Lançamento do Yabnaby, a primeira agência de etnoturismo gerida por indígenas na Amazônia, marca um avanço para a autonomia e valorização cultural do povo Paiter Suruí em Rondônia, com apoio do PPBio (Programa Prioritário de Bioeconomia) contando com investimentos em sustentabilidade.
Abrangendo uma área de 224 mil hectares, as comunidades da Terra Indígena Sete de Setembro, habitadas pelo povo Paiter Suruí em Rondônia, estão se mobilizando para inaugurar o Yabnaby – Espaço Turístico Paiter Suruí. Este projeto inovador representa a primeira iniciativa de uma agência de etnoturismo fundada e operada por indígenas na região amazônica.
O etnoturismo se caracteriza por ser uma vertente do turismo que permite aos visitantes uma imersão nas tradições, na cultura e no modo de vida de comunidades específicas, com um foco particular nos povos indígenas.
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Apoio do PPBio
Em 2023, o projeto recebeu destaque ao ser um dos escolhidos para financiamento pelo Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), uma iniciativa do governo federal implementada na área da Zona Franca de Manaus. O PPBio é coordenado pela ONG Idesam, que atua extensivamente na Amazônia.
A concepção da agência de etnoturismo, uma visão de Almir Suruí, uma liderança indígena reconhecida por seu espírito empreendedor e por receber prêmios internacionais na área de direitos humanos, foi beneficiada com um aporte de R$ 522 mil do PPBio. Esse investimento visa ao desenvolvimento de um plano estratégico de negócios detalhado.
Almir Suruí, liderança do povo Paiter Suruí, idealizador da agência de etnoturismo – Foto: PPBio/Divulgação
“Neste ano de 2024, a gente vai construir todo o plano de marketing, o plano de comunicação e o plano de negócio. A agência vai ser responsável por implementar a estratégia que será criada aqui”, compartilhou Almir Suruí em entrevista à Agência Brasil. A expectativa é que a agência inicie suas operações no começo de 2025, estabelecendo sua base no município de Cacoal e com uma representação em Porto Velho.
Desenvolvimento de uma plataforma digital
O projeto inclui a criação de uma plataforma digital inovadora, que oferecerá tours virtuais pela floresta. Nesses tours, membros da comunidade poderão compartilhar aspectos da história do povo Paiter Suruí, detalhes sobre o cotidiano na comunidade, a dieta alimentar local, entre outros tópicos relevantes.
“A ideia é que a plataforma tenha várias seções, com temas diferentes, em que os turistas possam imergir de forma online na realidade amazônica, funcionando como um ‘tira-gosto’ do que será de fato uma visita presencial na comunidade”, explicou Paulo Simonetti, líder de captação e relacionamento com o investidor do PPBio, à Agência Brasil.
Paulo Simonetti é líder de captação e relacionamento com o investidor do PPBio
Além da experiência virtual, o projeto contempla o turismo presencial, permitindo que os visitantes desfrutem de banhos de rio, conheçam a culinária e a medicina tradicionais, participem de danças, ouçam histórias, realizem passeios de barco, explorem trilhas na floresta e se envolvam em atividades produtivas locais.
Para suportar essas atividades, Almir Suruí anunciou a realização de um curso destinado a formar guias turísticos e profissionais em outras áreas necessárias para o etnoturismo, como cozinheiras e faxineiras. A expectativa é que este curso comece até o próximo mês de abril.
A ideia da agência nasceu com Almir Suruí durante o desenvolvimento do Plano de Estratégia de 50 anos para o povo Paiter Suruí, iniciado nos anos 2000. Através de diversos estudos, identificou-se o potencial significativo do etnoturismo na região.
“É uma maneira de gerar emprego e renda para nossa comunidade e, também, para as pessoas conhecerem quem é o povo Paiter Suruí e nossa relação com a natureza, com a floresta, com os animais. Conhecer nossa história. Por isso, acreditamos que hoje há um potencial grande, no momento em que o Brasil trabalha também com a conservação ambiental para combater as mudanças climáticas”, reflete Almir Suruí.
Fortalecimento das Cadeias Produtivas
Por duas décadas, a ONG Idesam tem se dedicado a fortalecer as cadeias produtivas na Amazônia, visando reduzir a pobreza e combater o desmatamento nas comunidades locais. Suas ações abrangem a gestão territorial, apoiando a formação de cooperativas; a capacitação das comunidades para desenvolver produtos florestais comercializáveis; e a geração de negócios, conectando as comunidades a parceiros comerciais interessados em suas matérias-primas.
“O Idesam trabalha de diversas formas para fazer a inclusão produtiva das comunidades com o objetivo de geração de renda, sempre dentro de uma perspectiva sustentável”, enfatiza Paulo Simonetti.
Incentivos na Zona Franca de Manaus
As empresas situadas na Zona Franca de Manaus são estimuladas pela Lei da Informática a investir em pesquisa e desenvolvimento na região.
“Dentro dessa lei amazônica, as empresas têm obrigação de investimento de parte do seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento na própria região. Uma das coisas que elas podem investir são os programas prioritários, criados pelo governo federal, para desenvolver a região e solucionar gargalos que a região possui”, explica Simonetti.
Atualmente, há três programas prioritários em operação: um focado na indústria, outro no empreendedorismo e um terceiro dedicado às cadeias produtivas da Amazônia, representado pelo PPBio. Este último dispõe atualmente de R$ 129 milhões em recursos, com 61 projetos em andamento ou já concluídos, e expectativas de crescimento nos meses vindouros.
Nos últimos seis anos, o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) tem se dedicado a identificar e abordar os principais desafios da região Amazônica, especialmente em termos de logística, rastreabilidade e qualidade de matéria-prima. Esses desafios são vistos como oportunidades de negócio, promovendo o diálogo com startups, institutos de pesquisa e outros, em busca de soluções inovadoras que possam se transformar em novos empreendimentos.
“A gente busca recursos com as indústrias e investe nessas prospecções, nas mais diversas cadeias. Uma cadeia que a gente tem buscado atuar é o turismo. É importante para a valorização da biodiversidade amazônica trazer essa consciência ambiental para os turistas que estão visitando a região, mas também gerando renda para a comunidade que vive ali”, afirmou Simonetti.
Ele destaca a importância de estruturar o setor turístico de maneira que promova a autonomia dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, não apenas como atrações turísticas, mas como protagonistas e gestores de suas próprias iniciativas turísticas.
Expansão e diversificação de investimentos
O governo federal tem incentivado a Superintendência da Zona Franca de Manaus a diversificar seus investimentos, estendendo suas ações para além da região metropolitana de Manaus e alcançando outros estados da Amazônia, como Roraima, Rondônia, Acre e Amapá.
Recentemente, o PPBio tem se esforçado para identificar e apoiar projetos promissores nesses estados. Em Rondônia, por exemplo, o programa apoia três iniciativas; no Amapá, quatro; em Roraima, duas; e no Acre, também duas.
O projeto conta com o suporte do Instituto Ecoporé, uma organização de ciência e tecnologia que mantém uma parceria de longa data com o povo Paiter Suruí.
Um dos principais objetivos da nova agência indígena é conectar o sistema de reservas às plataformas de hospedagem comerciais, além de replicar esse modelo para outras terras e etnias indígenas. A meta é que as atividades turísticas desenvolvidas sejam autossustentáveis, conforme explicou Sheila Noele, presidente do Instituto Ecoporé.
Com informações da Agência Brasil
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