O Brasil inova com a integração de energia solar e agricultura através da agrofotovoltaica, prometendo revolucionar a produção rural com sustentabilidade e eficiência
O Brasil, já conhecido por combinar lavoura, pecuária e floresta, está agora iniciando a implementação de um novo conceito: a produção de energia agrofotovoltaica. Esse método permite a coexistência de agricultura e geração de energia solar na mesma área.
Ao contrário da abordagem usual onde painéis solares ocupam o solo, impedindo a atividade agrícola, um novo modelo em Minas Gerais, inspirado na Europa, possibilita a união de energia solar e agricultura no mesmo espaço. Este modelo surgiu na Alemanha e já foi explorado em Pernambuco e Alagoas.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em colaboração com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), está desenvolvendo o projeto, com apoio financeiro da Agência Nacional de Energia Elétrica e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
O projeto será executado em quatro módulos, cada um medindo entre 300 e 400 metros quadrados. Sob os painéis solares, serão cultivados melão, morango, feijão e alface, além de pastagem para gado. A coordenadora Polyanna Mara de Oliveira enfatiza que a meta é estabelecer um modelo sustentável de produção agrofotovoltaica para os agricultores.
Resultados promissores
Um projeto parecido, porém menor, foi realizado em Pernambuco em 2019, mostrando grande potencial, especialmente em regiões semiáridas. Desenvolvido na escola de agroecologia Serta, em Ibimirim, e coordenado pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), o projeto combinou aquaponia com a geração de energia via luz do sol, resultando em uma produção significativa de energia, alimentos e economia de água.
Em Alagoas, a Universidade Federal está avaliando, desde 2022, o uso da agrofotovoltaica em plantações de cana-de-açúcar. Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, foram instaladas estruturas com 210 painéis fotovoltaicos na usina Santa Clotilde, em Rio Largo, com capacidade de gerar nove megawatts por mês. Essa iniciativa resultou em um aumento de produtividade na cana-de-açúcar de 6% a 23%, dependendo da quantidade de painéis instalados.
Perspectivas futuras
Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), aponta que, apesar de ainda incipiente, o mercado de sistemas agrofotovoltaicos no Brasil tem grande potencial de crescimento. Atualmente, existem cerca de 196 mil sistemas fotovoltaicos em áreas rurais, representando 8,8% do total no país e uma potência instalada de 3,6 gigawatts. Os produtores rurais são o terceiro maior grupo de usuários de energia solar no Brasil, atrás apenas de residências e pequenos negócios, e representam 14,6% dos investimentos em energia solar de pequeno e médio porte no país.
Os pesquisadores da Epamig em Minas Gerais esperam que seu modelo agrofotovoltaico se torne um exemplo a ser seguido em outras regiões do Brasil. Com foco no semiárido mineiro e na região Centro-Oeste do estado, a coordenadora Polyanna destaca a relevância estratégica do modelo para o desenvolvimento socioeconômico dessas áreas. Ela enfatiza a importância do projeto, especialmente no semiárido, onde, além de enfrentar limitações climáticas, será realizado um trabalho de coleta e reutilização de água de chuva, avaliando a eficiência do uso da água para diferentes culturas.
Com informações do Globo Rural
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