O caju brasileiro, será o grande protagonista no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel no Sambódromo do Rio de Janeiro nesta segunda-feira (12). O enredo “Pede caju que dou… Pé de caju que dá”, co-criado pelo ator e humorista Marcelo Adnet e pelo compositor Paulinho Mocidade, promete trazer não apenas a riqueza cultural, mas também os avanços científicos relacionados à fruta.
Gustavo Saavedra, chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, destacou a importância do caju como símbolo nacional. “Fruta brasileira não é banana, não é maçã. É caju!”, exclamou Saavedra em entrevista à Agência Brasil. A colaboração com a escola de samba se deu após a Embrapa, sediada em Fortaleza (CE) e líder nas pesquisas com caju, procurar a agremiação para compartilhar conhecimentos sobre as características e a tecnologia envolvida na produção da fruta.
Segundo Saavedra, a cajucultura moderna requer tecnologia avançada e sistemas produtivos sofisticados. A parceria entre a Embrapa e a Mocidade Independente resultou na troca de informações técnicas essenciais para a construção do samba, do enredo e dos carros alegóricos, marcando um diálogo frutífero entre ciência e cultura.
Em um gesto simbólico de união entre tradição e inovação, um cajueiro foi plantado na Cidade do Samba pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). Para enriquecer o desfile, a Embrapa doou 500 mudas de cajueiros anões, também conhecidos como clones, que serão destacados no carro alegórico dedicado ao caju e suas tecnologias de produção
Os clones, que representam o ápice da pesquisa agrícola, demoram cerca de 30 anos para serem desenvolvidos, passando por um rigoroso processo de seleção e cruzamento para garantir as melhores características produtivas, industriais e sensoriais. “Cada cultivar de caju é cópia de um conjunto de plantas que está lá na nossa estação experimental”, explica Saavedra, ressaltando a importância da clonagem para a uniformidade e qualidade da produção.
Como parte de uma ação social, a Mocidade Independente se comprometeu a distribuir as mudas para a comunidade após o carnaval, incentivando o plantio de cajueiros em quintais e parques locais. Este intercâmbio entre a ciência e o samba ilustra uma iniciativa pioneira de educação e conscientização ambiental, celebrando o caju não só como uma fruta, mas como um símbolo de inovação e identidade brasileira.
A expectativa é que o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel traga uma nova perspectiva sobre o caju, destacando sua importância não apenas na culinária brasileira, mas também como elemento chave na agricultura e na pesquisa científica do país. Este ano, a Marquês de Sapucaí será palco de uma verdadeira homenagem à riqueza natural e tecnológica do Brasil, promovendo o caju a estrela do carnaval carioca
O cajueiro gigante e o impacto na cajucultura brasileira
A Embrapa Agroindústria Tropical destaca o cajueiro gigante como uma das espécies nativas mais simbólicas do Brasil, embora não seja a mais adequada para a produção agrícola em larga escala. Diferentemente do cajueiro anão, que foi promovido no carnaval carioca pela Mocidade Independente de Padre Miguel, o cajueiro gigante apresenta desafios significativos para a estruturação de um sistema produtivo eficiente.
Gustavo Saavedra, explica que os cajueiros gigantes, com sua altura impressionante de até 15 metros, são mais adaptados ao modelo tradicional de extrativismo. Esta forma de cultivo limita a produtividade a aproximadamente 150 a 200 quilos de castanha por hectare, além de oferecer uma baixa eficiência no aproveitamento do pedúnculo, a parte comestível do caju.
A transição para o cultivo do cajueiro anão, segundo Saavedra, representa uma revolução na cajucultura. “Com árvores de cerca de 2,5 metros, que permitem a colheita manual do caju, a produtividade pode ultrapassar mil quilos de castanha por hectare”, afirma. Este salto é possível graças a uma combinação de técnicas avançadas de manejo, nutrição e controle de pragas e doenças, otimizando a densidade de plantio e a saúde das árvores
Os estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte lideram a produção de castanha de caju no país, onde cerca de 170 mil produtores, em sua maioria pequenos agricultores, cultivam a fruta em mais de 53 mil propriedades. A cajucultura é uma fonte vital de emprego, gerando aproximadamente 250 mil posições de trabalho diretas e indiretas, especialmente no Nordeste brasileiro. Esta região se beneficia particularmente da cajucultura, pois a demanda por mão de obra durante a colheita ajuda a suplementar a renda das famílias no período de entressafra das culturas anuais de subsistência.
A popularidade do caju e sua importância cultural foram recentemente evidenciadas pela escolha do tema pela Mocidade Independente de Padre Miguel, cujo samba se tornou um dos mais executados no Spotify este ano. “As pessoas estão cantando o samba do caju. Ele virou um hit”, comemora Saavedra, ressaltando o impacto positivo dessa visibilidade para a cadeia produtiva do caju.
Embora pesquisadores da Embrapa tenham lamentado a impossibilidade de participar diretamente do desfile devido à alta demanda por fantasias, a celebração do caju brasileiro no carnaval simboliza um reconhecimento da fruta como um tesouro nacional, além de promover a conscientização sobre a importância da inovação agrícola no Brasil.
*Com informações Agência Brasil
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