Incêndios destroem lavouras de café em São Paulo e agravam crise na cafeicultura brasileira, já afetada pela estiagem prolongada desde o final de agosto
Desde o final de agosto, incêndios de grandes proporções têm devastado áreas verdes em várias regiões do Brasil, agravando a já delicada situação da cafeicultura nacional. O setor, que sofre há meses com a estiagem prolongada, agora enfrenta a destruição de lavouras inteiras no interior de São Paulo. Os efeitos dessa devastação são profundos, não apenas para a safra atual, mas também para os próximos ciclos de produção, com impactos diretos na economia e no ecossistema da região.
A destruição das lavouras e o adiamento da colheita
Em diversas áreas do interior paulista, produtores estão vendo suas plantações serem consumidas pelas chamas. Devido à extensão dos danos, a previsão é de que será necessário replantar muitos dos cafezais destruídos, um processo que, segundo especialistas, não se conclui de forma rápida. De acordo com o engenheiro agrônomo Marcelo Jordão, diretor da Fundação Pró-Café, os cafeicultores afetados só deverão replantar suas lavouras a partir de janeiro de 2025, e a nova colheita não ocorrerá antes de 2027.
Isso significa um atraso significativo na produção, o que comprometerá os rendimentos dos produtores e afetará diretamente a oferta de café nos próximos anos. A cafeicultura, um dos pilares da economia rural brasileira e um dos produtos que mais projetam o Brasil no mercado internacional, vê-se em uma encruzilhada: os prejuízos das perdas com o fogo somam-se aos problemas causados pela estiagem, e o cenário de recuperação não é nada promissor no curto prazo.
Áreas de risco: lavouras entre canaviais e matas preservadas
A localização das lavouras de café em áreas próximas a matas preservadas ou canaviais torna essas plantações ainda mais vulneráveis. Marcelo Jordão explica que, em muitos casos, o fogo que atinge as plantações de café tem origem nos canaviais, onde incêndios são mais comuns devido à prática de queimadas, sejam elas acidentais ou controladas. “Nos casos que fiquei sabendo, o fogo começou no canavial e foi para o café. É muito difícil começar um incêndio na lavoura de café”, afirma Jordão.
Entre as áreas mais afetadas estão municípios como Altinópolis, Ribeirão Corrente, Cristais Paulista e Pedregulho, todos situados na Alta Mogiana Paulista, uma das principais regiões produtoras de café do país. Nessa região, as chamas já destruíram aproximadamente 100 hectares de lavouras de café. Essa situação, contudo, pode se agravar à medida que mais áreas estão sendo atingidas, e ainda é difícil mensurar com precisão o tamanho total das terras prejudicadas.
Consequências para a safra de 2025 e além
Os impactos dos incêndios não se restringem à perda imediata de colheitas. O processo de replantio dos cafezais é longo e custoso, e a recuperação total da produção pode demorar anos. O ciclo de produção do café exige que os novos pés, plantados após as queimadas, tenham tempo para amadurecer e produzir grãos de qualidade. O engenheiro Marcelo Jordão detalha que, no caso dos produtores afetados, as plantações que forem replantadas em 2025 só estarão prontas para a colheita em 2027, gerando um hiato de dois anos na produção.
Esse intervalo compromete o planejamento econômico dos produtores e do setor cafeeiro como um todo, afetando desde o pequeno produtor até grandes exportadores que dependem da constância na produção para atender à demanda do mercado. O Brasil, sendo um dos maiores produtores e exportadores de café do mundo, poderá enfrentar problemas de oferta nos próximos anos, o que impacta diretamente os preços internacionais e a competitividade do país no mercado global.
Além disso, as lavouras atingidas por incêndios costumam sofrer com a perda de fertilidade do solo, o que pode exigir um investimento maior em insumos e técnicas de recuperação do solo, elevando ainda mais os custos para os produtores.
Embora a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tenha programado a divulgação de um relatório sobre os impactos das queimadas no dia 19 deste mês, outras entidades ainda enfrentam dificuldades para quantificar com precisão os danos causados pelos incêndios. Uma das razões para essa incerteza é o fato de que muitas áreas ainda estão sendo afetadas pelo fogo, e o acesso a essas regiões é limitado.
A expectativa é que, com a divulgação dos primeiros dados oficiais, seja possível traçar um panorama mais claro dos prejuízos e começar a desenvolver políticas de apoio aos produtores. No entanto, especialistas já alertam para a necessidade urgente de ações coordenadas que incluam tanto a recuperação ambiental das áreas devastadas quanto o suporte financeiro e técnico aos cafeicultores.
As queimadas, que são comuns nesta época do ano, se intensificaram devido à falta de chuvas, criando um cenário propício para o alastramento das chamas. Muitos agricultores relatam que, além da perda de produção, há uma crescente preocupação com a segurança das áreas preservadas e a biodiversidade local, uma vez que os incêndios muitas vezes ultrapassam os limites das plantações e afetam matas e reservas próximas.
Perspectivas para o futuro da cafeicultura
O setor cafeeiro enfrenta agora o desafio de se reorganizar e planejar a recuperação de áreas devastadas. A resposta à crise deve envolver não apenas medidas emergenciais, como o controle imediato dos focos de incêndio, mas também um planejamento de médio e longo prazo para a retomada da produção e a adaptação às novas condições climáticas. A seca, que já afetava as plantações, aliada à devastação pelo fogo, exige que os produtores busquem novas estratégias de manejo agrícola, como o uso mais eficiente da água e a adoção de sistemas agroflorestais que aumentem a resiliência das lavouras.
A reconstrução das áreas produtivas não será fácil, e o setor precisará de apoio para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela degradação ambiental. Com o café sendo uma das principais commodities exportadas pelo Brasil, a recuperação da cafeicultura é fundamental não apenas para a economia rural, mas para a balança comercial do país como um todo.
*Com informações G1
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