Nesta segunda-feira, dia 29, o Governador José Melo recebe alguns dos principais atores do debate econômico e social para reunir as contribuições relevantes e costurar as linhas gerais da Nova Matriz Econômica Ambiental do Amazonas, um plano de ação para consolidar alternativas de crescimento e renda para o Estado. É compreensível que o governo destaque o aspecto ambiental, para iniciar o debate com as premissas de sua política de meio ambiente, à luz das pressões de toda a ordem em cima do bioma amazônico, notadamente neste Estado que carrega a batuta da preservação ambiental, em troca da renúncia fiscal recebida. “Políticas Ambientais para o Desenvolvimento Sustentável no Amazonas”, a palestra a ser proferida pelo Secretário de Estado do Meio Ambiente, Antonio Stroski, merece uma apreciação. Neste momento de busca dos novos caminhos, em que a indústria é açoitada por uma de suas mais graves crises em quase 5 décadas do modelo ZFM, é hora de mudar o foco proibicionista. Em vez de deter-se no verbo vetar, que tal optar por ajudar a fazer, com inteligência e equilíbrio socioambiental, um novo arranjo econômico? Com ênfase sempre no fator humano, a razão primeira e vital de ser da ação ambiental. Importa, entretanto, estimular o empreendimento, e corrigir, em conjunto, eventuais riscos e distorções. O social precede o ecológico na cadeia da evolução e na valoração ética universal. A quem serve uma árvore frondosa se a sua sombra um ribeirinho padece de humilhantes indicadores humanos de desenvolvimento? Não postulamos abater a floresta para aquinhoar o capital predatório. Mas não existe sustentabilidade ambiental sem suporte econômico nem atendimento às demandas sociais. Se estamos de acordo, mãos à obra!
Expectativas e embaraços
Nova matriz econômica – e ambiental – do Amazonas deve ser, sobretudo, a construção das novas oportunidades de emprego e renda, que o aproveitamento da vocação de negócios da floresta pode oferecer. Nesse contexto, a nova matriz econômica ambiental pode integrar-se, como faz o Peru, na produção de alimentos orgânicos, numa integração inteligente e até publicitária com a agenda de desenvolvimento, sustentável global. Integrar-se com as políticas e públicas nacionais já é um outro departamento, pois inexiste integração, muito menos política pública que inclua a economia da ZFM e nem disposição da Pasta do Desenvolvimento em recomendar parcerias com as políticas de diversificação e interiorização deste modelo. É mais fácil, além de preocupante e deprimente, recomendar que as empresas brasileiras invistam no Paraguai, algo escabroso se detectado entre as ações de um Ministério. O Amazonas segue a própria sina de um Estado apartado. Iremos a lugar algum com a Nova matriz Econômica Ambiental do Amazonas, se continuar o boicote a reconstrução da conexão rodoviária do Estado com o restante do país, a maldita falácia da BR 319. Chega de enrolação e hipocrisia, em nome de interesses inconfessos! Chega de confisco das verbas aqui conquistadas e legalmente destinadas a diversificação do desenvolvimento, com inovação tecnológica e biotecnológica das cadeias setoriais. Chega de boicote às alternativas energéticas, notadamente aquela que aproveita as vocações regionais de produção de energia limpa, como a alternativa solar. Chega de fogueira das vaidades que impediram nos últimos 13 anos o florescimento do polo de bioindústria com o fortalecimento institucional e funcional do Centro de Biotecnologia da Amazônia. E chega, sobretudo, desta visão tacanha que descreve a postura de alguns gestores e pesquisadores que tratam P&D como extensão de seus domicílios bancários e antídotos das próprias crises existenciais. A hora é de somar, conjugar o verbo construir na primeira do plural, identificar os avanços ensaiados, valorizar o saber local, não apenas acadêmico, mas especialmente o saber tradicional, ponto de partida de investigação e ação focada no interesse social e no mercado que desembarca na prosperidade. E como preparar a nova matriz senão partilhando os trocados da penúria econômica com o capital promissor da disposição de fazer e acontecer.
Guaraná, café, castanha… E por aí vai!
Os gurus desta nova matriz precisam levar em conta o parecer daqueles que hoje ocupam as comunidades com suas experiências contidas. Conhecer os produtores de guaraná orgânico de Urucará, eles desenvolveram biodefensivos agrícolas, ou seja, além do guaraná e da Marapoama, eles dominam a técnica dos bioindeticidas. Existem, em ação carente de respaldo, os produtores de café do Nova Olinda, isso mesmo, foi para a Amazônia – Café Palheta – que vieram as primeiras mudas desta rubiácea milagrosa, o cafeeiro, que tanta riqueza produziu no Brasil, levada para o Sudeste porque aqui já havia a pujança da borracha. Fizemos, porém, esse Ciclo de pujança uma rede em dimensões amazônicas, onde deitamos para usufruir o glamour embalados pela preguiça de promover a inovação, com o plantio racional e extensivo da seringueira. Deu no que deu. Vamos conversar com os plantadores de castanheiras e pupunheiras, e oferecer tecnologia de bioindústria de cosméticos, nutracêuticos, fitoterápicos, insumos dos extratos vegetais para a bioindústria do Polo Industrial de Manaus. E assim poderemos dialogar, permanentemente, sobre “A competitividade empresarial na Matriz Econômica Ambiental do Amazonas”, título da palestra a ser proferida pelo presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, Wilson Perico.
Caminhos alternativos
“Somos irresponsáveis em continuar dependendo de um único cesto de geração de riqueza. Se ele se rompe todos naufragamos”. Com esse alerta, o presidente do CIEAM abriu um seminário histórico, no dia 5 de agosto de 2013, em Manaus, no Auditório Gilberto Mendes de Azevedo, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas – FIEAM. Eram 70 participantes de instituições de ensino, pesquisa e empresas públicas e privadas, entidades de classe, que debateram questões amazônicas durante o Seminário sobre o Futuro da região, à luz das lições dos Pioneiros e Empreendedores do Brasil e do Estado do Amazonas, tema da Mostra realizada pela USP, Ministério da Cultura, Museu Nacional e o Governo do Amazonas, com apoio da Bemol e FIEAM/CIEAM. Estas entidades organizaram o debate que teve como objetivo identificar os fatores que favorecem e inibem o empreendedorismo e buscou priorizar ações indutoras do empreendedorismo no Amazonas, com a intenção de sensibilizar os sistemas de educação, de inovação e de apoio ao empreendedorismo. Novas matrizes econômicas foi a palavra de ordem proposta pelas representações presentes. Na ocasião, os relatos das empresas Cupuama, Bombons Finos, Oiram, na área de alimentos com a utilização de insumos e tecnologia regional, da Pentop, tecnologia da informação e Fucapi, na área de ensino e inovação tecnológica, mostraram que é necessário priorizar qualificação técnica, investir em pesquisa e desenvolvimento, tendo em vista agregar valor à indústria existente e à imensidade do potencial de negócios na fruticultura, agroindústria de alimentos, fármacos e cosméticos. As empresas, aqueles que se metem a investir, padecem de infraestrutura de transporte, energia e comunicação, e apontam a dificuldade de acesso ao crédito. Nada mais oportuno, portanto, em clima de celebração dos 49 anos da Suframa, preparar, em conjunto, para valer, a Nova Matriz Econômica Ambiental do Amazonas. Voltaremos.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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