Que 2024 surja renovado de esperanças e construções de consensos mínimos sobre a Amazônia. Que encontremos uma caminhada pela equidade, que demandará esforços onde não sejamos percebidos como atrasados ou condenados ao atraso, mas como iguais que precisam superar as curvas da história e dos rios, atrás de uma sustentabilidade verdadeira e de um caminho menos destrutivo da natureza, aprendendo com os erros do passado nacional que destruiu e destrói tanto para tão poucos.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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As unanimidades são burras, mas os consensos construídos podem apontar a prosperidade. A deliberação razoável para a construção de consensos, sem imposições, com calma, com respeito ao pensamento racional e diverso é superimportante para a Amazônia. Na reforma tributária, conseguimos construir um destes consensos, ao proteger a Zona Franca de Manaus, abandonando a rota destruidora de 2021 e 2022.
A preservação da floresta também ganhou novos contornos, quando percebemos o desmatamento crescendo em taxas menores, apesar do fumaceiro que experimentamos em Manaus. A retomada de projetos de infraestrutura, como a BR-319 ou a Concessão do Rio Madeira, reacende a esperança de uma realização de investimentos na região.
A COP28 que aconteceu em Belém e a sua eleição para sediar a COP30, em 2025 demonstra outro marco positivo. As reflexões ambientais sobre a exploração do Petróleo na região, sem as intransigentes e impensadas decisões do passado também é um alento. Todavia, mesmo com tantos ares positivos, ainda faltam ações mais contundentes.
De maneira geral, a transição dos projetos para as execuções sustentáveis não sai do papel ou do plano. Experimentamos uma crescente assimetria da Amazônia frente ao restante do país. Há pouco investimento e uma enorme área. Há bastante exploração não regulada, salvo nos grandes centros. Há ainda uma desinformação enorme sobre a região. O país segue se referindo ao Norte do Brasil como se fosse uma área sem habitantes ou uma conurbação com o Nordeste.
Há muitas hipóteses sobre a Amazônia e poucos estudos. Muito Google e satélite e pouca incursão no solo ou nos rios da região. Muita percepção remota, sem vivência da realidade. Precisamos começar a transitar da teoria para a prática, do remoto para o presencial, do eu acho para eu investiguei pessoalmente.
Neste contexto, as oportunidades são muitas e elas precisam ser realizadas como consensos razoáveis, tal qual John Rawls refletia ao afirmar que “o político visa à próxima eleição, o estadista, à próxima geração”, assentando seu pensamento em uma justiça com equidade. Estamos na Amazônia ainda atrás deste conceito, pois por aqui fala-se em um liberalismo da destruição e não da liberdade para a equidade. A expectativa de consensos levará a uma superação das lutas violentas e das vitórias pela opressão. Temos por aqui uma grande oportunidade de superar as diferenças sociais e políticas.
A Amazônia de 2023 é uma região de mais esperanças, mas ainda de muitas desigualdades frente ao país e ao mundo. Enquanto a busca pela equidade não for a tônica da região, de tal forma que todos tenham acesso verdadeiro às mesmas oportunidades, não teremos uma prosperidade real. Enquanto os investimentos por habitante e por quilômetro quadrado forem menores do que no restante do país, seguiremos a aprofundar as diferenças regionais.
Que 2024 surja renovado de esperanças e construções de consensos mínimos sobre a Amazônia. Que encontremos uma caminhada pela equidade, que demandará esforços onde não sejamos percebidos como atrasados ou condenados ao atraso, mas como iguais que precisam superar as curvas da história e dos rios, atrás de uma sustentabilidade verdadeira e de um caminho menos destrutivo da natureza, aprendendo com os erros do passado nacional que destruiu e destrói tanto para tão poucos.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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