O ministro Edinho Araújo, da Secretaria dos Portos, autoridade de um setor que ganhou notoriedade na República muito mais pela pressão que o setor logístico portuário tem recebido do que pelos avanços efetivamente consignados, virá a Manaus em seu tour amazônico. Ele, que dirige 34 portos públicos e tem sob sua jurisdição mais de 100 portos privados, se pôs como desafio destravar os gargalos portuários que colocam o país na rabeira da competitividade, tanto pela timidez dos investimentos como pela burocracia sombria que descreve historicamente o setor. Edinho é paulista do interior, professor, tem 10 cargos eletivos e dirigiu a companhia estadual de desenvolvimento agrícola, conhece, certamente, a trajetória da economia cafeeira, e o papel da logística portuária e de transportes na evolução desta economia agrária para o desenvolvimento industrial, científico e tecnológico de seu estado.
Edinho conhece, também, o papel de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, e sua visionária parceria público privada no encaminhamento dos desafios que entravam ou destravam projetos de desenvolvimento e de prosperidade. Reler Antônio José Souto Loureiro, em sua História da Navegação do Amazonas, ajuda a entender a memória de nossa economia e a jogar luzes no planejamento de novas trilhas e matrizes de crescimento. Loureiro relembra a grande sacada inglesa e sua percepção visionária de negócios. Eles souberam atrelar inovação tecnológica à vocação logística natural de nossa malha hidroviária, uma percepção que o Barão percebeu de imediato e, assim como os 200 milhões de libras esterlinas nos estaleiros do Reino Unido puderam rentabilizar – com embarcações adequadas – as boas oportunidades da floresta, frete e passageiros, ele apostou na Companhia de Navegação do Amazonas e dela evoluiu robustos resultados que lhe permitiram alimentar seus projetos de cabotagem, ferrovias, portos e estrutura industrial para fazer evoluir, mais tarde, a economia cafeeira.
As razões pela qual a economia do látex – que respondeu por aproximadamente 45% do Brasil em três décadas na virada do século XX – não desembarcou no mesmo porto de prosperidade perene que os negócios do café construíram em São Paulo, não caberia aqui resgatar. Aliás isso será tema de mais uma unidade do curso Pioneiros e Empreendedores do Brasil que a FEA USP retomará na próxima semana, com a presença do Amazonas no debate com os Pioneiros paulistas. Ao ministro Edinho Araújo importa lembrar que a frota mercantil fez da economia do látex um item destacado, entre tantos, dos investimentos que agregaram 60% de valor ao PIB anglicano na mesma época, por esse intuito visionário de navegação amazônica. Mauá multiplicou sua frota de cabotagem numa rapidez assustadora, com a criação da Companhia de Navegação do Amazonas, de onde sobraram subsídios determinantes na consolidação da economia cafeeira.
Seja bem-vindo, senhor ministro, mergulhe conosco na memória do Brasil amazônico, que seus ancestrais lusitanos – à luz das promessas das riquezas imensuráveis aqui disponíveis – fizeram verde e amarelo. Os portugueses, sob o condão carismático do Marques do Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, o todo-poderoso primeiro-ministro da Coroa lusitana, e de seu irmão, Mendonça Furtado, tentaram construir a gestão nacional a partir do Amazonas, olhando miríades de riquezas nas cercanias da Velha Serpa, pelas evidências estratégicas de navegação e oportunidades que as expedições europeias já haviam anotado. Desde lá, ingleses à parte, o Brasil abandonou a logística portuária e de transportes desta região, por incúria ou despreparo para promover a gestão de si mesmo, de olhar, entender e antecipar a imensidão de sua utopia, a economia de sua prosperidade e transformação.
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