Enquanto o Brasil das contradições políticas patina na pistas da contramão institucional, o Brasil da recessão se debruça nas discussões de saídas para a esparrela em que a política a todos enfiou. E, antes tarde do que nunca, os debates sobre o futuro deste dilema chamado trabalho e a possibilidade de promover saídas para o desenvolvimento econômico no Acordo do Clima, alcançam a Amazônia. Foram dois eventos – um na USP e outro no Insper – que marcaram neste final de novembro a procura ansiosa da academia e da economia para entender e contornar os estragos que a recessão tem espalhado em todas as direções. Um deles, o da USP, sobre o Futuro do Trabalho, foi promovido pela Faculdade de Economia e Administração em conjunto com a OIT, Organização Internacional do Trabalho, e o outro, sobre Desenvolvimento com Economia de Baixo Carbono, se deu no INSPER, por iniciativa do Instituto Escolhas. E através de caminhos diversos e razões convergentes, ambos desembarcaram na Bioeconomia, os bionegócios da biodiversidade amazônica.
É alvissareiro constatar que a geografia da crise obrigou o debate nacional a ir além de Minas Gerais, onde os livros didáticos costumam delimitar a discussão e o ensino da brasilidade. Na procura de achar caminhos ninguém se constrange em reconhecer e validar o agronegócio do Brasil central e, aos poucos, reconhecer que a Bioeconomia guarda múltiplas oportunidades de conservar a Amazônia, adensar e proteger sua floresta e criar alternativas de prosperidade para o país. Em outras palavras, investir na região os recursos de pesquisa e desenvolvimento, gerados pelas indústrias da Zona Franca de Manaus – algo superior ao PIB da vários países do Continente – permitiria desenvolver na floresta uma bioeconomia tão ou mais pujante que o agronegócio, com a vantagem de reduzir drasticamente os danos ambientais de que o acusam, 70% das emissões de carbono do Brasil.
Enquanto academia e economia discutem na pauliceia atordoada as saídas a partir da integração das oportunidades e necessidades – no contexto da territorialidade nacional – as entidades do setor produtivo da Amazônia se juntam ao poder público para apontar os caminhos efetivos de redução das desigualdades regionais e consolidação de novas modulações econômicas da economia local.
Um dos desafios é, precisamente, mobilizar todos os atores – os parlamentares, a mídia nacional, as instituições de ensino e pesquisa – para reter na região os recursos gerados pelas empresas no âmbito da Suframa, Superintendência da Zona Franca de Manaus, não apenas para evitar a desindustrialização em curso, mas para empinar a economia digital e, sobretudo, a Bioeconomia. Para se ter uma ideia, considerando o valor final de um telefone celular comercializado numa loja, 38,9% são de matéria-prima e industrialização; 8,6% são para logística e custo financeiro; 15,2% são para impostos; 32,1% margem do varejo; 2,7% margem da indústria e 2,4% destinados por Lei para projetos e programas de P&D, pesquisa e desenvolvimento. Isso quer dizer que o valor destinado a P&D é quase igual ao que a indústria recebe. Foram mais de R$ 5,2 bilhões nos últimos 16 anos, considerando todas as empresas de informática, dos quais 80% o governo federal destinou a outros fins. São recursos que poderiam fazer da Amazônia o Vale da Biodiversidade, com dividendos ao Brasil similares ao Vale do Silício, nos Estados Unidos. Depois de 12 anos sem CNPJ, o Centro de Biotecnologia da Amazônia, prejudicado pela disputa insana deste modo tacanho de fazer política, começa a empinar, com apoio das entidades do setor produtivo.
De quebra, apostar em Bioeconomia é reduzir a dependência fiscal, e adensar o polo industrial local com insumos regionais, consolidando e regionalizando a indústria 4.0 – a quarta revolução industrial – a bioindústria, ou seja, a produção industrial que agrega ciência, tecnologia e inovação, a partir do aproveitamento inteligente do imensurável patrimônio genético da Amazônia, onde borbulha 20% dos princípios ativos da Terra. A Suframa, em parceria com as entidades do setor produtivo, prepara um debate simbólico de celebração dos 50 anos da Zona Franca de Manaus, a ser realizado no início do próximo ano, exatamente com os atores da academia e da economia que defendem e entendem a urgência estratégica, climática e diplomática dos negócios da biodiversidade. De quebra, irão prestar contas de 12% da renúncia fiscal que aqui utilizamos – o Sudeste utiliza 60% do bolo nacional – aos quais respondemos com os acertos da Zona Franca de Manaus, seus trabalhadores e investidores, sempre dispostos a encontrar/consolidar caminhos para a proteção da floresta, o equilíbrio do clima e a oferta de emprego e renda que podem tirar o Brasil da crise.
Alfredo é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas
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