O senador Plínio Valério (PSDB-AM), atual presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito das Organizações Não-Governamentais (CPI das ONGs), está no centro de uma controvérsia após a Agência Pública revelar que ele havia solicitado autorização para explorar ouro em áreas preservadas da Amazônia, em São Gabriel da Cachoeira (AM), há 40 anos.
De acordo com os registros da Agência Nacional de Mineração (antigo DNPM), Valério apresentou cinco requerimentos em maio de 1983, cada um para uma área de 1.000 hectares, somando um total de 5.000 hectares. Essas áreas são notáveis pela presença de povos indígenas e reservas ambientais, incluindo a Terra Indígena Balaio e a Reserva Biológica Morro dos Seis de Lagos. Todos os pedidos foram negados em setembro do mesmo ano.
A Terra Indígena Balaio, que abrange 257 mil hectares e é habitada por nove povos indígenas, teve sua demarcação iniciada na época dos requerimentos e concluída em dezembro de 2009.
Em resposta às descobertas, o senador Plínio Valério, que é jornalista formado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), defendeu-se alegando que seus pedidos tinham um propósito jornalístico. Ele afirma que, aos 29 anos, estava trabalhando em uma reportagem sobre a mineração na região amazônica e queria compreender a atuação das ONGs na área.
Os cinco requerimentos de pesquisa feitos por Plínio Valério somavam uma área de 5 mil hectares em São Gabriel da Cachoeira (AM)
“Nunca pretendi mexer com ouro. O meu propósito era, enquanto repórter, desvelar e compreender os métodos operacionais dessas entidades”, declarou Valério. Ele argumentou que, dado seu salário de jornalista na época, seria inviável para ele explorar minério de fato.
Este episódio surge em um momento em que a CPI das ONGs, sob a presidência de Valério, investiga as atividades de organizações não-governamentais na Amazônia, levantando questões sobre os interesses e motivações por trás das ações do senador ao longo de sua carreira.
A controvérsia de Plínio Valério e a visão crítica sobre o ambientalismo
Apesar de indagações da Pública sobre em qual veículo jornalístico ele atuava na época e se a reportagem mencionada foi publicada, Valério não respondeu. Ele afirmou que sua investigação influenciou sua postura atual, argumentando contra o “isolamento da Amazônia” e a limitação à exploração de recursos naturais. “É uma luta antiga”, disse.
Valério, conhecido por questionar o papel das ONGs na Amazônia, lidera a CPI com o objetivo de “abrir a caixa-preta” dessas organizações. Ele e o relator, senador Márcio Bittar (União-AC), prometeram um relatório contundente contra as ONGs, apontando supostas irregularidades e cobrando reformulações em programas como o Fundo Amazônia.
Suas visões frequentemente colidem com as evidências científicas sobre mudanças climáticas, um ponto reforçado pelas declarações de convidados negacionistas na CPI. Valério, destacando suas raízes amazônicas, critica o que chama de “ambientalismo apocalíptico”, defendendo uma abordagem mais favorável à exploração de recursos naturais
Da direita para a esquerda: ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; presidente da CPI das ONGS, senador Plínio Valério (PSDB-AM); relator da CPI das ONGS, senador Marcio Bittar (União-AC)
Durante a CPI, a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, esclareceu que os projetos do Fundo Amazônia são auditados pelo Tribunal de Contas da União, sem irregularidades encontradas. Valério, contudo, insiste na necessidade de maior fiscalização e na busca por projetos de lei que beneficiem a população local.
A CPI, prorrogada até 19 de dezembro, continua sendo um palco para o debate sobre a gestão ambiental e o papel das ONGs na Amazônia, revelando divisões profundas nas abordagens políticas e ideológicas sobre a conservação e o desenvolvimento da região.
*Com informações de Agência Pública
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