Monitoramento revela dados surpreendentes sobre o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, mostrando que há muito trabalho a ser feito para proteger a floresta e suas comunidades.
De janeiro a junho desta ano, uma área do tamanho de três cidades do Rio de Janeiro foram ceifados no Cerrado. Ainda assim, o acumulado do desmatamento no bioma seja 29% menor do que o registrado na primeira metade de 2023. Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), apenas em janeiro a taxa foi maior do que no ano passado.
Em entrevista ao portal O Eco, Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM, advertiu que a cobertura de nuvens no início do ano e o calendário agrícola, que tende a acelerar o desmatamento na segunda metade do ano, podem dificultar uma avaliação precisa anual. Ribeiro enfatizou a necessidade de reforçar as políticas de combate e controle, especialmente na região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que concentrou 77% do desmatamento no Cerrado, com 266 mil hectares desmatados.
Novos municípios estão surgindo como grandes desmatadores, com cinco novas cidades entrando na lista dos maiores desmatadores do bioma: São Desidério, Balsas, Alto Parnaíba, Mateiros, Mirador e Paranã.
Veja a lista das 10 cidades do Cerrado que mais perderam vegetação nativa neste ano de 2024
- 1. São Desidério, BA (37,4 mil hectares)
- 2. Balsas, MA (30,5 mil hectares)
- 3. Alto Parnaíba, MA (26,5 mil hectares)
- 4. Cocos, BA (25 mil hectares)
- 5. Rio Sono, TO (20,7 mil hectares)
- 6. Correntina, BA (19,2 mil hectares)
- 7. Jaborandi, BA (18,4 mil hectares)
- 8. Baixa Grande do Ribeiro, PI (15,7 mil hectares)
- 9. Mirador, MA (15,1 mil hectares)
- 10. Formosa do Rio Preto, BA (14,5 mil hectares)
A maioria do desmatamento ocorre em propriedades privadas (82%), enquanto áreas protegidas responderam por 5% do desmatamento registrado, totalizando 17,4 mil hectares perdidos.
Situação na Amazônia
Desde abril de 2023, a Amazônia vinha apresentando quedas consecutivas na destruição da floresta. Ou seja, 14 meses seguidos de queda nos índices de desmatamento. Em junho de 2024, esse cenário mudou, com um aumento de 10% no desmatamento em comparação ao mesmo mês de 2023, segundo o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Foram registrados 398 km² de desmatamento, ainda abaixo da série histórica para junho e menores do que os registrados durante os anos do governo Bolsonaro.
Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon, explica que o período mais seco do ano, entre maio e outubro, historicamente apresenta os valores mais altos. O Amazonas, Pará e Mato Grosso concentraram 77% do desmatamento na Amazônia Legal em junho de 2024.
Apesar do aumento em junho, o acumulado do primeiro semestre de 2024 registrou a menor área desmatada desde 2017, com 1.220 km² destruídos, uma redução de 36% em relação ao mesmo período de 2023. Nas áreas protegidas foi o menor dos últimos 10 anos, com 93 km² desmatados, uma queda de 18% comparado a 2023. A APA Triunfo do Xingu, no Pará, foi a área protegida mais afetada, com 7 km² desmatados.
Contextualização do desmatamento da Amazônia para o Cerrado
Em um relatório divulgado há poucos meses sobre o desmatamento de 2023, o MapBiomas revelou que pela primeira vez, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em termos de área desmatada. A região já sofre intensamente com a expansão agrícola e a pecuária.
O bioma é crucial para a biodiversidade e para o regime hídrico do país, desempenhando um papel vital no abastecimento de importantes bacias hidrográficas brasileiras. A crescente devastação no bioma, impulsionada principalmente pela expansão agrícola e pecuária, ameaça a biodiversidade, coloca em risco espécies endêmicas e compromete recursos hídricos essenciais.
Especialistas enfatizam que, embora a Amazônia continue sendo uma preocupação ambiental global, o Cerrado também requer atenção urgente devido à sua importância ecológica. A destruição do bioma pode comprometer o abastecimento hídrico de várias regiões do Brasil, destacando a necessidade de direcionar esforços de preservação a ambos os biomas.
Este cenário de migração do desmatamento, inicialmente previsto com base nos números de 2023, revelava uma tendência esperada de diminuição do desmatamento na Amazônia e aumento no Cerrado. No entanto, as recentes atualizações mostram uma reversão parcial dessa tendência, com uma leve retomada do desmatamento na Amazônia em junho de 2024 e uma redução significativa no Cerrado no acumulado do primeiro semestre deste ano.
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