Um novo estudo compilado no “Atlas do Agrotóxico” lança luz sobre a extensiva utilização de pesticidas na agricultura global e seus efeitos nocivos à saúde, com um foco detalhado no sistema alimentar brasileiro. O relatório revela que mais de 3 mil agrotóxicos estão registrados para uso no Brasil, dos quais quase metade são classificados como altamente perigosos.
Este uso intensivo de agrotóxicos no país não parece diminuir, duplicando entre 2010 e 2021, apesar dos riscos à saúde. Segundo o documento, o Brasil é criticado pela sua falta de regulamentação eficaz em comparação com padrões internacionais, como os da União Europeia (UE), que tem implementado medidas rigorosas para limitar o uso de pesticidas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define os Limites Máximos de Resíduos (LMR) para alimentos no Brasil. No entanto, estes limites são significativamente mais altos do que os estabelecidos pela UE, resultando em alimentos no mercado brasileiro que frequentemente contêm níveis de resíduos de duas a três vezes superiores, e em alguns casos, centenas de vezes acima dos limites europeus.
Uma análise de 2019 realizada pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa indicou que 23% das amostras de alimentos no Brasil excediam os limites legais de agrotóxicos.
Entre os mais contaminados estão itens básicos da dieta brasileira, como arroz, alho, laranja, uva, beterraba, manga, abacaxi, chuchu e batata doce. O pimentão lidera a lista de alimentos mais contaminados, seguido por goiaba, cenoura, tomate e alface.
O “Atlas do Agrotóxico” também destaca as implicações globais do uso excessivo de agrotóxicos no Brasil, considerando que o país é um importante exportador de matéria-prima para outras nações, inclusive europeias. Esta situação coloca em risco não apenas a saúde dos consumidores brasileiros, mas também a segurança alimentar mundial, evidenciando a necessidade urgente de reavaliar e fortalecer as regulamentações sobre o uso de agrotóxicos.
Uso intensivo de glifosato no Brasil: riscos à saúde e impactos ambientais
O glifosato, um dos herbicidas mais utilizados no mundo, ocupa uma posição significativa na agricultura brasileira, especialmente no cultivo de soja transgênica. Esta prática tem levado a um aumento substancial na aplicação dessa substância química, conforme revelado por estudos recentes, incluindo o “Atlas do Agrotóxico”.
O uso do glifosato é estratégico para controlar ervas daninhas, permitindo que os agricultores cultivem soja resistente a esse herbicida. No entanto, o “Atlas” destaca as graves implicações dessa dependência química. Além de ser classificado como potencialmente cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o glifosato tem sido associado a desregulações hormonais e casos de intoxicação em humanos.
Os impactos ambientais são igualmente alarmantes. O glifosato representa uma ameaça significativa à biodiversidade, afetando negativamente espécies polinizadoras vitais, como as abelhas, e outros animais importantes para a saúde do solo, como as minhocas. Essas consequências sublinham a urgência de reavaliar o uso generalizado de agrotóxicos na agricultura brasileira
Adicionalmente, o relatório aponta para uma preocupação crescente com a contaminação da água potável. As análises detectaram que a presença de resíduos de glifosato na água no Brasil é até 5 mil vezes maior do que os níveis encontrados na União Europeia, uma discrepância que chama atenção para a necessidade de políticas mais rigorosas de monitoramento e controle de agrotóxicos.
Esses dados expõem a complexidade dos desafios enfrentados pelo Brasil em equilibrar as demandas da produção agrícola com a proteção da saúde pública e do meio ambiente. A discussão sobre alternativas mais seguras e sustentáveis para o manejo de pragas e ervas daninhas parece ser não apenas necessária, mas urgente, à luz das evidências apresentadas pelo “Atlas do Agrotóxico”.
*Com informações GIZ MODO
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