Dividida entre a árdua tarefa de defender os descaminhos da Petrobras e a maratona obtusa de conquistar o pódio na prorrogação dos incentivos fiscais constitucionais da Zona Franca de Manaus, a classe política do Amazonas, com exceções pontuais, entra na galeria anódina do oportunismo eleitoral. Fica em segundo plano o interesse maior da socioeconomia regional, o debate de seus gargalos, a superação de seus deslizes, sobretudo em relação à incúria de investir os ganhos da indústria nas cadeias produtivas do interior, na pesquisa atrelada à inovação e formulação de novas trilhas de oportunidades para os baixos índices de desenvolvimento do beiradão amazônico. Desconfiança incômoda e ceticismo crescente, por isso, tomam conta da opinião pública, com o pano de fundo eleitoreiro, critério e diferencial para equacionar o imbróglio.
Esse imediatismo tosco, que busca “fulanizar” os avanços da História, como denunciava o pensador Renan Freitas Pinto, e confiscar de trabalhadores e empreendedores os frutos da relação entre capital e trabalho, precisa ser sacudido e exorcizado. Em vez da corrida insemsata atrás do sufrágio, é hora de debater e de consolidar estudos na cadeia produtiva do conhecimento, o encaminhamento necessário e factível para o modelo ZFM e para a economia da Amazônia Ocidental na qual se insere. Estudar a ZFM. Eis o velho conselho que os mais antigos cobram historicamente das gerações que se estabelecem. Nunca foi tão oportuno, essencial e decisivo. A definição do arcabouço jurídico-institucional só faz sentido se esse dever de casa for cumprido, se os novos caminhos, para mais 50 anos, forem desenhados a partir das finalidades originais do projeto ZFM.
Propugnar pelo aperfeiçoamento do modelo, resgatar seu arcabouço legal original vai obrigar a reconfigurar e revigorar o papel gerencial da Suframa, assegurar as condições essenciais e infraestruturais de competitividade, reunir elementos cognitivos que permitam sustentar, com visão estratégica e embasamento técnico o rumo a seguir. Desenhar os novos caminhos de integração desta economia com a lógica produtiva do Brasil significa promover a produção de estudos técnicos da dinâmica socioeconômica estribada em indicadores de desempenho, na reorganização da política de produção de bens associado às Tecnologias de Informação e Comunicação. Eis um desafio inadiável que precisa pensar a ZFM em dimensões nacionais e continentais, imediatamente, seu fortalecimento competitivo, com estudos interdisciplinares e interinstitucionais, sinergia e harmonia, portanto, para definir paradigmas de inovação, de produção e de pesquisa e desenvolvimento, de onde emergirá a inclusão da economia local na dinâmica produtiva nacional. Há três anos, entre tantas boas noticias de estudos sobre iniciativas para a Amazônia, o IPPA, incubadora de políticas públicas para a região, articula universidades, institutos de pesquisa, governos e setor produtivo da Amazônia. Sua ambição é meritória: contribuir para a concepção, formulação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável para a região, seus estados e municípios, apoiadas no conhecimento científico, nos saberes tradicionais e na participação qualificada dos atores regionais. Uma tarefa coletiva, entre a academia e a economia que, de quebra, pode “desfulanizar” o futuro e os benefícios da Zona Franca de Manaus.
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alfredo.lopes
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