Mirando também o combate as fake news, jovens ribeirinhos receberam treinamento em comunicação digital. Saiba mais sobre o Projeto Nossas Vozes e sua organização.
Nos últimos meses, jovens ribeirinhos do Amazonas participaram de uma iniciativa de educação midiática promovida pelo Instituto Vero e pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), o Projeto Nossas Vozes. O projeto conta com o apoio e participação do influenciador Felipe Neto, e teve como objetivo capacitar 25 ribeirinhos em comunicação digital e combate à desinformação, incentivando-os a desenvolver projetos em suas comunidades.
O Nossas Vozes busca enfrentar a desinformação em áreas sem veículos de imprensa locais, conhecidas como “desertos de notícias”. Camila Akemi, coordenadora do projeto explica: “No Brasil, mais de 26 milhões de pessoas ainda não têm acesso a notícias sobre suas cidades. Isso as torna mais vulneráveis a narrativas desinformativas.”
Formação em comunicação e visitas educativas
Nos dois primeiros dias do evento que foi realizado em abril, os alunos participaram de passeios educativos em Manaus, visitando locais como a Fundação Rede Amazônica, o Palácio da Justiça, o Palácio do Rio Negro, o Teatro Amazonas e o Instituto Federal do Amazonas. Essas visitas visavam proporcionar uma visão abrangente sobre a história e a cultura da região, além de familiarizá-los com importantes instituições locais.
Após as visitas, os jovens se dirigiram ao Núcleo de Inovação e Educação para o Desenvolvimento Sustentável Assy Manana, uma área de preservação ambiental. Lá, participaram de oficinas e encontros com acadêmicos e comunicadores, incluindo uma aula virtual com Felipe Neto, fundador e diretor-executivo do Vero. Durante esses encontros, os participantes receberam orientações sobre como utilizar as mídias digitais de forma crítica e eficaz.
Projetos práticos e mentoria
Para aplicar o conhecimento adquirido, os jovens desenvolveram suas próprias campanhas de comunicação, contando com três sessões de mentoria realizadas entre maio e junho. “Precisamos falar incansavelmente sobre a importância da criação de projetos que fomentem o letramento midiático não só no Brasil, mas no mundo inteiro, principalmente para combater a desinformação”, afirmou Felipe Neto. “E é por meio de campanhas educativas como o Nossas Vozes, a partir do investimento em capacitação para o fortalecimento de habilidades intelectuais e técnicas e o uso crítico das tecnologias que conseguiremos avançar nessa pauta.”
Colaboração e capacitação
A FAS, organização da sociedade civil sem fins lucrativos, colaborou com o projeto, trazendo sua experiência com o programa Repórteres da Floresta. O programa oferece aulas práticas de fotografia, vídeo, áudio e edição a jovens ribeirinhos, com o intuito de capacitá-los a atuar como jornalistas em suas comunidades. “Queremos que estes jovens atuem como jornalistas dentro de suas comunidades”, diz Rafael Sales, coordenador do núcleo de inovação e educação para o desenvolvimento sustentável da FAS. “Promovemos oficinas de comunicação que ensinam a utilizar câmeras, escrever textos e trabalhar com fontes.”
Os jovens selecionados para participar do projeto passaram por um processo seletivo que envolveu a escrita de redações e a produção de vídeos. Jefferson Rodrigues, 24 anos, morador da comunidade do Tumbira, no município de Iranduba, em Manaus, foi um dos participantes. “Foi um intercâmbio com pessoas de todos os cantos. Muitas delas nem conheciam Manaus. Gostei muito dessa troca de conhecimentos e experiências”, conta Jefferson.
Combatendo a desinformação e promovendo a cultura local
Uma das atividades preferidas de Jefferson foi a produção de um podcast com os colegas. Ele também criou um perfil nas redes sociais com amigos para enaltecer a cultura regional e combater mentiras. “Por exemplo, em setembro de 2023, mais de cem botos foram encontrados mortos em um lago superaquecido em Tefé, no interior do Amazonas, durante uma seca severa na região. Circulou então o boato de que haviam sido encontradas carcaças também em Iranduba. A informação era falsa, pois o município, que fica a 500 km do Lago Tefé, não teve registros de mortes de botos. Mesmo assim, a mentira afetou o turismo local, motivado em grande parte pela pesca”, explica.
Além de atuarem como comunicadores em suas comunidades de origem, Jefferson e seus colegas querem promover uma compreensão mais profunda da Amazônia em todo o país. “Muita gente pensa que todo mundo da Amazônia é indígena. Então procuramos, em nossos vídeos, mostrar que isso não é verdade. Nosso perfil fala de assuntos sérios, mas de modo leve e engraçado”, detalha Jefferson.
De acordo com a coordenação do Nossas Vozes, muitos participantes viajaram dias de barco para chegar ao curso. A distância dos centros urbanos favorece a propagação de desinformação em várias comunidades. “Notícias falsas se propagam na floresta de forma dinâmica. Dependendo de onde você está, a cinco ou até seis dias de barco de um centro urbano, uma notícia falsa pode se espalhar por toda a região. Quando alguém finalmente chega à cidade para ter acesso à conectividade e à informação correta, aquela mentira já se tornou verdade”, diz Rafael Sales, da FAS.
Com informações da Folha de São Paulo
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