Por isso, não necessariamente é verdadeiro que “Iremos vencer se nossos alvos forem os maiores mercados”. As inovações mais ousadas criam mercados que antes não existiam. Por isso, também não é dogma afirmar que “Inovação requer grandes apostas”. O autor cita Peter Sims e seu livro “Little Bets” e afirma que, se você quer ser grande, deve começar pequeno.
“Qualquer país sério…”
Por tudo isso, entre as tarefas e os desafios colocados para os atores públicos e privados locais, incluindo a movimentação e mobilização do fator político, de sua responsabilidade e presença no day after da prorrogação da ZFM, por mais 50 anos, INOVAÇÃO é, dos caminhos, o mais instigante. Daí, essa mobilização precisa se fazer acompanhar por algumas premissas e compromissos dessa nova etapa do modelo, da diversificação de suas MATRIZES ECONÔMICAS. Uma delas sugere rever o uso das verbas de P&D, Pesquisa e Desenvolvimento – com o acréscimo do I, de Inovação – recolhidas pelas empresas alcançadas pela Lei de Informática, na perspectiva da formulação de um programa de médio e longo prazo que construa novas alternativas – coerentes com a vocação natural de negócios e com a paulatina emancipação da dependência de incentivos – para a Amazônia Ocidental. Um projeto ambicioso, nativo, focado no jeito e no insumo humano e cultural local – com a agregação dos valores que aqui vieram e estão – e seu respectivo arcabouço legal. Há uma movimentação favorável neste clima de mudança institucional na política, para rever a aplicação e retenção das verbas de P&D, no âmbito da Suframa, que precisa mobilizar os atores envolvidos. “Qualquer país sério poderia fazer uma revolução com esse recurso”, continua ecoando no ouvido do contribuinte, na constatação do volume de recursos recolhidos e confiscados a cada ano. As entidades precisam movimentarem-se em bloco para ingressar nesse mutirão de cidadania, gestão e aplicação transparente desse montante considerável sob o prisma do interesse público. Vamos em frente!!!!
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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