Entrevista com Antônio Azevedo
Integrante de uma estirpe de empreendedores obstinados no Amazonas, primogênito do saudoso empresário da indústria e do varejo José Azevedo, o presidente do Codese (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Sustentável e Estratégico de Manaus), Antônio Azevedo, já disse a que veio ao aceitar presidir uma entidade que pensa o futuro com a mudança nos paradigmas do presente. Em menos de 24 meses, sob sua condução entusiasmada, Azevedo já identifica milhares de jovens de idade e de espírito em Manaus que já começam a se revelar sensíveis à necessidade de pensar e agir na construção da própria História a partir do conhecimento dos problemas e desafios de uma cidade em que estamos para planejar e tornar viável a Manaus que queremos. Esta foi a pauta da entrevista com Antônio Azevedo, confira!
Follow Up: Há quase dois anos, você anunciava algumas medidas que começam a tomar corpo, visibilidade e, sobretudo, credibilidade do Codese, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Sustentável e Estratégico de Manaus. Qual o balanço que você faz dessa iniciativa cívica e em movimento?
Antônio Azevedo: Ao longo desses dois anos, o resultado de todo esse trabalho foi altamente positivo, construtivo e com resultados efetivos. O primeiro foi criar uma instituição, uma entidade a partir do nada, que não era sequer cogitada há dois anos. E hoje o Codese faz parte do ecossistema de entidades da região com protagonismo, muito voluntarismo em suas ações e conquistas interessante sendo levadas a efeito. O cidadão das ruas, empresas e fábricas, o pesquisador e o estudante do ensino médio e graduação já veem o Codese ganhando importância a cada mês, interagindo com outras instituições e fazendo frente ao poder público, enfim, buscando ser – realmente – uma voz ativa que forma coro com todas as entidades. E o nosso grande desafio é que tenhamos e sejamos um único interlocutor da sociedade civil organizada com o poder público, que nós tenhamos essa capacidade de concatenar todas as ideias de uma forma prática, propor medidas de longo prazo que possam ter continuidade, principalmente, porque algumas ações demandam tempo que transpassam o mandato dos governos. Em outras palavras, a meta é integrar o Codese no protagonismo civil frente ao poder público para construir saídas para os problemas da sociedade. Então, determinados anseios do cidadão precisam de maior tempo, às vezes dois ou três governos seguidos e trabalhando no mesmo direcionamento. Este é o maior desafio do Codese, unir toda a sociedade organizada para realmente ter mais importância e que o poder público considere passe a entender o sentido e a consistência dessa interlocução, como um meio auxiliar para garantir que boas iniciativas, boas propostas sejam acatadas pelos governos e que possam ter continuidade em governos seguintes.
FUP: As duas Feiras do Polo Digital de Manaus surpreenderam positivamente até os mais pessimistas, sobretudo porque elas foram vitalizadas com a presença voluntária de muitos jovens. Qual é o passo seguinte de tudo aquilo que todos viram e se entusiasmaram?
A.A.: As duas feiras do Polo Digital de Manaus superaram realmente a expectativa, e foram um passo na direção da criação, da estruturação, do ecossistema de uma matriz econômica de inovação da região. Nós temos muitas Indústrias aqui no nosso Polo Industrial e o Polo Digital, que já existe e estava disperso, eclodiram nas duas Feiras que tinham o grande propósito de unir todo esse ecossistema de forma que todos pudessem conhecer o que cada agente, cada elemento desse ecossistema está fazendo, muitas vezes determinados institutos estavam desenvolvendo determinadas pesquisas, desenvolvendo determinadas soluções, outros no mesmo direcionamento, mas não havia um alinhamento e a partir de cada Fera todos passam a se conhecer, não só os Institutos mas também a própria Academia que produz conhecimento, e que tem que pesquisar e que tem recursos de P&D. Ou seja, nós fomos enxergando um horizonte, um futuro muito promissor, a indústria pode ser um grande cliente dessa matriz econômica, estamos agora junto com a Suframa e com a Academia lançando o curso de Pós- graduação na Indústria 4.0 que visa formar mão-de-obra qualificada para os novos tempos. Esta, portanto, é uma matriz econômica que vai depender fundamentalmente de nós construímos políticas públicas para gerar mão-de-obra de qualidade, que tem um nível salarial 3 vezes maior do que na indústria convencional, pois é uma mão-de-obra que tem que desenvolver soluções tecnológicas para a indústria. Por isso, o grande desafio dessas Feira é unir toda essa juventude e sensibilizar para que eles enxerguem na tecnologia uma oportunidade de construir uma carreira e deixar de lado o caminho tradicional e antigo que está sendo substituído. Nada contra os advogados, os médicos, dentistas. Os jovens, agora, passam a ter alternativas para focar naquelas que representam os caminhos da mudança, e que vão agregar conhecimento para nossa região.
FUP: O Polo Digital é muito próximo do Polo de Biotecnologia e na floresta amazônica estão as grandes saídas de que Manaus precisamos para diversificar, adensar e interiorizar o desenvolvimento. Como isto está sendo pensado pelo Codese?
A.A. – O polo digital realmente é transversal a todas as matrizes que o Codese está propondo, que são matrizes econômicas vocacionadas para a região, uma delas é a biotecnologia da floresta, a biotecnologia amazônica que explora os recursos naturais da nossa floresta, agregando valor a ela, e como fazer isso é o grande desafio que nós temos, nós não temos dentro do Codese a solução para isso, a solução está com a sociedade, com a academia. Para perseguir esta meta já fizemos seis encontros na Suframa reunindo todos os atores desse ecossistema, inclusive até o próprio CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, para poder interagir e criar uma agenda positiva. A Seplan tem um projeto muito interessante da Biopolis, uma cidade de Biotecnologia que precisa ser compartilhado, e nessas reuniões nós compartilhamos esse conhecimento e as iniciativas pois temos boas iniciativas e muitos projetos interessantes. Infelizmente, muitos deles ainda estão engavetados na expectativa de serem colocados em prática por determinada instituição sem o apoio de todo ecossistema. Eis porque nessas reuniões – que estamos chamando “reuniões do ecossistema de inovação” – temos esse objetivo de desenvolver isso através da troca de experiencia e o apoio dessas iniciativas. Essa mobilização é feita mensalmente na Suframa, inclusive surgiram frentes parlamentares, tanto municipais quanto estaduais em que o Codese faz parte para exatamente apoiar na questão legislativa e na melhoria da ambiência de negócios tirando os entraves burocráticos e legais que essa atividade normalmente sofre.
FUP: Estamos, tanto no universo digital como na inovação da nanobiotecnologia, na ante-sala de uma iminente Revolução Tecnológica? Quais os requisitos de precisamos para fazer tudo isso acontecer em favor de nossa economia?
A.A.:Estamos realmente num momento de disrupção na própria economia tradicional, como foi colocado nos questionamentos de nossos encontros. Vamos proceder à digitalização de todos os processos e o que poderá ser automatizado e digitalizado vai ser. Essa mão de obra vai ter que migrar para um patamar superior e essa revolução tecnológica, que passa a ameaçar todas as atividades convencionais, vai exigir que as empresas tenham competência para poder acompanhar e para que haja essa competência nós precisamos desenvolver a mão de obra, os nossos recursos humanos, o recurso mais escasso hoje é a mão de obra qualificada, e nós não temos ainda atratividade na região para atrair mão-de-obra de outros lugares, a não ser a peso de um salário bem mais alto, o que pode fazer com que a gente perca competitividade. No curto prazo só temos essa solução, no médio prazo nós temos saídas através da Academia, essa preocupação de formar mão de obra para essa atividade que todas as empresas estão demandando. E principalmente, aqui na região, que queremos criar novas atividades vocacionadas para a Biotecnologia, sem perder de vista a conquista de um nível maior de competitividade mundial para poder assegurar viabilidade econômica no mercado. A luta apenas está começando e vale muito a pena integrar-se em suas fileiras como fizeram os jovens empreendedores nas duas Feiras do Polo Digital de Manaus.
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