Uma notável expedição científica à floresta amazônica do Amapá, realizada em outubro do ano passado, está sob os holofotes por revelar aspectos inéditos sobre as árvores gigantes da região, tipicamente não associadas a zonas neotropicais. Liderada pelo biólogo Paulo Bittencourt, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, a missão buscou estabelecer as bases para pesquisas de longo prazo sobre essas formações vegetais únicas. Acompanhada de perto pela equipe da Pesquisa FAPESP, a jornada é o destaque da edição deste mês.
Em outra matéria de relevância, um estudo recente aponta um preocupante crescimento no sobrepeso entre crianças brasileiras, paralelo ao aumento do consumo de alimentos ultraprocessados nesta população. No entanto, o estudo também registra avanços, como a redução na prevalência de anemia e deficiência de vitamina A entre os jovens.
A edição traz uma entrevista com Jacques Marcovitch, professor e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), que comenta sobre a trajetória e a contribuição da instituição ao longo de seus 90 anos de existência. Marcovitch destaca áreas de interesse como métricas acadêmicas, bioeconomia e pioneirismo empresarial.
Dentre outros temas abordados, a revista discute a Iniciativa Amazônia+10, a redução dos campos nativos do Pampa, a violência sexual contra homens, e apresenta ferramentas on-line que auxiliam os usuários a calcular sua pegada de carbono. Essa edição da Pesquisa FAPESP promete uma ampla visão sobre os avanços científicos e os desafios ambientais e sociais enfrentados pela sociedade contemporânea.
Leia aqui: Esses e outros conteúdos podem ser acessados gratuitamente em: https://mailchi.mp/fapesp/arvores-gigantes-da-amazonia.
*Com informações Agência FAPESP
Gigantes da Amazônia: o surpreendente encontro com o Angelim-Vermelho no Amapá
Na imensidão verde da floresta amazônica amapaense, dentro dos limites do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), esconde-se um colosso natural que desafia as expectativas: o angelim-vermelho (Dinizia excelsa). Com alturas que variam entre 60 e 80 metros, equivalentes a um edifício de 18 andares, essa espécie se destaca majestosamente entre as copas, apresentando um espetáculo raro de paredões avermelhados revestidos de escamas.
Esse gigante da floresta compartilha seu habitat com outras árvores de grande porte como o piquiá (Caryocar villosum), a maçaranduba (Manilkara huberi) e o tauari (Couratari guyanensis), embora poucas delas alcancem a monumental estatura do angelim-vermelho. O fenômeno é particularmente surpreendente, considerando que, até aproximadamente uma década atrás, a existência de árvores tão altas nos trópicos era praticamente desconhecida. As sequoias-vermelhas (Sequoia sempervirens) da Califórnia, que podem atingir até 115 metros de altura, eram as únicas reconhecidas por alcançar tamanha magnitude.
A descoberta desses gigantes amazônicos desafia o paradigma estabelecido que sugeria que apenas regiões de clima mediterrâneo temperado, caracterizadas pela ausência de calor extremo e estações secas marcadas, poderiam abrigar árvores de tal estatura. Este achado não apenas reforça a diversidade e a riqueza incomparável da Amazônia, mas também abre novas frentes para o estudo e a compreensão dos ecossistemas tropicais.
Novas perspectivas sobre árvores gigantes e adaptação climática
Sob a liderança de Paulo Bittencourt, da Universidade de Exeter, e acompanhados pela equipe de Pesquisa FAPESP, os cientistas adentraram o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT) em outubro, com o objetivo de lançar luz sobre essas magníficas estruturas da natureza e seu papel frente às mudanças climáticas.
Diferentemente das grandes árvores encontradas em regiões como Califórnia, Austrália e Chile, que prosperam em condições especiais próximas ao mar, as árvores amazônicas enfrentam um ambiente de oscilações térmicas e umidade distintas. “Essas árvores conseguem se hidratar pelas folhas e ramos, uma adaptação crucial que favorece seu crescimento em altura em condições menos previsíveis”, explica Rafael Oliveira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Até recentemente, a presença de árvores gigantes nos trópicos era um fenômeno desconhecido, com descobertas recentes em Bornéu e, agora, na Amazônia, desafiando a compreensão científica prévia. A expedição de Bittencourt visa estabelecer um estudo detalhado e de longo prazo sobre esses gigantes, incluindo a instalação de uma estação meteorológica e equipamentos para monitorar a umidade do solo e a fisiologia das árvores. “Só um acompanhamento contínuo revelará a verdadeira dinâmica de crescimento dessas árvores”, afirma Bittencourt.
A equipe, que também conta com a ecóloga britânica Lucy Rowland e a bióloga Danielle Ramos, da mesma universidade, além do apoio de guias locais e do engenheiro florestal Christoph Jaster, diretor do PNMT, utiliza tecnologia de ponta, incluindo drones, para mapear e estudar as copas mais altas das árvores.
Este estudo não apenas amplia o entendimento sobre a biodiversidade amazônica, mas também contribui para a compreensão global sobre a adaptação das florestas às mudanças climáticas, representando um passo significativo na ciência ambiental e na conservação.
O diâmetro dos angelins-vermelhos precisa ser medido acima das saliências que contribuem para a sustentaçãoLéo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP
Em busca dos gigantes da Amazônia: a missão para mapear as árvores mais altas do Tumucumaque
No coração da floresta amazônica, no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), uma expedição científica liderada por especialistas revela descobertas surpreendentes sobre as árvores gigantes que desafiam as estaturas comuns da região. Sob a direção de Christoph Jaster, gestor do parque há duas décadas, e com a colaboração de pesquisadores como Paulo Bittencourt e Rafael Oliveira, o projeto busca não apenas entender, mas também chamar a atenção pública para a singularidade desta parte da Amazônia.
Diferenciando-se de outros parques nacionais brasileiros conhecidos por suas paisagens icônicas, como o Itatiaia, a Tijuca e o Iguaçu, o PNMT destaca-se pela imponência de suas árvores, particularmente o angelim-vermelho (Dinizia excelsa). Essas gigantes, que podem atingir alturas de 70 a 90 metros, oferecem um contraste marcante com a floresta amazônica típica, onde o dossel raramente ultrapassa os 40 metros.
A descoberta da extraordinária estatura das árvores do Tumucumaque veio à luz por volta de 2016, durante um monitoramento de biodiversidade iniciado dois anos antes. Rafaela Forzza, botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) à época, destacou a excepcionalidade desses colossos, impulsionando Jaster a buscar a árvore mais alta, com a esperança de encontrar exemplares próximos aos 90 metros.
Equipados com drones e ferramentas de medição, a equipe explorou a floresta, registrando mais de 80 árvores desproporcionais em apenas quatro dias de expedição. A maioria dessas gigantes eram angelins-vermelhos, atingindo alturas e diâmetros que desafiam o entendimento convencional sobre as limitações de crescimento das árvores na região amazônica.
Além de suas impressionantes dimensões, essas árvores apresentam uma discrepância significativa de biomassa em comparação com outras florestas estudadas, como as do projeto AmazonFACE, próximo a Manaus. Enquanto as árvores dessa região geralmente não excedem 30 metros de altura e 70 centímetros de diâmetro, as gigantes de Tumucumaque ultrapassam frequentemente os 70 metros e atingem até 2,5 metros de diâmetro, redefinindo as expectativas sobre a capacidade de crescimento das árvores tropicais.
Esta expedição não apenas destaca a riqueza e a diversidade da Amazônia, mas também reforça a importância da conservação e do estudo contínuo desses ecossistemas únicos, oferecendo novas perspectivas sobre a adaptação e a resiliência da vida vegetal em face das mudanças climáticas.
Árvores gigantes na Amazônia e Bornéu: novas descobertas em pesquisa global
Na Reserva Florestal Kabili-Sepilok, em Bornéu, e no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), no Brasil, pesquisadores estão desvendando os segredos das árvores gigantes, desafiando antigas noções sobre os limites do crescimento arbóreo nos trópicos. Enquanto em Bornéu as árvores alcançam estaturas comparáveis às do PNMT, suas dimensões de diâmetro e a densidade da madeira não se equiparam às amazônicas, sugerindo uma singularidade na biomassa da região do Amapá. Paulo Bittencourt, envolvido em pesquisas nos dois locais, aponta para a potencial maior densidade de biomassa dos trópicos no Amapá, graças a condições climáticas estáveis e proteção contra ventos fortes e raios.
A busca pela árvore mais alta levou Robson Borges de Lima, da Universidade do Estado do Amapá, e sua equipe a registrar um angelim-vermelho de 88,5 metros no Pará, possivelmente a árvore mais alta documentada na região. Esta descoberta, junto com outras observações de árvores que excedem os 80 metros, foi facilitada pelo uso da tecnologia Lidar em sobrevoos de avião, oferecendo uma nova perspectiva sobre a arquitetura e o crescimento das árvores tropicais.
Os dados coletados por Lidar estão revolucionando a compreensão da estrutura, do peso e do conteúdo de carbono das árvores, conforme destacado por Matheus Nunes, da Universidade de Maryland. Seu trabalho investiga como a arquitetura das árvores se adapta a condições ambientais desafiadoras, como a fragmentação florestal, e como essas adaptações influenciam o armazenamento de carbono, crucial para entender a resposta das florestas às mudanças climáticas.
Coleta de dados: escalador usando anel de saco de farinha; Bittencourt e Oliveira medindo árvores; e drone para buscar as copas mais altas
Nunes, agora parte do projeto Global Ecosystem Dynamics Investigation (Gedi) da Nasa e da Universidade de Maryland, visa aplicar essa abordagem globalmente, ampliando o conhecimento sobre as árvores gigantes e sua dinâmica de carbono. Essas pesquisas não apenas expandem o entendimento científico das florestas tropicais, mas também sublinham a importância da conservação desses ecossistemas vitais no contexto das mudanças climáticas globais.
*Com informações REVISTA FAPESP
Comentários