Até 2026, o Brasil dará um grande passo na pesquisa científica ao inaugurar o Orion, o primeiro laboratório de biossegurança nível NB4 da América Latina, situado em Campinas.
Esse nível, o mais alto em termos de segurança laboratorial, permite o estudo de patógenos altamente transmissíveis e perigosos, cruciais para prevenir riscos à saúde pública.
O Orion será parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A colaboração internacional também está presente, com um acordo estabelecido entre o CNPEM e o Instituto Roberto Koch, na Alemanha, visando ao desenvolvimento conjunto do projeto e à futura cooperação em pesquisas.
Ana Márcia de Sá Guimarães, professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, explica que os laboratórios de biossegurança são classificados de nível 1 a 4, baseando-se na gravidade das doenças que os patógenos manipulados podem causar. Os níveis 3 e 4 são destinados aos agentes mais perigosos, como os vírus lassa, ebola, nipah e certos arenavírus, devido ao alto risco de transmissão e falta de tratamentos ou vacinas efetivas.
A especialista enfatiza a importância dessas instalações para o combate e prevenção de epidemias e pandemias futuras, permitindo a vigilância ativa e o estudo aprofundado dos vírus para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos.
No cenário global, existem cerca de 60 laboratórios NB4, localizados principalmente na Europa, América do Norte e África. A inauguração do Orion marca um avanço significativo para a América Latina, que até então não possuía tais instalações. Guimarães atribui essa lacuna à falta de reconhecimento da necessidade e aos altos custos associados à construção e manutenção contínua de laboratórios de alta biossegurança.
Impulso da pandemia na criação de laboratório NB4 no Brasil
O professor Jansen de Araújo, do Instituto de Ciências Biomédicas, aponta a pandemia de covid-19 como um fator decisivo para o desenvolvimento do primeiro laboratório de nível 4 no Brasil. Ele relembra que a USP, com sua infraestrutura de nível 3, foi um dos poucos locais no país capazes de analisar a amostra do primeiro paciente com coronavírus, destacando a importância de um laboratório NB4 para preparar o Brasil contra futuras pandemias.
A biodiversidade do Brasil, com seu clima tropical e variedade de animais silvestres, é um campo fértil para o surgimento de novos vírus. Jansen enfatiza a necessidade de uma estrutura de biossegurança máxima para controlar e estudar esses microrganismos emergentes.
Tatiana Ometto, especialista em biossegurança de alta contenção biológica no CNPEM, está envolvida no projeto Orion e no treinamento dos profissionais para o complexo laboratorial de Campinas. Ela relata sua experiência no desenvolvimento de práticas de biossegurança e na criação da plataforma EPISaúde durante a pandemia, enfatizando a importância do controle de qualidade e do treinamento em biossegurança laboratorial.
O diferencial do laboratório NB4 de Campinas, segundo Ometto, é a sua conexão com três feixes de luz síncrotron do acelerador de partículas Sirius, o que o torna único no mundo. A escolha do nome Orion para o complexo laboratorial foi inspirada na alinhamento das estrelas que apontam para Sirius.
A construção do complexo Orion está em andamento, com previsão de conclusão até o final de 2026. Apesar do progresso físico, a operação dos laboratórios demandará tempo adicional para certificação internacional e treinamento especializado. Ometto destaca a colaboração com a Universidade da Califórnia – Irvine para capacitação em biossegurança, evidenciando a integração internacional e a preparação cuidadosa para a operação do laboratório NB4 em Campinas.
*Com informações JORNAL DA USP
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