O Rio Negro, uma das principais fontes de vida e sustento na região Amazônica, atingiu na manhã desta segunda-feira um nível de profundidade alarmante de 13,59 metros, de acordo com medições realizadas pelo Porto de Manaus. Esse registro torna-se a menor profundidade desde 2010, quando o nível da água chegou a 13,63 m, superando também a seca de 1963, que tinha marcado 13,64 m.
A queda abrupta foi evidenciada pela redução de 32 centímetros no nível do rio entre sábado e segunda-feira, com reduções diárias de 13 cm, 9 cm e 10 cm, respectivamente.
O impacto dessa estiagem sem precedentes já afeta a vida e a logística de dezenas de municípios. Segundo um boletim recente divulgado pelo governo do estado, até as 14h de domingo, 50 municípios encontravam-se em situação de emergência. Outras 10 cidades estão em alerta, enquanto apenas duas mantêm uma situação de normalidade. Ao todo, aproximadamente 451 mil pessoas, equivalentes a 112 mil famílias, estão sofrendo os impactos diretos desta crise hídrica
Com o Rio Negro neste nível crítico, 38 municípios estão isolados, tornando o acesso fluvial completamente inviável. Antigas rotas navegáveis deram lugar a extensas faixas de areia e lama. A cidade de Maués exemplifica o desafio atual: sob condições normais, uma viagem de barco levaria cerca de sete horas. Agora, as embarcações demoram o dobro do tempo, frequentemente encalhando em bancos de areia.
Além de afetar a mobilidade dos residentes locais, a seca também causou interrupções significativas na logística comercial da região. Empresas especializadas no transporte de contêineres já suspenderam suas operações para Manaus. Além disso, balsas que transportam carretas estão retidas em portos locais, pois o nível extremamente baixo da água impediu o desembarque dos veículos, ficando aquém das rampas de embarque e desembarque em terra firme.
As consequências desta seca sem precedentes são palpáveis e afetam diretamente a vida, o comércio e a mobilidade da população da região. A situação exige ações emergenciais e soluções sustentáveis para enfrentar os desafios impostos pela mudança climática na Amazônia.
Seca histórica no Amazonas impacta economia e gera reavaliação orçamentária
A severa estiagem que assola o Rio Negro e isolou municípios na região também tem consequências drásticas na economia do Amazonas. O cenário, antes de vitalidade nos rios e comércio fluindo, hoje se transformou em preocupações acerca do orçamento estadual e do bem-estar das comunidades.
De acordo com o Governo do Amazonas, as projeções otimistas de arrecadação têm sofrido revisões significativas devido aos impactos da seca. Originalmente, a estimativa era de que o ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – geraria uma receita de R$ 14,6 bilhões. No entanto, essa projeção foi reduzida para R$ 13,9 bilhões. Ademais, a expectativa de arrecadação para o FPE (Fundo de Participação do Estado) caiu de R$ 4,4 bilhões para R$ 4,1 bilhões.
A perspectiva orçamentária para 2024, que antes apontava para uma alta de 9,75% em relação ao ano corrente, também enfrenta reajustes. Segundo o projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) enviado à Assembleia Legislativa em junho, o orçamento seria de R$ 29,3 bilhões. No entanto, diante das adversidades enfrentadas, esse montante tende a ser revisado para um valor menor.
A situação das comunidades rurais ribeirinhas também é de alerta. De acordo com um levantamento recente da Secretaria Executiva de Proteção e Defesa Civil Municipal, 63 dessas comunidades em Manaus estão sendo diretamente afetadas pela seca atual. Como medida emergencial, a prefeitura tem fornecido cestas básicas, água potável e itens de higiene às famílias impactadas.
Os números e as ações emergenciais só reforçam a gravidade da situação. O desafio agora é não apenas enfrentar as consequências imediatas dessa estiagem, mas também repensar estratégias de longo prazo para fortalecer a resiliência econômica e social do estado diante de desafios climáticos crescentes.
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