Do esplendor ao abandono: memória e futuro em disputa no coração de Manaus – parte lll

“Precisamos entender por que chegamos até aqui e quais as lições que não podem ser perdidas nesse momento de virada. Não se trata apenas de urbanismo ou segurança pública, mas de reconstruir a identidade que pulsa no coração de Manaus. Precisamos planejar, pactuar, fiscalizar e acreditar. Precisamos reunir quem está disposto a fazer diferente — do gestor municipal ao padre da Arquidiocese, da universidade ao comerciante, do servidor público ao artista de rua”

A Ilusão do Esquecimento e os Riscos da Amnésia Induzida

Por muito tempo, Manaus tem naturalizado o abandono da sua origem. A Praça dos Remédios, antes berço da civilidade urbana, do saber jurídico e da convivência plural, foi sendo empurrada para fora do mapa mental da cidade. Uma amnésia induzida tomou conta da gestão pública, da mídia, da elite econômica. Como se esconder o problema fosse solução. Como se o Centro pudesse ser esquecido sem consequências.

Mas não há futuro possível quando se apaga o passado. As ruínas da antiga Faculdade de Direito não são apenas muros rachados — são cicatrizes de um projeto interrompido. Os moradores de rua, os dependentes químicos, os excluídos que ali vivem não são um “problema social”, mas um espelho incômodo de uma cidade que abandonou suas raízes e seu povo.

no coração de manaus
A cena é triste do abandono

Sem Plano, Não Há Pacto. Sem Pacto, Não Há Caminho

Há que promover a mobilização e a retomada do Centro exige mais que boas intenções. Precisa de um plano claro, com etapas, cronograma, responsabilidades e transparência. Um gesto inédito de coragem administrativa seria a Prefeitura apresentar esse plano à sociedade, em audiência pública, com metas de curto, médio e longo prazo.

Precisamos entender por que chegamos até aqui e quais as lições que não podem ser perdidas nesse momento de virada. Não se trata apenas de urbanismo ou segurança pública, mas de reconstruir a identidade de Manaus. Precisamos planejar, pactuar, fiscalizar e acreditar. Precisamos reunir quem está disposto a fazer diferente — do gestor municipal ao padre da Arquidiocese, da universidade ao comerciante, do servidor público ao artista de rua.

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O Início de um Novo Ciclo?

O que se vislumbra agora pode representar uma inovação de gestão e uma conquista coletiva. Sinais foram dados. Mas será preciso manter o pulso firme, a escuta ativa e a mobilização social. Não basta um mutirão pontual, nem promessas vagas. É hora de institucionalizar o cuidado, garantir recursos, acolher a memória e garantir que o futuro não seja apenas um desdobramento do descaso presente.

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A Cidade como Projeto de Memória Viva

Recuperar a Praça dos Remédios é mais do que resolver um problema urbano. É reencontrar nossa origem, nossa dignidade e nosso projeto de cidade. Como disse Samuel Benchimol à sombra da jaqueira, “identidade é destino”. E o destino de Manaus será tão grande quanto sua capacidade de lembrar, acolher e reconstruir a si mesma.

Belmiro Vianez Filho
Belmiro Vianez Filho
Empresário do comércio, ex-presidente da ACA e colunista do portal BrasilAmazôniaAgora e Jornal do Commercio.

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