As rotas para a bioeconomia próspera estão numa dimensão científica e de empoderamento local, com cadeias produtivas que precisam ir além dos Processos Produtivos Básicos de decretos ou portarias, pois não existe geração espontânea de empreendimentos
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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O que distingue a Amazônia de outros cantos do planeta? A biodiversidade. Quem mora em Manaus, como eu, tem sofrido nos últimos dias, respirando a fumaça das queimadas. Ao permitirmos isso, tocamos fogo no que nos marca. Para sermos notados e termos alguma relevância, precisamos parar de nos incinerar e repetir os erros de outros lugares. Devemos, como sociedade, fugir desta caminhada, encontrando uma rota de prosperidade, preferencialmente para todos, em uma sociedade de objetivos compartilhados, que não seja a autodestruição.
A nossa insignificância global começará a mudar a partir do momento em que tomemos a consciência da necessidade de investigar nossas potências, com um olhar imediato para o uso responsável. A transformação da Amazônia não será com o agro rebatizado de “bioeconomia” – que é um nome bem inapropriado para isso, mas que vem sendo adotado com este sentido. As rotas para a bioeconomia próspera estão numa dimensão científica e de empoderamento local, com cadeias produtivas que precisam ir além dos Processos Produtivos Básicos de decretos ou portarias, pois não existe geração espontânea de empreendimentos.
Precisamos criar as condições amplas para cadeias produtivas verdadeiramente sustentáveis. Não precisamos de “conservadores” que queiram destruir ou “revolucionários” que pretendem deixar tudo como está, muito menos daqueles que pregam a “liberdade” sua – e não a dos demais. O caminho da transformação na Amazônia passa pelo aproveitamento do que funciona, reconhecendo que a manutenção da diversidade é algo certo e que a indústria que gera emprego e impostos também funciona.
Entretanto, sem infraestrutura, com proteção cega do meio ambiente, jamais teremos alguma mudança de conjuntura e seguiremos, de queimada em queimada, autorizada, acobertada ou acidental. Já chegou a hora de entendermos que é necessário um estoque minimamente razoável de infraestruturas, com rodovias, portos, aeroportos e cadeias produtivas, com medidas que assegurem a preservação do meio ambiente. Este conjunto de ações, associadas com uma política nacional para a bioeconomia, como já estudado pelo CGEE, é que viabilizará uma rota para a prosperidade.
Outro passo fundamental é adaptar nosso modelo para uma plataforma tecnológica mais avançada, como constituído pela Alemanha ou França – também detalhadas no estudo supracitado. É necessária a investigação do conhecimento tradicional conjugada com a pesquisa básica, o que viabilizará produtos em pesquisas aplicadas, com plataformas de desenvolvimento tecnológico, chegando às inovações tecnológicas. Fora disto, teremos um agro disfarçado. A rota da bioeconomia do Sudeste e do Centro-oeste está muito vinculada ao que é o bio daquelas regiões: uma necessidade de recuperação. Todavia, na Amazônia, precisamos nos concentrar antes de tudo em não destruir.
Orientar as ações com este amplo espectro de condições é um grande desafio, pois as diretrizes atuais nos levam para uma fumaça envergonhada, para o pasto disfarçado ou para a exploração moderna do agro, usando os mesmos métodos dos antigos seringais, com uma mera troca de espécies.
Não sabemos ainda os caminhos de uma convivência pacífica da biodiversidade e de uma economia produtiva que inclua as pessoas da região somada ao desenvolvimento tecnológico, com agregação de valor. O que sabemos e temos feito com maestria é a exploração destrutiva. Enquanto não reconhecermos isso, não teremos a oportunidade da transformação.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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