“Se Lucas Di Grassi quiser discutir seriamente soluções industriais e logísticas, será bem-vindo. Mas que venha munido de dados, e não de adjetivos vazios. Porque na Amazônia, a realidade não tem glamour — mas tem dignidade.”
Chamar o Polo Industrial de Manaus de “câncer do Brasil” é um erro que escancara a arrogância sudestina e o preconceito com o Brasil profundo — aquele que não acaba em Minas Gerais.
O piloto Lucas Di Grassi, depois de algumas tentativas frustradas de virar campeão da Fórmula 1, resolveu se reinventar como fabricante de bicicletas. E, em busca de alguma relevância midiática para seus empreendimentos, mirou seu ressentimento contra a Zona Franca de Manaus. Usando suas redes sociais como tribuna, não se limitou a criticar — atacou com virulência e ignorância, chamando a indústria de bicicletas do Polo Industrial de Manaus de “câncer do Brasil”.
Câncer? Pois vejamos.
A Zona Franca de Manaus garante 600 mil empregos diretos e indiretos na região Norte. Responde por cerca de 30% do PIB da Amazônia Legal. É responsável por salários que estão entre os quatro mais bem pagos da indústria nacional e figura como o oitavo maior contribuinte federal do país. Isso sem receber um único real do Tesouro Nacional — é uma política de renúncia fiscal federal com comprovada contrapartida regional, social e ambiental.

O verdadeiro escândalo seria abrir mão desse modelo.
A Zona Franca financia integralmente a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a única instituição pública multi campi a estar presente em todos os 62 municípios do estado. Gera inovação. Gera ciência. Gera valor. Gera floresta em pé — mais de 95% da cobertura vegetal original do Amazonas está preservada, graças ao equilíbrio entre produção e conservação que o Polo possibilita.
E é bom que se diga: a Zona Franca emite nota fiscal, é auditável, é pública. Diferente da economia da ilegalidade — essa sim, verdadeira metástase amazônica — sustentada por grilagem, desmatamento, contrabando, tráfico e lavagem de dinheiro. Contra isso, Lucas Di Grassi não manifestou incômodo algum.
O problema não é a bicicleta. É a ignorância sobre o território.
Lucas não conhece os paradoxos nem as conquistas de um Brasil amazônico que enfrenta desafios logísticos, climáticos, sociais e institucionais como nenhum outro. E que mesmo assim resiste, propõe, inova, pesquisa e entrega. Talvez o piloto nunca tenha pisado em uma comunidade ribeirinha, nunca tenha olhado nos olhos de um trabalhador que sustenta a floresta fabricando componentes eletrônicos. Não sabe o que é depender de avião – em último caso, até para dar entrada num hospital ou de uma canoa para acompanhar um filho à escola.
O Brasil que Lucas Di Grassi quer apagar do mapa é o Brasil que mais contribui para o equilíbrio climático do planeta.
Chamar esse projeto de “câncer” é mais do que uma ofensa. É o sintoma de uma mentalidade que se recusa a enxergar a Amazônia como parte essencial do país. Uma mentalidade que perpetua o extrativismo do conhecimento, da energia e da atenção, sempre centralizada no eixo Sul-Sudeste.
Aqui no Brasil Amazônia Agora, temos insistido: a floresta em pé precisa ser competitiva. Precisa ter futuro, salário, indústria, pesquisa e tecnologia. E a Zona Franca de Manaus é, até hoje, o único modelo concreto que conseguiu garantir tudo isso.
Se Lucas quiser discutir seriamente soluções industriais e logísticas, será bem-vindo. Mas que venha munido de dados, e não de adjetivos vazios. Porque na Amazônia, a realidade não tem glamour — mas tem dignidade.
⸻