Precisamos, com alguma dose de urgência, construir uma pauta mínima para a Competitividade da Indústria e para a Economia do Amazonas, para traçar as saídas para a situação em que nos encontramos, de baixos índices de desenvolvimento humano e de uso tão restrito das enormes potencialidades
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Há uma diversidade de abordagens teóricas para a construção da Competitividade. Elas existem pela dificuldade de realizar esta construção e há diferentes necessidades, conforme o momento histórico. Governos e sociedades podem se perder no discurso de outros para nós, pois quase nunca o “outro” quer nosso progresso, bem como discursos de um passado de distante lugar, pode não servir para o nosso presente.
Mariana Mazzucato e Clara Mattei são duas italianas que colocam o problema em uma perspectiva política contemporânea de forma clara e simples, para este problema complexo e de difícil solução. É fundamental afastar a fuligem e a nuvem que encobre as ações por trás do discurso e das construções políticas e técnicas que divergem do imaginário versus a realidade, da propaganda versus o fato. Autores brasileiros também têm deliberado sobre isso, como André Roncaglia, Professor da UNIFESP, em seu livro “Bidenomics nos trópicos”, que, com outros autores, analisa o Governo Biden e a sua grande intervenção na economia dos EUA versus oportunidades para o Brasil.
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Um dos problemas nacionais é que o discurso público está tipicamente desatualizado. As receitas compartilhadas pelos editorialistas da grande imprensa e pelos debates políticos das massas está tipicamente fora do contemporâneo. Este espírito de época (do termo alemão “zeitgeist”) é o desafio de qualquer gestor e, em especial, daqueles que pretendem entender o momento e sair com vitórias para todos e algum desenvolvimento para as maiorias, sendo impossível acertar sempre.
Mesmo assim, é relativamente fácil afirmar que a construção das trilhas de prosperidade do Amazonas passa pela indústria, pela infraestrutura, pela sustentabilidade, pela biotecnologia, pela marcação de um design e de uma cultura locais. Entretanto, descer a um segundo nível de detalhamento de qualquer destes pontos é um desafio. Como exemplo, chamar o “agro” tradicional de bioeconomia é um erro, mas que é frequentemente cometido, pelo interesse mesquinho. Ou mesmo a construção de rodovias no Amazonas sem as proteções ambientais se transforma num erro e chega a ser criminoso pelas leis atuais.
A indústria de tecnologia, um sucesso histórico no Amazonas, precisa constantemente se defender dos ataques, visando a sua transferência para exterior, devolvendo o país a uma condição de colônia que insiste em não ser transcendida. A mania que temos de não encarar e usar nossas potencialidades em todas as suas magnitudes ou de pensar em políticas para o ganho de alguns poucos é um dos dogmas a enfrentar. As Missões de Desenvolvimento que podemos ter em uma sofisticação produtiva para encarar os nossos próprios problemas, como defendem os autores citados.
Precisamos, com alguma dose de urgência, construir uma pauta mínima para a Competitividade da Indústria e para a Economia do Amazonas, para traçar as saídas para a situação em que nos encontramos, de baixos índices de desenvolvimento humano e de uso tão restrito das enormes potencialidades. Precisamos ainda defender, com mais afinco, o maior patrimônio que temos, que é a natureza exuberante, atentos aos desafios de sempre, que inclui se defender das falsas amizades e dos inimigos gratuitos, que só querem arrancar mais recursos daqui, sem contrapartidas razoáveis, aumentando nossos custos, em troca de pequenas obrigações ou gentilezas, como se fôssemos tolos
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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