Em vez de ficar “Esperando Godot” – o texto clássico de Samuel Beckett que ironiza a cegueira e a surdez de quem aguarda as coisas acontecerem por iniciativa de outrem, em vez de tomar as providências que se impõem – a parceria entre academia e economia tem ensaiado algumas proposições de logística inteligente para contribuir com o maior desafio da Zona Franca de Manaus: o pulo do gato da competitividade. Cabe ilustrar, a propósito, o tema de uma pesquisa sobre gargalo logístico do país e da ZFM, executada no âmbito do Programa de Mestrado de Engenharia da Produção da UFAM, pelo professor Bruno Duarte de Oliveira, sob a orientação do professor doutor Augusto César Barreto Rocha, defendida na semana passada. A justificativa foi verificar a viabilidade da utilização dos milhares de contêineres, que saem vazios da cidade de Manaus, para o transporte de soja, um embaraço ilustrado pelos quilômetros de carretas a entupir os portos do Sudeste, comprometendo a competitividade da safra de soja do Centro-oeste brasileiro. O trabalho buscou demonstrar melhorias na eficiência produtiva e portuária com a utilização dos contêineres vazios, improdutivos, de uma cidade que mais importa do que é capaz de exportar. E de uma região caracterizada pela escassez de estabelecimentos produtivos. O trabalho, ademais, descreveu a necessidade de mais pesquisas no setor e a descoberta das vantagens competitivas que eles representam.
Bem sucedida no cerrado, para onde se expandiu com acertos e ajustes da Embrapa, “…no polígono dos solos ácidos, região que compreende: Triângulo Mineiro, em Minas Gerais; Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, sul do Maranhão, sul do Piauí e oeste da Bahia”, a soja figura como o principal produto do agronegócio do Brasil, na expectativa do desenvolvimento de novas tecnologias, cadeias produtivas, infraestrutura, biogenética na perspectiva da agregação de valor à agroindústria, um beneficiamento com promessas múltiplas de benefício ao país. É tímida a aposta na inovação tecnológica e na infraestrutura logística dos transportes, refém do modal rodoviário, precário, oneroso e ambientalmente perverso. Passados mais de um século da intuição empreendedora dos ingleses, que viabilizaram a economia da borracha com o ordenamento logístico adequado, nas hidrovias da Amazônia, ainda dependemos dos caminhões para entregar os grãos que o mundo asiático demanda.
O despertar para a obviedade de inverter o modal e a direção do escoamento agrícola pela lógica hidroviária do Arco Norte – um projeto esboçado no Plano Avança Brasil, depois pelo Brasil Maior, a partir da década de 1990 – deu à Região Norte um papel estratégico a ser explorado a partir de Rondônia, exigindo que se cumpra a obviedade do balizamento e dragagem da Hidrovia do Madeira e outras hidrovias estratégicas da região. Compreender este novo cenário, as diretivas dos custos de transporte de soja na região Norte do Brasil, e sua articulação com desafio de encarar o precário e caro modelo logístico-portuário da Zona Franca de Manaus, a insensatez de seus contêineres vazios, exige estudos, integração de saberes e poderes, que desembarquem na geração de melhorias na eficiência produtiva e portuária. O mérito da pesquisa do professor Bruno foi construir a modelagem de uma viabilidade promissora, que chama a atenção para diversas providências, -todas elas vitais para consolidar a competitividade do modelo – para demonstrar que a integração dos atores locais, seus talentos criativos e proativos são a fonte segura de respostas e certeza das soluções de tantos embaraços. Há outro caminho?
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