O combate ao desmatamento na Amazônia, uma região de vasta extensão e complexidade, está se beneficiando significativamente do avanço tecnológico. A inteligência artificial (IA) emerge como uma ferramenta crucial na análise e gestão ambiental, apesar do seu alto consumo energético e impacto na exploração mineral. Especialistas afirmam que os benefícios trazidos pela tecnologia superam os prejuízos.
No último ano, o Imazon, instituto de monitoramento da degradação da Floresta Amazônica, desenvolveu o PrevisIA. Esta ferramenta utiliza um algoritmo sofisticado para identificar áreas com risco variado de desmatamento, analisando uma série de variáveis como a presença de estradas legais e ilegais, o desmatamento já ocorrido, a distância para áreas protegidas, além de informações socioeconômicas e infraestruturais.
Com uma eficácia prometida de 70% em suas previsões, o PrevisIA detectou cerca de cinco mil quilômetros quadrados de floresta sob risco médio a muito alto de devastação só neste ano. Dentre essas áreas, 38% estão localizadas no Pará, um estado crítico quando se trata de desmatamento. Surpreendentemente, apenas Amapá e Tocantins, entre os estados da região amazônica, não foram classificados com risco alto ou muito alto.
Enquanto isso, gigantes tecnológicos como Microsoft, Google e Amazon estão investindo cada vez mais em IA. Em uma iniciativa notável, o Google, em colaboração com o The Nature Conservancy Brasil, a Universidade de São Paulo, o Imaflora e a Trase, lançou o programa Digitais da Floresta. Esta ferramenta inovadora foca no rastreamento da origem da madeira amazônica comercializada, utilizando a “impressão digital” da madeira determinada pela análise dos isótopos estáveis na água do solo presente na amostra.
O Digitais da Floresta compara essas informações com documentos oficiais para identificar possíveis evidências de extração ilegal em unidades de conservação, fornecendo uma camada adicional de verificação e segurança na luta contra a exploração ilegal da madeira.
Essas tecnologias representam um avanço significativo na proteção ambiental, oferecendo novas possibilidades para monitorar e prevenir o desmatamento na Amazônia de maneira mais eficiente e assertiva.
Avanços da IA: da identificação de baleias à análise de territórios ameaçados
A utilização de inteligência artificial (IA) em esforços de conservação ambiental está se expandindo rapidamente, trazendo inovações significativas no monitoramento e na análise de dados ambientais. Tasso Azevedo, coordenador do Mapbiomas, destaca o uso de redes neurais — modelos de IA que processam informações de maneira interconectada — para mapear mineração, garimpo e aquicultura. Essas tecnologias permitem a criação de mapas detalhados e alimentam séries históricas que documentam as mudanças em cada parcela de terra de 30 metros quadrados no Brasil ao longo de 40 anos.
Azevedo reconhece as preocupações ambientais relacionadas ao alto consumo de energia e à demanda por minerais na fabricação de chips e equipamentos. No entanto, ele acredita que os benefícios da IA superam esses impactos, especialmente considerando os esforços das grandes empresas de tecnologia para reduzir emissões nos próximos anos. “A fabricação de chips realmente utiliza pouquíssimos minerais. A questão principal é o consumo de energia, mas os benefícios ambientais da IA são substanciais”, afirma Azevedo.
Além de sua aplicação em mapeamentos e análises de biodiversidade, qualidade de água e do solo, a IA também está revolucionando o monitoramento da fauna. Um exemplo disso é o projeto “Happywhale”, uma plataforma que identifica baleias usando fotos de suas caudas. Com mais de 90 mil baleias já catalogadas, a ferramenta permite a identificação rápida dos animais, proporcionando informações valiosas sobre suas localizações e a dinâmica populacional.
Milton Marcondes, coordenador de Pesquisa do projeto Baleia Jubarte, destaca a eficiência da IA no trabalho de conservação. “O que antes levávamos meses para concluir, agora pode ser feito em minutos graças à tecnologia”, diz ele. O projeto já identificou quase oito mil baleias individualmente, demonstrando o potencial da IA para acelerar e aprimorar o monitoramento ambiental e de espécies ameaçadas.
Essas inovações refletem um movimento crescente em direção à integração da tecnologia na gestão e preservação dos recursos naturais, mostrando como a inteligência artificial pode ser uma aliada vital na luta contra o desmatamento e na promoção da biodiversidade.
*Com informações UM SÓ PLANETA
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