Em visita a Manaus, neste fim de semana de debate global das Mudanças Climáticas, a acriana Marina Silva jogou uma luz na direção das populações esquecidas da Amazônia, ausente do debate eleitoral. Para quem já foi lavadeira no Igarapé do 40, a candidata fala de cátedra ao relacionar tecido social, meio ambiente e economia. Políticas de meio ambiente e de desenvolvimento agitaram século XX e foram abandonadas pelo século XXI, com as seguidas crises da economia e radicalização dos conflitos na Ásia. Marina, tudo indica, se mantem leal ao projeto Brasil de Eduardo Campos, com quem compatibilizou suas convicções. Sua aproximação com o agronegócio, defendendo que o setor seja mais produtivo e tenha certificação ambiental – como exige, a cada dia, o mercado internacional – mostra que é possível desenvolver a Amazônia integrando todos os segmentos produtivos. Não é preciso, pois, abrir mão do agronegócio para ter agricultura familiar, como não faz sentido abrir mão da indústria para ter extrativismo.
A propósito da recuperação da BR319, ela apontou para a demonstração esquecida por todos: a viabilidade econômica, social e ambiental do empreendimento. O projeto de Estrada Parque de 2009, do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental, feito por destacados pesquisadores locais, projeta conservação de 95% da cobertura vegetal, a viabilidade socioambiental da rodovia. O espalhafato que a rodovia causará um prejuízo de R$ 2,2 bilhões nos próximos 25 anos, “por seus prejuízos ambientais”, é de jovens ambientalistas da Califórnia, da Ong americana Conservation Strategy Fund, onde figuram artistas de Hollywood, professores, surfistas e biólogos da fauna marítima do Pacífico. Nenhum deles jamais pôs os pés aqui. Eles levaram em conta “pesquisadores” da Conservation Leadership Programme (CLP) da WCS Brasil (Wildlife Conservation Society, e seus relatórios apressados sobre espécies em extinção que habitam “exclusivamente” a área da rodovia: a subespécie Saguinus fuscicollis mura, o popular macaco de cheiro, e uma subespécie de gralha, de Humaitá – não deu tempo de batizar a espécie – que “corre sério risco de ser dizimada pelos projetos agropecuários previstos”. O argumento é semelhante ao do “ciclo fértil do morcego pescador, que supostamente habita o Rio Nego nas cercanias de Manaus”, invocado por um procurador federal, encarregado de impedir a modernização portuária do polo industrial. Este encargo foi assumido por outros atores, súbitos ambientalistas, que jamais levantaram a questão da ocupação predatória da orla de Manaus ou do lixo despejado pelas obras do Prosamin naquela área urbana. A modernização portuária, demonizada, deveria ser tratada como ameaça ao interesse da população.
A viabilidade econômica da rodovia precisa considerar custo, valor e preço médio do transporte rodoviário, cabotagem, e rodo-fluvial. Nos cálculos do modal rodoviário, com a BR-319 recuperada, haveria uma redução de 20% no mínimo em relação ao modal rodo-fluvial. O tempo médio São Paulo/Porto Velho/Manaus, utilizando a BR-319 recuperada seria de 5 dias, sendo 4 dias até Porto Velho. Um dia é para concluir o desembaraço nos órgãos de fiscalização e controle. O frete mais barato, e ambientalmente recomendável, é a cabotagem que apresenta ineficiência operacional pela falta de dragagem e balizamento das hidrovias, custos e precariedade operacional dos portos e a maldita burocracia. Nem sempre menor custo é menor preço, tempo é dinheiro, estoque custa caro e disponibilidade de produtos é fator essencial para definir valor. E o valor maior deve sair do debate transparente e proativo entre ambiente, economia e cidadania, os critérios basilares de definição final, o resto remete a figuração, tráfico de influência e má-fé.
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