Líder empresarial regional reconhecido nacionalmente, ora ocupando a vice-presidência da Confederação Nacional da Indústria, Antonio Carlos da Silva, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, e membro do Conselho Administrativo do Grupo Simões, circula entre os alunos do Barco-Escola do Senai-Sesi, Sumaúma I e II, com a mesma desenvoltura e espontaneidade com que discute os destinos da Zona Franca de Manaus com o ministro do Desenvolvimento, seu companheiro de indústria, o empresário Armando Monteiro. Simplicidade, clareza de propósitos e carisma na arte de mobilizar pessoas em torno de objetivos e projetos mobilizadores, Antonio reconhece os momentos difíceis da economia e do modelo ZFM, razão pela qual convida a todos para a luta sem ingenuidade e com obstinação, “em nome da superação e da esperança”. Confira.
Follow-Up – Os indicadores do IBGE sobre o desempenho da indústria do país mostram o Amazonas nas últimas colocações da produção industrial. A que o senhor atribui isso?
Antonio Carlos da Silva – Os tempos estão difíceis, não apenas para o Amazonas. A indústria da Zona Franca atende preferencialmente o mercado interno, com produtos de qualidade e com preço competitivo. Portanto, qualquer abalo na economia do país abala o parque industrial local. Atualmente a indústria brasileira aproxima-se dos patamares do pós-guerra na construção do PIB. Estamos com uma participação abaixo de 12% e isso também se reflete na indústria da Amazônia, é por isso que a ZFM precisa estar atenta e integrar-se ao país, razão pela qual, é importante reunir a força parlamentar regional. Sozinhos, com uma bancada restrita, fica mais difícil.
FUp – Qual o atrativo para outros estados de juntar a bancada regional além da defesa da ZFM?
AS – Há três anos a Suframa não faz convênios com os municípios da Amazônia Ocidental e Macapá-Santana, onde está sua atribuição constitucional. Faltam recursos para viabilizar portos, aeroportos, agroindústria, estradas vicinais, pequenas centrais elétricas etc. E também faltam recursos para aplicação em P&D para as instituições e projetos de perfil público-privado, como havia anteriormente. A Universidade do Acre, por exemplo, foi construída com essa verba. E agora os recursos são confiscados e usados para outras prioridades federais. Por isso temos que juntar os governadores e parlamentares, como ficou combinado na primeira reunião do ano com as entidades do setor produtivo e o governador José Melo. No âmbito da indústria da Amazônia Legal, já existe essa união, pois recentemente tivemos uma reunião das Federações das Indústrias dos nove estados, que compõem o Pró-Amazônia, com o Ministro do MDIC, Senador Armando Monteiro, a fim de fazermos reivindicações importantes para dinamizar a indústria. Temos que reiterar essa união, na próxima reunião do CAS, o Conselho de Administração da Suframa, onde outrora os problemas do modelo e da região eram debatidos.
FUP – Há 7 meses o CAS não se reúne. Isso dá a medida do esvaziamento da Suframa?
AS – Estive com o ministro do Desenvolvimento, o companheiro Armando Monteiro, no início do mês, e expus essa situação da Suframa, das verbas contingenciadas, algo em torno de R$ 3 bilhões nos últimos anos e o fim dos convênios com os municípios do interior, no âmbito da Autarquia. Obtive dele o compromisso de presidir ainda este mês a reunião do CAS e assegurar sua presença no cronograma anual do Conselho. É preciso trazer para o CAS a discussão e decisão sobre as questões da ZFM e da região.
FUP – Como vice-presidente da CNI, a entidade nacional da indústria, qual o papel dessa articulação com as entidades para a ZFM?
AS – É muito forte e organizada a presença da CNI junto aos órgãos de poder. Foi decisiva essa articulação para mostrar aos demais estados que a economia da ZFM não é uma ameaça e sim uma parceria para a geração de oportunidades em todo o território nacional. Nossa aproximação com a FIESP, historicamente refratária a um entendimento, hoje é de parceria construtiva. Basta ver os reflexos no apoio dado à prorrogação dos incentivos da ZFM. Eles compreenderam que há um polo de indústrias de componentes em São Paulo para atender nossa demanda de insumos. E tudo isso é fruto de uma boa vizinhança que a CNI permite e incentiva.
FUP – E o trabalho das entidades do Sistema S, cujo alcance às vezes remete a políticas públicas de educação e cidadania. O sistema tem essa pretensão?
AS – Trabalhar por Educação e Cidadania é dever de todos, é um pacto de toda a sociedade. Hoje a FIEAM e as entidades a ela associadas estão presentes como protagonistas do Pacto pela Educação. E isso não é público nem privado. É um grande acordo para promover o Amazonas e sua integração com o país. A FIEAM tem essa visão mais ampla de olhar a sociedade como um todo, cobrar do poder público e da classe política a tarefa de cada um com a consciência do dever cumprido, de fazermos nossa parte.
FUP – E nesse Pacto mais amplo, o que vale a pena destacar?
AS – Tive uma experiência muito emblemática com a formatura da primeira turma do Barco Samaúma II, no último dia 3 de março. Ver e sentir o orgulho, a alegria daqueles jovens e de suas famílias, os primeiros alunos formados no novo Barco-Escola do SENAI, no longínquo município de Tefé, no rio Solimões, foi muito gratificante. Depois de quase três meses de cursos em várias modalidades, 756 alunos receberam o certificado de conclusão. Foram 22 cursos oferecidos na nova embarcação-escola. Isso nos leva a uma reflexão sobre o sentido do trabalho na vida das pessoas. O sentido da superação e da esperança na vida daqueles jovens e de quem acredita no Amazonas e no Brasil. Isso deve nos tocar, aproximar nossos compromissos, partilhar esforços e talentos. Neste momento difícil que o país atravessa, vamos debater e exigir a participação da indústria nas decisões com espírito construtivo. Não podemos, porém, perder a esperança, pois temos um país rico, um estado abençoado que nos convida a trabalhar. Naquele dia, há 35 anos, no mesmo município de Tefé, era inaugurado o Samaúma I, e desde lá, foram qualificados 52 mil alunos pelo Barco-Escola.
FUp – É esse o espírito visionário que permeia o Instituto SENAI de Inovação – ISI?
AS – Como avançar na consolidação e interiorização do modelo sem investir em inovação? Esta é a raiz e o ponto de partida do ISI – Microeletrônica. Temos uma luta descomunal para conquistar a competitividade. Dela dependerá nossa sobrevivência. Para isso, temos que equacionar os gargalos de transportes, comunicação e energia, um custo elevado para as empresas. Entretanto o investimento em recursos humanos é o mais prioritário, pois sem educação não iremos a lugar algum. Nossos jovens precisam pensar com inovação e criatividade. Assim as empresas terão massa crítica, gente qualificada, talentos desenvolvidos para agregar valor. Educação é o único caminho para virar esse jogo, melhorar o padrão de tantos jovens, carentes de oportunidades. Foi com esses propósitos que surgiu o ISI, uma decisão determinada a atender às demandas locais de inovação, nosso gargalo tecnológico. Vamos atrás da competitividade apostando na infraestrutura e qualificação de recursos humanos. Fomos atrás do modelo alemão que articula as demandas das empresas, o perfil dos projetos e a necessidade de inovação, à vista do mercado. Com esse formato, produtos e empresas foram criados com base na inovação. O ISI dará ênfase à Microeletrônica, com sensores capazes de identificar bionegócios na biodiversidade amazônica. Faremos um GranPrix de inovação em abril com distribuição de prêmios para os melhores projetos. É a indústria, fazendo sua parte.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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