Repetir Nova York certamente não é o “sucesso”, basta que andemos por lá. Também não é o que temos em Manaus, basta que andemos por aqui. Temos que tomar cuidado com os sacrifícios que escolheremos fazer e para quem os faremos. A construção do “sucesso” do futuro não será repetir as destruições do passado, nem reproduzir modos de vida estrangeiros.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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A dicotomia sobre o que é sucesso ou fracasso persegue a construção do futuro. Cada um que acredita que possui a “verdade” e que a “verdade” dos demais é idiota possui um sério problema de relacionamentos. Quando compartilhamos nossas verdades e construímos histórias compartilhadas, vamos formando uma sociedade, que pode ser próspera ou não, como analisado por historiadores como Yuval Harari.
Temos tido um grande sucesso que é a indústria da Zona Franca de Manaus, pois ela (junto com outras questões, é claro) oportunizou uma expressiva proteção da floresta no Amazonas. Porém, a maior parte do Brasil, como sonâmbulos, tem sido contra qualquer tipo de “incentivo”, mesmo sendo normal que existam incentivos. O que tem faltado são critérios para mensurar se eles apresentam ou não resultados. O que tem acontecido é o oposto: primeiro se pensa o que quer e depois nos critérios.
O automatismo na contrariedade aos incentivos é contraproducente. O mundo inteiro apresenta proteções e incentivos para oportunidades. Por aqui, parece que queremos esmagar as histórias de sucesso dos outros. Temos chamado de “liberdade” a oportunidade de esmagar o outro e de “conservador” aquele que destrói. Precisaremos encontrar um caminho onde a liberdade seja usada para o respeito ao próximo e o liberalismo pela possibilidade de ter a liberdade para empreender sem destruir.
A releitura dos conceitos e a calma serão necessárias para construir um desenvolvimento inclusivo, em especial em nossa região, pois quando você mora e internaliza a Amazônia, você percebe a sua insignificância cósmica. Aceitar este “ser nada” e se harmonizar com a natureza é a grande lição que precisaremos aprender, para desenvolver verdadeiramente a qualidade de vida de todos que aqui vivem, para um padrão próprio de qualidade de vida, que não seja, por exemplo, destruindo muito para recolher metais raros, com o propósito de mover um veículo elétrico por poucas milhas nos EUA ou China.
A ineficiência no uso dos recursos naturais é algo que precisa ser transcendido e aqui temos um grande campo de trabalho para aprender. Afinal, faz milhares de anos que a região é habitada, mas ainda não compreendemos ou aceitamos o que isso é um sucesso. Parece que o sucesso é aquilo que se vivem em Nova York, Paris ou Beijing. E se a vida de sucesso for aquela vivida em Maués ou São Gabriel da Cachoeira?
A liberdade de impor o que quero e acredito para outros possui outro nome. Precisamos começar a refletir sobre os modos de vida e sobre o que se quer efetivamente, para que não sigamos a destruir o mundo. Precisaremos de infraestrutura para aproveitar os recursos da Amazônia? Sim. Qual tipo de infraestrutura? Aqui começam os problemas a serem decifrados, pois, muito longe de certezas, surgirão outras questões: para qual atividade econômica? A partir daqui é que começarão as oportunidades de construção do sucesso ou do fracasso do futuro.
Repetir Nova York certamente não é o “sucesso”, basta que andemos por lá. Também não é o que temos em Manaus, basta que andemos por aqui. Temos que tomar cuidado com os sacrifícios que escolheremos fazer e para quem os faremos. A construção do “sucesso” do futuro não será repetir as destruições do passado, nem reproduzir modos de vida estrangeiros. Precisaremos entender nossos modos de vida e respeitá-los, mais do que reproduzir modos de vida de outros, que talvez eles não preencham nossas aspirações como sociedade.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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