“Em clima de temporada eleitoral, a palavra de ordem é resgatar a paisagem natural que nossa civilização depredou e transformou no lixo com quem temos tudo para aprender e reaprender, de verdade, sem oportunismo nem fulanização. Só a transformação”
Por Belmiro Vianez Filho
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Uma reportagem recente na mídia tradicional de televisão sobre as revelações da vazante severa escancarou o lixão a céu aberto que se esconde sob as águas do cotidiano e compromete sua qualidade e a saúde da população. Uma chance única para a prefeitura da cidade assegurar a limpeza a custos básicos e no modo gestão inteligente. Uma iniciativa que poderia juntar o poder municipal e estadual para economizar os gastos frequentes e inúteis da limpeza meia boca que o lixão submerso simplesmente atesta. De quebra, essa limpeza traria um ativo publicitário sem precedentes atrás do qual todos correm. Sim, sem precedentes e com efetivos ganhos para o que se pode chamar de lixo eleitoral.
Há uma ironia explícita neste comentário, pois a iniciativa, longe de ser encarada como ativo eleitoreiro, é obrigação ipso facto do poder de plantão, a quem compete a gestão do lixo e sua destinação igualmente inteligente. No Paraná, onde a academia trabalhou em favor da cidadania, para dar um exemplo, esse lixaral é transformado em energia depois do processo seletivo de engenharia que lhe é aplicado, com o reaproveitamento dos resíduos de acordo com os diversos protocolos de transformação do lixo em luxo para seus aproveitadores. Lavoisier desmaiaria, se vivo, diante de tanto desperdício. “Na Natureza (e nos lixões dos municípios) nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.
Paraná terá a 1ª usina do Brasil a gerar energia por meio de esgoto e lixo – Crédito: CASACOR
Entretanto, o xis dessa incômoda questão não para por aí. Não basta ordenar, reciclar e reutilizar. Há um processo simultâneo em jogo que deve ser, simultaneamente, desencadeado. Um processo sagrado, precioso e, equivocadamente, não assumido. O chamado processo educacional. Sim, a gestão do lixo e a relação com o meio ambiente, não devem ser tratadas isoladamente do processo educacional. Mais do que nunca a educação se apresenta no esplendor de suas promessas e no horror do descaso que é capaz de desconstruir.
Casa flutuante costumava ficar à beira do rio Negro, mas por causa da seca em Manaus está rodeada de lixo Foto: Edmar Barros/AP
Ou seja, da mobilização positiva das consciências dos adultos e do aproveitamento inadiável da energia limpa que as crianças costumam nos emprestar estão as saídas. São soluções factíveis e sequer lhes prestamos atenção. O que chamo de energia limpa é um ativo precioso de que pudemos lançar mão para transformação dos costumes. Se dermos aos pequeninos e pequeninas a oportunidade de entrar em ação, poderemos crer na mais bela metamorfose da salvação do planeta e de nós mesmos que a educação das crianças representa.
Lixo vai produzi energia – Foto divulgação
E como se daria isso? Não arriscaria respostas técnicas pois, é uma pena, não sou qualificado para tal. Palpites, entretanto, ninguém tem o direito de guardar para si diante de um tema de tal relevância local, municipal, global. O primeiro palpite é a revisão urgente do uso e abuso das verbas publicitárias da Comunicação. Este dinheirão não pode ser usado para mistificar o gestor do lugar.
Manaus e o dinheiro que a cidade recolhe, me perdoem a sinceridade, não é para promover sicrano ou beltrano. É para atender os interesses dos e das munícipes. E investir boa parte dessa dinheirama em educação socioambiental, na instalação de novos códigos de posturas e costumes com relação à Natureza, tenham certeza. Só assim a paisagem manauara será mudada e emoldurada pelas tintas maravilhosas da transparência e da competência gerencial, conduzidos pelos motores de última geração, da educação.
Os estudantes através da Fundação FAS aprendem sobre conservação ambiental, qualidade de vida e rendas geradas pela floresta – FAS/Rodolfo Pongelupe
Além dos recursos da publicidade voltada para interesses transviados, outras parcelas devem ser destinadas à educação institucional, que podem ser o desfecho mais efetivo dessa equação. Imaginem professores, servidores, gestores e todas as alunas e alunos da rede municipal engajados no desafio socioambiental. Imaginem como seriam glamurosas e valiosas as disputas de reciclagem e de interação festiva e participativa na plataforma socioambiental. Campanhas criativas, atividades competitivas e construtivas a gerar soluções.
As combinações, os novos padrões de estreitamento no relacionamento da pessoa, de todas as pessoas, com o ambiente recuperado. Em clima de temporada eleitoral, a palavra de ordem seria outra: resgatar a paisagem natural que nossa civilização depredou e transformou no lixo com quem temos tudo para aprender e reaprender, de verdade, sem oportunismo nem fulanização. Só o foco no propósito da transformação.
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Belmiro Vianez Filho é empresário do comércio, ex-presidente da ACA e colunista do portal BrasilAmazôniaAgora e Jornal do Commércio
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