Antes do advento da fotografia e impressão tridimensional, onde a diferença entre o mundo real e virtual começa a ganhar limites ínfimos de diferenciação, a impressão ou a retratação em alto relevo descrevia um resultado no papel onde algumas letras ou imagens se destacavam na textura, ou uma escultura onde a forma se projeta à frente, partindo de um fundo, normalmente um bloco do material utilizado, além do ponto onde seria possível copiá-la totalmente com um só molde. A lembrança serve para descrever o perfil da crise brasileira e a crise ora vivida pelo modelo Zona Franca de Manaus. A crise brasileira se deve principalmente aos desarranjos das contas públicas, numa gestão perdulária de quem gasta mais do que recebe. Há evidências de aplicação equivocada das verbas públicas, que desembarca na baixa produtividade da economia. O investimento em infraestrutura foi reduzido em proporção inversa ao crescimento da máquina pública. Essa modalidade de gestão desembarcou na desconfiança dos investidores, trabalhadores e consumidores, motivando às agências de risco ao temerário rebaixamento. É uma crise de credibilidade, que deverá agravar-se em 2015 e, cumprido o ajuste fiscal, com muitos embaraços, a perspectiva de recuperação se daria em 2016 com recuperação de um novo ciclo virtuoso de crescimento, na avaliação dos economistas. A crise amazonense, porém, tem um relevo maior. Ela se torna mais grave na medida em que é influenciada, intensamente, pela crise brasileira, entretanto, seu principal vetor é a perda estrutural do dinamismo econômico do modelo ZFM. Sem infraestrutura, e com a sangria dos recursos de sua diversificação e adensamento tecnológico, a competitividade do polo industrial esvaiu-se e não há indícios no médio prazo de planos, propostas e projetos alternativos. Por isso, a perspectiva é que em 2015 a crise continuará se agravando, sem perspectiva no horizonte de indícios de retomada e fortalecimento do modelo. Há, nesse contexto, o ledo engano de que a única causa seja a crise nacional, ou seja, contornada a crise tudo voltará à bonança e não há necessidade de mobilização de todos em torno de Plano B, o planejamento estratégico de novas trilhas de crescimento, aquilo que insistimos em marcar com maiúsculas para as Novas Matrizes Econômicas. Não se trata aqui de desfraldar o estandarte da agonia, mas de parar para acertar a locomotiva da reinvenção.
A fotografia eloquente
Os dados do IBGE, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de março último, que apontam o tamanho da crise no Brasil, descrevem as situações excepcionais, que se explicam por situações sazonais, e chamam a atenção para evidências curiosas. Enquanto a crise do Amazonas revela a dimensão de sua dramaticidade, com (-21) de queda, o Pará, com (+12), salta para índices cada vez mais densos de crescimento. Lá o Plano B é antigo e priorizou a recomposição ambiental e a correção das opções predatória de desenvolvimento. Aqui, basta recuperar os dados em dólar, do desempenho da economia, divulgados pelo Centro da Indústria, CIEAM, para confirmar que o modelo ZFM está claudicando desde o início da década. Há três anos, temos insistindo que a publicação em Reais do desempenho das indústrias da ZFM serviu para camuflar a desindustrialização a caminho. Em 2005, as empresas responderam a uma pesquisa sobre as dificuldades para consolidar a competitividade industrial do modelo ZFM. O resultado foi eloquente: sem infraestrutura, sobretudo de transporte, não há como ser competitivo. O resultado adverso da produção industrial se repete e se agrava há 13 meses, a arrecadação do Estado começou a cair desde agosto e são inquietantes as perspectivas. E isso é anterior à crise nacional e vai perdurar após seu equacionamento se nada for feito.
Luzes de um túnel possível
Têm surgido alguns elementos novos que, pensados estrategicamente, podem se constituir opções de longo prazo, como projetos da Cooperação Andina de Fomento, interessada em desenvolver uma parceria com a Universidade do Estado do Amazonas, não para alguns programas imobiliários pretendidos por alguns desavisados, mas a formulação de um programa estratégico de qualificação de recursos humanos na perspectiva de novas modulações de negócios, coerentes com a vocação amazônica, na linha da parceria ora firmada entre a UEA e a FEA/USP, para um Doutorado Interinstitucional em Administração. Este é um gargalo crítico que desafia a gestão no setor público e setor privado, para pensar e executar as novas saídas. A crise não é de obras mas de soluções criativas, como se detecta nas iniciativas de parcerias da UEA, com investimento em inteligência e conquista do conhecimento. Na mesma linha, o Programa de Cooperação entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID e a Agência de Fomento do Estado do Amazonas, para adensar as atividades produtivas no interior, numa visão empreendedora, não assistencialista, em cadeias produtivas não-predatórias de alimentos, fortalecendo cooperativas e associações, empresas familiares e novos empreendedores para as múltiplas vocações regionais de negócios. Os indicadores da porta de saída, embora luminosos, carecem de atenção, foco e mobilização. É uma ladainha que rezamos sem meditar e que nos resta compreender para fazer funcionar.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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