Saiu no Diário Oficial a nomeação do novo diretor do Inpa, Luís Renato França, escolhido por seu colega da Universidade Federal de Minas Gerais, o ex-reitor daquela instituição, Clelio Diniz, e agora atual ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação. França é veterinário de formação. Do ponto de vista acadêmico, ele tem respeitabilidade e robustez científica, mas sua indicação para a direção do INpa é mais uma demonstração de desrespeito e desacato dos burocratas federais aos interesses legítimos da pesquisa, inovação e de participação da comunidade local na definição dos rumos e atores da relação entre pesquisa e cidadania. Deixando claro que repudiamos a xenofobia, especialmente nesta instituição sexagenária, lembramos que ela foi construída e integrada historicamente por atores de diversas procedências e proficiências globais. Repudiamos, também, o compadrio, a postura imediatista do favorecimento que prioriza o particular em detrimento do interesse geral. O desrespeito da escolha se ilustra por reforçar outras imposições e desacatos cada vez mais freqüentes no trato com os embaraços da pesquisa e do desenvolvimento regional.
O Inpa, neste momento, não está precisando do perfil veterinário com especializações acadêmicas diferenciadas para dar seqüência a seus desafios. Muito menos de indicações impostas a revelia da aspiração da comunidade no sentido mais amplo, A instituição dispõe de um time acadêmico de primeira linha no conhecimento do bioma amazônico, das necessidade de pesquisa, e de sua integração com as demandas de interiorização e regionalização do saber e seus benefícios. O gesto confirma o esvaziamento crescente das atenções federais e redução dos recursos necessários à manutenção e ampliação do trabalho aqui realizado e a realizar. A reclamação é geral, e inclui desvio de recursos para programas de biotecnologia das universidades locais para pesquisas de agronegócio sem consulta ao órgão responsável pela distribuição. O CAPDA, o conselho que delibera programas prioritários não se reúne há mais de um ano. O novo reitor do Inpa jamais pôs os pés por aqui, a não ser quando veio figurar como candidato a dirigir a instituição. Não escreveu nada de monta sobre a Amazônia nem produziu qualquer atitude que demonstrasse afinidade, acolhimento ou proposição de defesa de sua integração à brasilidade. Qual é sua visão de futuro para o INPA? Como antever sem vivenciar? Foi eloqüente o posicionamento da presidente do Comitê de Busca, responsável pelas consultas, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader. “É importante ouvir vocês que são o dia a dia da instituição, o que esperam de um diretor, a expectativa de atuação para um novo diretor”. Nada contra a figura do pesquisador Luiz Renato. Por uma questão de decência, porém, ele deveria se recusar a integrar o script dessa desconsideração.
Há dois anos, Inpa e Suframa tiveram a atitude mais sensata que o poder central poderia assumir na comunhão de propósitos e compromissos de seus representantes na gestão da Amazônia. Leram seus objetivos institucionais e escolheram partilhar recursos, talentos e energias para adensar o modelo ZFM e promover a regionalização de sua economia e distribuição de benefícios. Dai saiu a proposição de programas e projetos para identificar a prospecção e produção de insumos regionais para adensamento da indústria instalada na capital. Fibras, resinas, alimentos, capacitação de recursos humanos entre outras iniciativas de mobilização dos recursos pagos pelas indústrias, freqüentemente dissipados pela desarticulação gerencial da União no trato de seus interesse e compromissos regionais. Os desafios passam por aí ou dai emanam na perspectiva de atender o interesse geral. Isso exige conhecimento, sensibilidade e cumplicidade de quem aqui trabalha ou aqui chegou para aprender, vivenciar, sem compadrio, mas com transparência, disponibilidade e comunhão em nome das pessoas que aqui vivem, com índices africanos de desenvolvimento humano e enganos de promessas de transformação. Até quando?
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