Entre os clientes de Alvin Toffler, um futurologista reconhecido mundialmente, nos anos 1990, período de grandes transformações e quebras de paradigmas, estavam Mikhail Gorbachev, líder que implodiu o comunismo burocrático e corrupto da União Soviética, Zhao Ziyang, primeiro ministro chinês que fez uma leitura capitalista e oportunista de Mao Tsé Tung, o milionário mexicano Carlos Slim, o Midas da modernidade, que assimilou a mágica de transformar megaempreendimentos falidos em negócios florescentes e um caboco atrevido, Gilberto Mestrinho. Leitor de Tofler, a quem chamava de economista-profeta, enfrentou com sua ajuda a audácia dos países centrais, EUA, à frente, que tentavam colocar as supostas queimadas da Amazônia como a causa do aquecimento global, a tragédia climática em franco processo de agravamento. “No dia em que a NASA provar para a Ciência e diferença entre fumaça e neblina, podemos iniciar a conversa sobre o efeito estufa”, dizia o Boto, numa de suas sacadas irônicas. Gilberto foi um exemplar derradeiro de político voltado, corpo e alma, para as grandes questões amazônicas. E foi de braços dados com Alvin Tofler que ele tocou fogo no Fórum Global, em pleno Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, nos anos 1992, quando a ONU juntou os dirigentes dos países daTerra, em conferência, para debater a relação conflituosa entre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Gilberto faz falta neste Brasil que tão cedo será lavado a jato, à vista das manchetes cada dia mais frequentes e deprimentes que descrevem as trapalhadas da classe política. Com a recessão que açoita o país, 13 milhões de desempregados, estes luminares do Parlamento e do Executivo tem devolvido –compulsoriamente – aos escritórios de advocacia a parte do leão de seu patrimônio sinistro para provar inocências improváveis. Este é o único setor de serviços que está “bombando” na crise. Diferentemente de Gilberto, a absoluta maioria de seus colegas de profissão – cada vez mais desacreditados junto ao cidadão – desconhece a história, o sentido e a relevância socioambiental e econômica da Amazônia no Acordo do Clima, ratificado no grito do formalismo burocrático da Assembléia da ONU, em setembro último. Quantas vezes a mídia reportou qualquer menção à Amazônia no rol das prioridades federais do atual governo?
Gilberto e Tofler – diante do fenômeno devastador do desemprego estrutural – consequência inevitável do avanço tecnológico, defenderam com veemência e urgência a quarta onda, a biotecnologia, como a melhor saída para promover a prosperidade e, ao mesmo tempo, conservar os estoques naturais. Eles previram a chegada dessa quarta onda, na sequência do debate que marcou um dos livros mais conhecidos de Alvin Tofler, A terceira onda, onde ele conta a passagem da onda agrícola para a industrial, e dai para a onda da inovação tecnológica. Previram que a bioeconomia iria entrar de vez na vida das pessoas, provocando a convergência do desenvolvimento da biologia com a tecnologia da informação.
Em seu livro, Amazônia, Terra Verde, Sonho da Humanidade, escrito passo a passo, no debate com cientistas da USP, Inpa, Ufam…, focados no debate regional, Gilberto descreveu sua utopia em relação à floresta. Coerente com sua conduta, a utopia de Gilberto não significa um sonho inalcançável, ao contrário. Para ele, o Brasil, qualificando sua juventude, seria o protagonista de um novo paradigma civilizatório, que reuniria pesquisa, desenvolvimento e atendimento às demandas sociais: “O mundo civilizado , há mais de 500 anos, reivindica apropriar-se da Amazônia. É compreensível este anseio quando se tem o mínimo de informações a respeito da sua biodiversidade. Aqui habitamos e hoje somos alguns milhões. A questão é como conduzir a ocupação desse espaço. Digo mais: a Amazônia está à disposição do mundo, e não poderia ser diferente. Nossa saída reside exatamente em abrirmos todos os canais possíveis de interação, sem xenofobia mas também sem ingenuidade. Na pesquisa, nos investimentos conjuntos, na formação de mão-de-obra, na experiência prazeirosa da poesia natural, temos à mão a oportunidade única de resgatar definitivamente o convívio saudável é urgente entre o homem e a natureza”. Eis um traço da utopia amazônica de Gilberto…
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