O papel dos povos indígenas e das comunidades rurais nessa metamorfose bioeconômica é primordial
Por Mario Lubetkin
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No marco do Dia Internacional dos Povos Indígenas (comemorado em 9 de agosto), é imprescindível refletir sobre a confluência entre a preservação ambiental, o surgimento da bioeconomia e os direitos intrínsecos dos povos indígenas e comunidades rurais amazônicas.
Este vasto pulmão verde, que cobre 6 milhões de km2 e abrange nove nações, é considerado uma das áreas de maior diversidade biológica do planeta, estimando-se que cerca de 10% de todas as espécies vegetais se encontrem nesta região, incluindo mais de duas mil espécies de peixes, 14.000 espécies de plantas e cerca de 1,5 milhão de espécies de fungos.
No entanto, a Amazônia enfrenta ameaças sem precedentes. As projeções apontam para um desmatamento alarmante até 2030, com impactos econômicos e ecológicos que podem se traduzir em perdas de mais de US$ 230 bilhões, segundo o BID.
Este problema é global. Antonio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, destacou que a era da ebulição global chegou. Esta declaração alarmante foi emitida depois que os cientistas indicaram que o mês de julho de 2023 estava a caminho de se tornar o mês mais quente já registrado no mundo.
Sob qualquer cálculo científico, a possibilidade de deter o aumento da temperatura global para 1,5ºC (acima dos níveis pré-industriais) requer uma floresta amazônica saudável.
Em meio a esse complexo panorama, surge uma luz de esperança. Os povos indígenas e comunidades rurais da Amazônia estão enraizados em seu profundo conhecimento ancestral e em uma relação simbiótica com a selva, eles detêm a chave para uma transformação sustentável.
Aproximadamente 45% das florestas intactas da bacia amazônica estão nas mãos de comunidades indígenas. Além disso, entre 2003 e 2016, a vegetação em territórios indígenas da bacia amazônica capturou cerca de 90% do carbono emitido pelo desmatamento e degradação florestal nesses mesmos territórios.
Isso significa que esses territórios contribuíram significativamente para a redução das emissões líquidas de carbono, preservando a floresta amazônica.
Os povos indígenas e comunidades rurais da Amazônia residem em regiões de vasta biodiversidade e preservam conhecimentos ancestrais essenciais para a proteção e revitalização do bioma amazônico.
Além disso, possuem uma capacidade produtiva essencial que garante alimentação e nutrição para uma população urbana crescente. No entanto, apesar de suas contribuições inestimáveis, eles enfrentam desafios significativos, como pobreza, violência, desemprego e fome.
Para dar vida a uma bioeconomia amazônica renovada, é fundamental honrar os direitos dos indígenas, comunidades afrodescendentes, mulheres, jovens e agricultores familiares. Apesar de suas diferenças, todos compartilham um objetivo unânime, a preservação da Amazônia.
A consolidação de uma bioeconomia amazônica equitativa e colaborativa requer a implementação de políticas que desviem os investimentos de ações danosas às florestas, o fortalecimento da cooperação entre as nações amazônicas, o conhecimento detalhado das interações entre áreas rurais e urbanas e a criação de sólidos plataformas que integram conhecimentos ancestrais com os mais recentes avanços científicos e tecnológicos.
Protagonismo
O protagonismo dos povos indígenas e das comunidades rurais nessa metamorfose bioeconômica é insubstituível.
São eles que não só guardam a selva, mas também decifram e aproveitam os seus recursos numa perspectiva sustentável, crucial para a segurança alimentar global e para os sistemas agroalimentares que promovem uma melhor produção, melhor nutrição, melhor meio ambiente e melhor qualidade de vida, sem deixar ninguém para trás.
A proteção da Amazônia e a promulgação de uma bioeconomia inclusiva transcendem fronteiras. É uma chamada universal. No marco deste Dia dos Povos Indígenas, reafirmamos nosso compromisso com os povos indígenas e com as comunidades rurais da Amazônia em sua aspiração por um futuro equitativo e resiliente.
Mario Lubetkin, Representante Regional da FAO para a América Latina e o Caribe
Artigo publicado originalmente no Globo Rural
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