Os gregos e os latinos, entre outros benefícios que nos legaram para compreensão da hora presente, nos deixaram a etimologia para as incursões curiosas no sentido dos termos utilizados distraidamente no cotidiano. Um deles se reporta à política, a respeito da qual os habitantes do mundo helênico deixaram um significado bem explícito: um conjunto de normas e recomendações éticas que deve nortear o ordenamento da vida social, na polis, o lugar das relações entre as pessoas e seus interesses. Provavelmente está nesse sentido o arrazoado ético que deu base a seu retumbante e recente calote. Política e pecúnia, nesse contexto, andam sempre juntas, onde aquela aponta caminhos e esta sua viabilidade material. Pecúnia, que significa originalmente rebanho, embora se traduza, hoje, como recurso financeiro, tem origem nas raízes monetárias da história, onde endinheirado era o cidadão que tinha um alentado rebanho. Provavelmente por isso, algumas distorções da compreensão política tenham enveredado pelo autoritarismo que apareceu em momentos obscuros da História. Hoje, entretanto, a relação de interdependência entre política e pecúnia nos oferece chaves de compreensão dos desvios e sugestão de caminhos da vida social. Serve, sobretudo, para entender o momento difícil que atravessamos e as alternativas possíveis de superação dessas adversidades. Política, portanto, segue como instrumento de ordenamento da vida social, embora, no sentido distorcido da mobilização de grupos em favor de propósitos obscuros, ande entupindo diariamente a pauta das manchetes jurídicas/policiais para ilustrar a distorção. Política e pecúnia, pois, apesar dos tropeços, são oportunas ferramentas de tradução do esvaziamento do modelo ZFM. Vamos verificar porque.
Boa notícia
Neste espaço, com muita frequência, pontuamos as razões que explicam a desarticulação nociva entre o setor produtivo e a bancada federal, tendo em vista os embaraços vividos pela Zona Franca de Manaus nos últimos anos. Os descaminhos desse jeito travesso de exercer a política transformou a ZFM em exportadora singular de pecúnia, de mais da metade da riqueza aqui produzida que deveria ser a base material de sua consolidação, e crescente emancipação da renúncia fiscal que lhe dá suporte e viabilidade funcional. Sem recursos e sem política, onde a bancada federal ficou uma legislatura sem maiores vinculações com os dilemas e gargalos locais, à exceção do debate da Reforma Fiscal e da Prorrogação, o modelo foi-se esvaziando por falta de uma mobilização política mais ampla da representação de todos os seus atores da Amazônia Ocidental e por conta do confisco da pecúnia que fazia o ele dessa confraria política de interação e luta. Por isso, é com muita satisfação que registramos a notícia de que o Amazonas volta a ter coordenação política e sua representação parlamentar federal passou a atuar em conjunto com a bancada regional. Senadores perfilados para enfrentar qualquer gargalo institucional depois de equacionar o imbróglio institucional do CBA é razão para acreditar que tudo começa a ganhar nova configuração.
Protagonismo decisivo
O Amazonas atravessa sérios entraves em sua base econômica, e a Zona Franca de Manaus se esvazia por obra e graça do descaso político federal. Por isso, ganha realce essa mobilização política que passa a ser motivo de alento e renovação de esforços. Esta iniciativa credencia o protagonismo do Amazonas na mobilização da bancada da Amazônia Ocidental para a defesa da Suframa, o resgate de sua autonomia e a validação do marco regulatório recém prorrogado. Organizada e em bloco, mais facilmente a bancada federal poderá interagir com os atores locais e entender o alcance de seu papel no zelo e guarda do modelo ZFM, onde se instala a base de sustentação da sociedade que está sendo representada. E é esta base que foi corroída pelo descaso federal, tanto no confisco de seus recursos como no esvaziamento de suas prerrogativas constitucionais. E somente na interlocução com seus representantes, tanto os trabalhadores como os investidores, será possível criar conjuntamente uma Agenda de enfrentamento das questões vitais do modelo ZFM. Os assuntos estão postos à mesa, com a redução preocupante da produção industrial, a perda de 30 mil empregos nos últimos seis meses, a perspectiva sombria do crescimento negativo da atividade econômica, somada a uma greve que se arrasta por mais de 40 dias.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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