Crescem os rumores do esvaziamento do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) sem eira nem beira para atracar sua gestão cotidiana. São rumores ampliados com a crise econômica e de credibilidade que açoita o Brasil. Eis uma razão relevante de mobilização do tecido social no momento em que a Amazônia Ocidental, parcela amazônica onde se insere o modelo Zona Franca de Manaus, também demanda um olhar mais atento de brasilidade à luz de suas necessidades de infraestrutura de comunicação, energia e transporte e, sobretudo, da qualificação de seus recursos humanos. Manter a floresta em pé e dar condições de vida a sua população é o desafio que se cobra da Amazônia. Ninguém, entretanto, preserva um bem natural sem associá-lo a uma base econômica e sem assegurar a qualificação das novas gerações. No caso do Inpa, assim como da Amazônia, além dessas premissas, é preciso uma dose razoável de compromisso, algo que demanda conhecimento e cumplicidade ética e sentimental. Tudo sugere que, à parte as qualidades acadêmicas na medicina veterinária, com ênfase na genética bovina, a atual gestão do Instituto padece dessas qualificações essenciais. Abandonado por seus padrinhos, mais preocupados nas Alterosas em justificar ações injustificáveis e tragédias inaceitáveis, talvez por isso, ele nada faz para evitar a tragédia da falência na instituição.
O pensador amazonense Arthur Reis, um de seus fundadores, assim descreve o papel dessa instituição e sua necessidade na ótica da Amazônia, do país e do planeta: “É preciso dar crédito ilimitado ao Inpa, não se lhe exigindo soluções imediatistas, que não podem ser dadas sem que se comprometa a excelência dos resultados. Pesquisa, convém recordar, não se faz da noite para o dia, requer tempo, cautela, pertinácia, dedicação, entusiasmo, confiança e projeto firme. Sem isso, poderá haver exotismo, sensacionalismo, nunca conclusão técnico-científica.” Passaram-se 63 anos desse alerta, e esta é, hoje, a idade média de seus cientistas, prestes a adotar os pijamas da aposentadoria. Criado em 1952, o Inpa, ao longo dos anos, vem realizando estudos científicos do meio físico e das condições de vida da região amazônica para promover o bem-estar humano e o desenvolvimento socioeconômico regional. Por isso, e por ser referência mundial em Biologia Tropical e Aquática, o Inpa não pode fenecer. Como integrar esse acervo de mais de 6 décadas de investigação, coleções de saberes, espécies e conquistas, no desafio de fazer do genoma disponível e potencial a construção da bioindústria do conhecimento? Eis a questão.
Tanto Charles Darwin, como Alfred Wallace Russel, responsáveis pela Teoria da Evolução, instrumento metodológico para entender o papel da biologia molecular na compreensão e perenização da vida e da juventude, anteviram na floresta tropical a chave dos essenciais dilemas da humanidade. Os primeiros anos do Inpa foram caracterizados – nesse movimento da evolução das espécies – por pesquisas, levantamentos e inventários de fauna e de flora. Hoje, o desafio é expandir de forma sustentável o uso dos recursos naturais da Amazônia, as respostas que o homem precisa para recompor sua relação equilibrada com a natureza e conquistar a necessária harmonia. As origens do Inpa, é importante recordar e cotejar, estão associadas aos escombros da II Guerra Mundial e ao compromisso – que se mantém intacto – de fazer pesquisa a partir da ótica e do interesse de nossa gente. O Inpa é gerado, portanto, dentro de um contexto de esperança, de reconstrução e de vida, numa resposta de brasileiros insignes, de homens da Ciência – que enxergaram o mundo muito além dos livros e do laboratório. E que souberam detectar no conhecimento – na partilha do saber e do crescer – as armas mais adequadas para entender e equacionar os desafios provocados pela insensatez da guerra, do rescaldo da fome, do calvário dos refugiados, dos desequilíbrios ambientais e desigualdades socioeconômicas. Por essas e por outras, pelo despreparo ou desprezo à compreensão do papel da instituição, o Inpa merece maior atenção, melhor sorte e gestão mais competente. Urgente!
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