Roraima enfrenta emergência ambiental com um aumento drástico de incêndios em fevereiro, alcançando 2.001 focos, o maior número desde 1999, enquanto o governo estadual suspende queimadas controladas e mobiliza 82 bombeiros para combate.
Roraima enfrenta uma crise ambiental severa, provocada por uma seca sem precedentes. Os incêndios florestais são uma das maiores preocupações. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre os dias 1 e 27 de fevereiro, o estado registrou 2.001 focos de incêndio, um aumento de doze vezes em comparação ao mesmo período do ano anterior, 2023.
Este fevereiro se tornou o mais crítico em relação a incêndios desde o início dos registros em 1999, superando o recorde anterior de 2007, quando foram detectados 1.347 focos de incêndio na área.
A situação das queimadas em Roraima levou a um pico nas emissões de dióxido de carbono, alcançando o maior nível para o mês de fevereiro em duas décadas. O Serviço de Monitorização da Atmosfera Copernicus (CAMS), operado pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF), calculou que aproximadamente 2,3 megatoneladas de CO2 foram emitidas até o dia 27 de fevereiro.
Este montante é superior a metade do total de emissões por queimadas em todo o Brasil, que foi de 4,1 megatoneladas no mesmo intervalo de tempo.
Causas da crise
A grave seca resulta da interação de múltiplos fatores. Durante o verão, é típico que a região receba poucas chuvas, uma característica única no norte do Brasil, conforme aponta o Climatempo. No entanto, a situação se deteriorou devido ao impacto significativo do El Niño, que afeta o Brasil desde o inverno de 2023. Esse fenômeno climático contribui para o aumento das temperaturas no extremo norte do país e para a diminuição da regularidade e volume das precipitações.
Ane de Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em um artigo para o Observatório do Clima, explicou que a época de incêndios em Roraima normalmente ocorre no início do ano, devido à seca. Contudo, o aumento expressivo nos registros de incêndios é considerado fora do comum e é associado às alterações climáticas.
“A tendência dos focos, não só do Brasil, mas de outros países como Colômbia, Venezuela, aumentou bastante neste período. Tudo leva a crer que essa anomalia é por conta do clima”, afirmou.
Um estudo do Greenpeace estabeleceu uma conexão entre os incêndios em Roraima e as queimadas controladas autorizadas pelo governo estadual. A análise, baseada em informações do diário oficial do estado, revelou que, durante o período de seca intensa, foram emitidas 55 licenças ambientais para a realização de queimadas controladas.
Análise do Greenpeace
De acordo com o levantamento do Greenpeace, a maior parte das autorizações foi destinada à queima de áreas de pastagem, que potencialmente se espalharam para florestas. Rômulo Batistas, representante do Greenpeace Brasil, compartilhou com o Jornal Nacional que, embora muitos dos focos de calor tenham ocorrido em áreas sem qualquer licença, sugerindo ilegalidade, as autorizações emitidas pelo governo podem ter contribuído para o problema.
“O fogo na Amazônia é muito utilizado basicamente para a renovação de pastagem, o problema é que esse fogo pode perder o controle e ir para áreas de floresta, como a gente viu”, explicou Batistas.
Resposta do Governo estadual
Em resposta às alegações, o governo de Roraima comunicou à Rede Globo que a maioria das licenças concedidas não chegou a ser utilizada. Além disso, enfatizou que a origem de muitas queimadas se deve a incêndios florestais, indicando a presença de atividades ilegais e criminosas. O governo também informou que uma portaria recente suspendeu as queimadas controladas e que está empenhado no combate aos incêndios, contando com a atuação de 82 bombeiros.
Com informações do Um Só Planeta
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