Entrevista com Roberto Tadros, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas – Fecomercio – Parte I
Numa conversa informal, estimulante e instrutiva, no sentido de lições e proposições para o futuro do Amazonas, da região e de nossa gente, Roberto Tadros, presidente da Federação do Comércio, recebeu a Coluna Follow-Up neste 7 de julho. Defensor intransigente de novas matrizes econômicas, porque o estado dispõe de muitas alternativas além do modelo ZFM, o empresário recomenda planejamento, com visão de longo prazo, sem perder de vista o conhecimento da história, da cultura e do jeito singular do caboclo de empreender e de se relacionar com a natureza. Ele aponta algumas premissas deste novo plano: ênfase nos investimentos de infraestrutura, especialmente em logística de transportes, e fundamentalmente atenção na qualificação de recursos humanos, num processo educacional onde tenha espaço o treinamento acadêmico, científico e tecnológico, e o resgate dos valores humanos, da solidariedade e, “principalmente, o culto à brasilidade, o amor, o orgulho e o compromisso com nossa terra”. Para o amazonense Roberto Tadros, a vocação maior da Amazônia é a prosperidade com modernidade. Só assim a integração cultural, econômica, científica, ambiental e tecnológica com o restante do país se dará com naturalidade e colaboração de todos.
Dever de casa
“Temos um dever de casa a cumprir que é conhecer, definir e aproveitar a variedade de oportunidades que a Amazônia representa e só com base econômica teremos condições de conservar este imenso patrimônio natural que o mundo inteiro cobiça”. Há alguns meses, o mundo foi sacudido por uma pesquisa de uma universidade britânica sobre os dentes de uma determinada espécie de moluscos como sendo as fibras mais resistentes depois das aranhas da Amazônia, cujas teias fornecerem a configuração das moléculas para a fabricação de coletes à prova de bala, um comércio rentável nesse mundo de violência que os torna comercialmente destacados. Pesquisas de moluscos na Amazônia são feitas na Reserva do Bio-Tupé, nas cercanias de Manaus, há décadas, sem perspectiva de mercado. Ou de bio-mercado, como o mundo está precisando. Tadros destaca o turismo, o ecoturismo, a pesca esportiva, essa bioindústria promissora dos princípios ativos, base de manufatura dos ingredientes preciosos de permanência da juventude, com a produção de cosméticos e nutracêuticos, fitoterápicos, a partir de oleaginosas e resinas milagrosas da biodiversidade amazônica. “Temos respostas para os grandes desafios da humanidade: alimentos, energia alternativa os segredos da eterna juventude que a humanidade procura. A fonte da vida, não tenho dúvida, mora em nossa floresta”.
Herança portuguesa
Numa verdadeira aula sobre a presença lusitana na Amazônia, onde seus familiares desembarcaram nos meados do século XIX, Roberto Tadros convida-nos a uma reflexão histórica, não apenas para corrigir alguns entraves como a herança burocrática e cartorial, o estigma dos degredados, mas sobretudo para recuperar o olhar atento para as potencialidades regionais e a postura visionária de nossos antepassados. Para ele, é paradoxal constar que todos os portugueses distintos que para cá vieram queriam voltar, e daí a dificuldade de consolidação do sentimento nativista. Entretanto, eles anteviram com muita argúcia o universo infinito de possibilidades que a Amazônia representava, por isso não sossegaram até tomá-la dos espanhóis e tornar brasileira sua soberania. A gestão do Marquês de Pombal na Amazônia é uma demonstração eloquente desta percepção. “A academia nos deve um estudo mais detalhado da visão estratégica, geopolítica e empreendedora do período pombalino na região, pois temos, sim, razões de orgulho, instrumentos, recursos naturais e desafios de enfrentamento para dar vazão à vocação amazônica para a prosperidade e para a modernidade a partir de seu rico acervo natural.
O lirismo e o naturalismo
Mais do que lamentar a herança maldita da burocracia lusitana, “a boa dose de lirismo que se misturou com o naturalismo indígena é um presente e uma trilha a ser perseguida”. Assim como Nova York se desenvolveu, insiste o empresário, como referência cosmopolita no norte do Continente, em linha direta com Londres, como capital do Império Britânico, aquinhoada de saber, munição e ambição, a Coroa Portuguesa viu na Amazônia, a partir de sua metrópole Lisboa, a transformação da Capitania do Grão-Pará e Maranhão, que Belém resumia, o poderio da matriz, o ensaio do projeto expansionista a partir da América. Pombal detalhou e antecipou o projeto de uma Amazônia a um tempo extrativista e agrícola, com avançadas tecnologias de agronegócio para sua época. “Por que não recompor essas lições e recuperar áreas degradadas, ou de várzea, para culturas de potencial valor agregado a partir dos estudos exaustivos nas prateleiras do Instituto Emilio Goeldi e do Inpa, ali estão as chaves para abrir muitos cofres de oportunidades”.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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