“Diante do novo normal da sociedade, marcado por eventos climáticos extremos, a proteção das populações deve ser uma prioridade absoluta. A gestão sustentável é o caminho para garantir não apenas o presente, mas um futuro resiliente e próspero para Manaus.”
Por Belmiro Vianez Filho
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O que significa ESG e qual sua importância no debate sobre as eleições municipais? O mundo corporativo tem repetido com muita insistência a sigla ESG, criada há quase 10 anos, em Paris, pelos grandes empresários envolvidos no Acordo do Clima proposto pela ONU, a Organização das Nações Unidas. Environment Social and Governance, uma proposição polêmica que busca associar os empreendimentos aos novos tempos, com uma governança corporativa que leve em conta a componente ambiental e social no dia a dia das empresas. E o que tem a ver essa proposta inovadora, focada para rentabilizar negócios que estejam atentos ao meio ambiente e ao tecido social, com a escolha de prefeitos e vereadores em 2024? Vejamos.
Manaus, uma cidade situada no coração da Amazônia, a maior floresta tropical da Terra, enfrenta desafios singulares que exigem uma gestão urbana visionária e comprometida com a preservação ambiental. Além disso, com a pandemia, as autoridades e lideranças privadas se deram conta que o Brasil voltou ao Mapa da Fome, criado pela própria ONU, e que a vulnerabilidade socioeconômica colocou Amazonas, segundo dados do IBGE, ao lado do Maranhão, entre os estados mais vulneráveis, ou seja, com sua demografia situada na categoria de pobreza com tendência à miserabilidade.
Vou abordar em outro momento a questão da exclusão social, este vacilo gerencial que compromete a viabilidade e a evolução do capitalismo. Por ora, vou sugerir uma plataforma abrangente para candidatos a gestores municipais, destacando a necessidade premente de lidar com ameaças climáticas e promover uma relação mais consciente e harmoniosa entre a população e o meio ambiente.
É possível adaptar a crise climática às propriedades da gestão urbana? Penso que, à luz das ocorrências de eventos climáticos extremos, devemos priorizar a adaptação do espaço urbano aos efeitos das tragédias climáticas. Isso inclui a identificação de áreas de risco e a implementação de estratégias para alertar e retirar a população dessas regiões. Além disso, é essencial promover a educação ambiental desde a infância, capacitando os cidadãos a se tornarem defensores ativos do meio ambiente. O protagonismo civil é crucial para o sucesso dessas iniciativas. Se a população não assume protagonismo em seus problemas é porque o assistencialismo eleitoreiro está além de suas funções.
E ilegal e imoral investir fortunas em publicidade institucional para promover fulano ou beltrano como um herói da pátria disfarçado. O prefeito e os vereadores são servidores públicos e não objetos e finalidade do serviço público. Os recursos públicos destinados à publicidade institucional do município devem ser redirecionados para campanhas educativas. O foco dessas campanhas deve ser a promoção do espírito público e urbanístico, visando moldar valores desde a infância. A conscientização sobre a importância da preservação ambiental e a participação ativa na construção de uma cidade mais sustentável devem ser metas centrais.
Manaus, apesar de ser uma cidade no coração da floresta, apresenta algumas das menores taxas de cobertura vegetal do país. A gestão urbana deve liderar esforços de rearborização, incluindo a construção de parques e o plantio de árvores nativas ao longo das vias públicas. Essas ações não apenas contribuem para a preservação ambiental, mas também melhoram a qualidade de vida dos cidadãos. Recomendo um estágio em cidades como Goiânia e Curitiba, referências nacionais de urbanismo voltado para o cidadão. Construir prédios no Parque dos Bilhares é simplesmente insensato.
A recente vazante histórica dos rios e igarapés da Região Metropolitana de Manaus revelou leitos fluviais transformados em verdadeiros lixões. A gestão municipal deve esclarecer/informar/educar a população e associar o descarte inadequado de resíduos nos corpos d’água aos riscos de contaminação e de múltiplas doenças da população. Campanhas de conscientização e medidas rigorosas de fiscalização são fundamentais para reverter essa situação.
Como envolver novas pesquisa e inovação para enfrentar o aquecimento climático? Ora, por que não desafiar institutos de pesquisa a desenvolver novas substâncias de calçamento de ruas no lugar ou adicionadas ao asfalto. Isso seria uma estratégia inovadora e pode influenciar positivamente o espaço urbano global. Esses materiais criativos devem ser projetados levando em consideração a mudança climática, buscando soluções que contribuam para a redução do aquecimento urbano e promovam a sustentabilidade.
Não sou urbanista, mas acredito na estratégia indígena do mutirão para encontrar soluções coletivas para a sociedade. Por exemplo, desenhar e executar uma plataforma de Defesa Civil para Manaus. Temos pesquisadores talentosos que, se provocados e engajados são capazes de soluções impactantes. Lembro de ter ido, certa vez, ao município de Urucará, governado pelo saudoso Pedro Falabella, acompanhando outro paradigma de gestão pública, Gilberto Mestrinho. Entre as ações que me chamaram a atenção destaco os jardins das casas humildes pelas ruas por onde passamos. As primaveras (Bougainville), das mais diversas cores, emprestavam glamour e fascínio da simplicidade. O prefeito fazia concurso para premiar as ruas e as casas mais floridas. Parabéns, Falabella.
Por fim, me permito insistir junto aos candidatos uma plataforma robusta de Defesa Civil que não apenas reaja, mas preveja e previna desastres climáticos nas áreas de risco. Diante do novo normal da sociedade, marcado por eventos climáticos extremos, a proteção das populações deve ser uma prioridade absoluta. A gestão sustentável é o caminho para garantir não apenas o presente, mas um futuro resiliente e próspero para Manaus.
Belmiro Vianez Filho é empresário do comércio, ex-presidente da ACA e colunista do portal BrasilAmazôniaAgora e Jornal do Commércio
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