No final de junho, o empresário Elon Musk publicou em seu perfil uma opinião controversa sobre o impacto da atividade humana nas mudanças climáticas. Segundo o bilionário, “o que acontece na superfície da Terra (por exemplo, a agricultura) não tem impacto significativo nas mudanças climáticas“. De acordo com Musk, o risco da mudança climática vem predominantemente da movimentação de carbono nas profundezas do subsolo para a atmosfera. Ele também alertou que, se essa situação persistir, a composição química da atmosfera pode mudar o suficiente para induzir uma mudança climática significativa.
No entanto, cientistas apontaram que Musk estava equivocado em sua análise. Segundo os especialistas, a poluição por gases de efeito estufa da agricultura, silvicultura e outros usos da terra representa entre 13% e 21% das emissões globais entre 2010 e 2019. Além disso, os seres humanos já aqueceram o planeta em 1,2 grau Celsius, o que tem ocasionado a ocorrência mais frequente e intensa de eventos climáticos extremos, como inundações, ondas de calor e tempestades. Desde 2008 a Revista Climática Global e Mudança Ambiental, vem publicando estudos a respeito do tema.
“Sem dúvida, as atividades humanas, principalmente por meio de emissões de gases de efeito estufa, causaram o aquecimento global”, afirmou o Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados, uma organização de pesquisa global com sede na Áustria, em resposta a Musk. Figura pública com mais de 145 milhões de seguidores no Twitter, deve sofrer com a falta do que fazer e tem utilizado sua conta na rede social para promover teorias da conspiração. Desde que comprou a plataforma em outubro, a empolgação não baixou e ele segue como um alvo frequente de críticas por disseminar informações reconhecidamente falsas, incluindo ataques a figuras públicas como o bilionário filantropo George Soros, que frequentemente é alvo de ódio antissemita, a Nancy Pelosi, política americana do Partido Democrata, e ao grupo de jornalismo investigativo Bellingcat.
Em entrevista à emissora americana CNBC em maio, Musk afirmou ser “um absolutista da liberdade de expressão” e que não mudaria sua postura apesar das consequências financeiras, dizendo: “Vou dizer o que quero dizer, e se a consequência de fazer isso for perder dinheiro, que assim seja”. A disseminação de teorias da conspiração por figuras públicas é preocupante, uma vez que pode contribuir para a difusão de informações falsas e prejudicar a credibilidade do jornalismo investigativo. Ainda que a liberdade de expressão seja um direito fundamental, é importante que ela seja exercida com responsabilidade, sobretudo por aqueles que possuem grande influência na sociedade.
Tal fato argumenta a favor da necessidade urgente de se regulamentar as plataformas digitais. Ao final do expediente, o ambiente digital brasileiro precisa proteger os direitos dos usuários e trabalhadores, estabelecer normas para o combate a desinformação, além de garantir a segurança dos dados pessoais, informações sensíveis que são comercializadas pelas empresas após o aceite dos termos de uso. Também é necessário promover a concorrência justa no gigantesco mercado nacional enquanto disciplina esforços para proteger a sociedade contra os crimes virtuais e discursos de ódio. Além disso, é crucial evitar abusos de poder por parte das grandes empresas de tecnologia a fim de garantir que elas cumpram as leis e regulamentos aplicáveis.
O negacionismo climático nas redes sociais tem se intensificado, de acordo com um recente estudo realizado pelo grupo de campanha global Ação Contra a Desinformação Climática e o pesquisador de desinformação Abbie Richards. Desde julho de 2022, o número de tweets com termos de negação climática aumentou de cerca de 30 mil por semana para cerca de 110 mil. As publicações incluem alegações de que a mudança climática é uma “fraude” promovida por “globalistas”.
Os cientistas alertam que a intensidade e o número de ataques em negação ao clima também cresceram desde que o CEO da Tesla, assumiu a posição de protagonismo em seu negacionismo. “As coisas definitivamente pioraram muito desde que Musk assumiu”, alerta Julia Steinberger, autora do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), apoiado pela ONU. Steinberger, que é professora de economia ecológica da Universidade de Lausanne, na Suíça, relata que bloqueou dezenas de milhares de contas abusivas ou negacionistas. Em uma recente postagem, ela chamou o excêntrico sul-africano de negacionista do clima. Algumas das respostas à publicação continham críticas genuínas, enquanto outras vieram de negacionistas do clima e trolls abusivos. A crise climática é uma das maiores ameaças que a humanidade enfrenta atualmente. Essa crescente onda de negacionismo nas redes sociais pode ter graves consequências na luta contra a mudança climática, tornando ainda mais difícil alcançar as metas climáticas necessárias para garantir um futuro sustentável para o planeta. Onde é que estarão esses ? Quando o planeta resolver nos oferecer eventos climáticos extremos, como ondas de calor já enfrentadas por um número cada vez maior de lugares. Sem mencionar a violência com que furacões e secas prolongadas impactarão significativamente a vida humana como a conhecemos hoje na Terra.
Elon Musk, é reconhecido por suas declarações preocupantes sobre as mudanças climáticas, vem diminuindo a importância da agricultura na redução das emissões de gases de efeito estufa. Apesar de ter alertado sobre a seriedade e gravidade das mudanças climáticas na última década, nos últimos meses ele minimizou o papel da agricultura e afirmou que os esforços para controlar a poluição gerada pelas fazendas não ajudarão a enfrentar o problema. Em março deste ano, respondeu a um post sobre os agricultores belgas, que protestavam contra as leis que visavam diminuir as emissões de nitrogênio. Ele afirmou que é a favor da luta contra as mudanças climáticas, porém, que não é necessário tirar os agricultores do trabalho para resolver o problema. No entanto, a agência de proteção ambiental da Irlanda afirma que em 2021, a agricultura foi responsável por 38% das emissões de gases de efeito estufa do país. Grande parte dessas emissões é proveniente do metano gerado pelos animais e do óxido nitroso proveniente dos fertilizantes e do estrume utilizado na lavoura. A redução do número de animais em um país pode aumentar a produção em outras regiões se a demanda por carne continuar. Mesmo assim, os cientistas concordam que as emissões dos animais são uma das principais causas das mudanças climáticas.
O climatologista da Universidade do Havaí em Manoa, nos EUA, David Ho, afirmou que embora as emissões de combustíveis fósseis sejam maiores, o impacto da agricultura também é significativo nas emissões de gases de efeito estufa. Apesar de os líderes mundiais terem prometido limitar o aquecimento global a 1,5°C até o final do século, as políticas atuais dos países apontam para quase o dobro disso. Inúmeros estudos publicados nos últimos anos afirmam que as emissões da agricultura são suficientes para ultrapassar a meta do orçamento de carbono. Segundo um estudo publicado na revista Nature Climate Change em março deste ano, o atual padrão de consumo global de alimentos pode adicionar quase 1°C ao aquecimento até 2100. Os pesquisadores descobriram que mais da metade do aquecimento pode ser evitado produzindo alimentos de forma mais eficiente, adotando dietas saudáveis - incluindo mais vegetais e menos carne – e reduzindo o desperdício de alimentos.
Os especialistas ressaltam a urgência de combater rapidamente as emissões provenientes da produção agrícola. Tim Searchinger, diretor técnico do programa de alimentos do instituto de pesquisa sobre clima World Resources Institute, alertou que as emissões da agricultura estão aumentando tão rapidamente que “provavelmente emitirão mais carbono em 2050 do que o mundo pode aceitar de todas as fontes humanas”. O impasse entre a redução da utilização dos combustíveis fósseis e o impacto causado pelas emissões relacionadas ao esterco bovino evidencia a complexidade da transição para uma economia mais sustentável. Enquanto a redução dos combustíveis fósseis é essencial para a diminuição das emissões globais de gases de efeito estufa, o problema da poluição gerada pelas atividades agropecuárias é cada vez mais relevante. Portanto, é necessário abordar esse impasse de maneira integrada e criar estratégias que levem em conta os aspectos ambientais, sociais e econômicos envolvidos na produção agropecuária.
Brasil Amazônia Agora publica com informações de: DW
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