Entre os sentimentos que se destacam – neste momento de reflexão teológica que o Natal recomenda – a gratidão se manifesta como ação de graças de toda a Humanidade ao Senhor, por nos ter enviado seu filho a partilhar a fragilidade de nossa condição humana. Lucas, o evangelista médico, nos brinda com uma passagem das mais eloquentes para descrever o quanto apraz ao Senhor este sentimento. No capítulo 17, versículos 11 a 19, fala dos dez leprosos, certamente acompanhados de mulheres e crianças, que pedem a misericórdia da cura de sua lepra, uma doença estigmatizada pela tradição e pela cultura judaica, que os marginalizava radicalmente. Em respeito ao preceito legal – Moisés ordenara que fossem excluídos do convívio social – Jesus apenas lhes disse “Ide e mostrai-vos aos sacerdotes”, que poderiam autorizar sua reintegração social. No caminho, os leprosos se perceberam curados. Apenas um, entretanto, voltou, glorificando a Deus em alta voz, prostrando-se aos pés de Jesus. E este um era samaritano, um povo considerado inimigo dos judeus. “Levanta-te, e vai – disse Jesus – a tua fé te salvou”. Quantas vezes – diante das bênçãos cotidianas – voltamos para, ajoelhados e penitentes, louvar, bendizer e agradecer o presente da vida, o ar que respiramos entre tantos regalos de toda nossa caminhada?
Em outubro último, dia 29, atacado por uma crise cardiorrespiratória fulminante, em pleno voo de São Paulo a Manaus, vi de perto que minha hora chegara. Meus sinais vitais estavam em queda livre… E chegaria, não fosse a intervenção competente da boa samaritana Sharala Kumari, médica do Hospital Adventista e da Escola de Saúde da UEA, que estava voltando para Manaus depois de um curso exaustivo de atualização na Medicina da USP. Foram três horas e meia de agonia, tratada com a habilidade afetuosa de quem escolheu a Medicina por vocação e missão. Uma missionária da boa nova da saúde, de salvar vidas repartindo este dom precioso que o Senhor nos emprestou. Obrigado, Sharala, eternamente, muito obrigado! Ao saber de quem tratava, ela relatou os benefícios acadêmicos e médicos conquistados pela parceria UEA e USP, da gestão Cleinaldo Costa – que aproximou as duas escolas na rotina ambulatorial, de tele-medicina, os profissionais da saúde para multiplicar benefícios… Por fim, mobilizou, através de distribuição digital do seu Relatório de conduta, seus colegas de trabalho para recepcionar o paciente no serviço de emergência do Adventista. Ao chegar em Manaus, é justo lembrar, os socorristas Mercedes e Geberson, da Infreaero, se integraram à operação que me repôs respiração e vida. A eles, minha especial gratidão, extensiva à equipe da Gol.
Sharala Kumari, no dia seguinte, voltou ao hospital, onde fiquei internado, para uma visita de cuidados e cortesia, acompanhada de seus pais, Ashok e Edna. Uma família radiante e carismática, movida pela alegria que descreve os verdadeiros filhos da Luz. Ele, um pesquisador da terra de Ghandi, ela, Edna, da Paraíba, que vieram para Manaus há mais de duas décadas, trazendo um anjo em forma de benção, cura e alegria, Sharala Kumari, a quem, neste dia de Natal – que nos sugere a mais sublime das ações de graça – é oportuno, digno e justo, louvar, bendizer, adorar e agradecer ao Senhor por sua vida e testemunho. Como não lembrar de história de gratidão, descrita por Lucas? Como ninguém, ele, um profissional da cura, sabia do sofrimento que a exclusão e o abandono da doença nos causam. E o quão agrada aos olhos do Pai o gesto humilde de um portador da lepra de voltar para agradecer… A gratidão, que reconhece na misericórdia divina o dom da vida, do oxigênio, o sopro divino, no limite, nos devolve a própria vida, esta benção retratada em plenitude na simplicidade do presépio. Obrigado, infinitas vezes, obrigado por Sharala, Senhor, por ensinar-me com gestos o sentido do Natal. Obrigado por sua família e demais missionários da saúde e arautos de sua mensagem de vida que somente o Amor pode traduzir.
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