A palavra grega krísis era usada na medicina pelos médicos antigos com um sentido emblemático. Quando o doente, depois de medicado, entrava em crise, era sinal de que haveria um desfecho: a cura ou a morte. Crise significa, pois, ruptura, separação e superação, por isso sempre está associada à tomada de decisão, definição e crescimento. “Assim, não se deve desperdiçar uma crise, dizem os bons gurus da administração”, elevou o tom do discurso o empresário Jaime Benchimol, um dos agraciados com a honraria do Industrial do Ano, no último dia 22, na festa da indústria, organizada por Cieam/Fieam, as entidades das indústrias da ZFM em crise. Para ele, abrem-se com a crise janelas de oportunidades. À frente de uma organização com 73 anos de crescimento, especialista em superação e profissionalismo, o empresário destacou o papel das adversidades para depurar a improvisação e o amadorismo, a incompatibilidade do verbo empreender com práticas improdutivas e não-criativas. Crise é ajuste ou antevisão permanente das mudanças. Atualização supõe modernidade, interatividade e obstinação, insumos básicos da eficiência que mantém empresas e empregos, com a redução de custos e com administração competitiva. Errar menos nos nossos serviços, inovar mais para nos diferenciarmos e convivermos com mais competição nos mercados em que atuamos.
Em sua fala, o economista Serafim Correa, outro agraciado com a medalha Industrial do Ano, discorreu sobre burocracia, transformada num fim em si mesma para comprometimento danoso da fluidez na economia, uma herança maldita da tradição lusitana, que persiste apenas em três países, Angola, Portugal e Brasil. Ex-prefeito de Manaus, ele reconheceu, por exemplo, a insensatez da legislação copiada do Estado de São Paulo, que obriga as empresas de Manaus a elaboração de um projeto insano que demora dois anos para ser entregue. O poder público devolve, assim, ao seu principal benfeitor o castigo cotidiano e implacável que pune aquele que lhe dá sustento.
O micro-empresário da festa, Jorge Neves, um professor de delícias da panificação e confeitaria portuguesa, uma das mais requintadas do mundo, estarreceu os presentes com algumas revelações. Uma delas é que não conseguiu emprego para dar aulas em sua especialidade, e que precisou correr o país para ministrar os mistérios e fascínios de sua profissão. Outra diz respeito à inexistência de insumos regionais no Estado, com certificação de origem, para produção de seu premiado confeito, o bolo amazônico, que utiliza ingredientes da floresta para a iguaria: cupuaçu, castanha do Brasil, sementes aromáticas do cumaru e puxuri, que compatibilizam sabor e saúde, através de alimentos saudáveis E ainda, revelou que, mesmo com mercado internacional aberto a seus produtos, prêmios e reconhecimento, ganha hoje três vezes menos em comparação ao período em que vendia informalmente seus doces na Feira da Avenida Eduardo Ribeiro. Seu lucro é tomado por elevadas e diversificadas modalidades de imposto. É bem verdade que os órgãos públicos de fomento à pesquisa e desenvolvimento, nominados cada em sua fala, reconheceram e apoiaram seu empreendimento.
Para sair da crise, portanto, além de investigar os caminhos de viabilidade, Benchimol, com autoridade pioneira, sugere as “… vocações como o turismo, a mineração, a piscicultura, as atividades agrícolas já adaptadas ao nosso clima e ecossistema como plantações de pimentas, abacaxi, cupuaçu, mamão, etc além de reconsiderarmos a exploração das nossas riquezas nativas como madeira, castanha, essências, fragrâncias, peixes ornamentais que sustentaram a nossa economia, sem incentivos fiscais, durante décadas”, precisamos depurar, racionalizar e dinamizar a cangalha fiscal e burocrática para diversificação, saúde e retomada da economia para benefício de todos.
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