Apesar da liturgia oportunista da bancada parlamentar, que descreve a disputa de paternidade sobre a prorrogação da Zona Franca de Manaus – uma iniciativa do governo federal, o maior privilegiado que abocanha 54,42% da riqueza aqui produzida – cabe uma reflexão sobre a proposta anunciada pelo ministro Mauro Borges, do Desenvolvimento, na semana passada, que traduz o debate da competitividade para a Zona Franca de Manaus na discussão de mais 50 anos para o modelo. O posicionamento tem lastro e se alicerça em múltiplas rodadas de negociação, esclarecimentos, correção de rotas e superação de preconceitos e equívocos em torno da economia local. Esta disposição de inserção do modelo como capítulo claro e definido no sumário da política nacional de produção industrial brasileira não é uma fala solta – entre tantas que temos ouvido nestas décadas de tratamento da ZFM como um apêndice do setor produtivo nacional. Trata-se de um relatório sintético de debates proativos, cobranças coerentes e denúncias procedentes dos atores locais, das entidades de trabalhadores e empreendedores na busca de novos caminhos.
A política pequena, que topa tudo na temporada de caça e captura dos sufrágios, precisaria usar toda essa energia para avançar na procura de saídas. Chega de acordo eleitoral ou dependência meramente fiscal. O mote e o motor dessa mobilização de definir o lugar da economia local – que precisa ser regional – se resumem ao desafio de adensar, diversificar, interiorizar a riqueza, incorporar as vocações regionais de negócios, enfrentar os gargalos de recursos humanos, de infraestrutura e da revisão da aplicação de recursos, recolhidos pelos setores produtivos. Por que não destinar um percentual dessa riqueza recolhida para a União resolver os gargalos de comunicação, logística e energia para as novas matrizes econômicas?
Em abril último, a AFEAM, Agência de Fomento do Estado do Amazonas, em conjunto com a SEPLAN, a secretaria estadual de Planejamento, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento avançaram os detalhamentos técnicos para financiar as cooperativas do interior que estão trabalhando com 13 cadeias produtivas. Guaraná, borracha, fibras vegetais, açaí com banana e macaxeira, castanha, cítricos, aquicultura, fitoterápicos, entre outras, para adensar, diversificar e interiorizar a economia. Durante dois dias intensos, técnicos e pesquisadores da Embrapa, UEA, FIOCRUZ e outras instituições locais de extensão rural e pesquisa e desenvolvimento ensaiaram avanços de caminhos já comprovados em eficácia empresarial e relevância socioeconômica, muito além da lógica estreita do mandato eleitoral. São ações que explicitam, no contexto da responsabilidade social dos atores envolvidos, frutos da salutar interatividade entre os segmentos executivos das três esferas públicas e do empreendedorismo promissor.
Emerge, assim, um leque de benefícios a partir da metodologia da partilha, aquela que ouve e propõe saídas, aponta embaraços e soma esforços para equacionar. E é assim que – tudo indica – será retomada a ideia de definir, enfim, o modelo de gestão do Centro de Biotecnologia da Amazônia, não apenas para assessorar, respaldar e consolidar as 13 cadeias da AFEAM/SEPLAN, mas tantas outras que expandam, consolidem e integrem as vocações de negócios locais e a economia nacional, em atitudes e proposições, conteúdos e desafios para justificar, nessa nova empreitada, os benefícios fiscais da prorrogação para a libertação paulatina da tutela federal para a Zona Franca de Manaus.
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