Além dos impactos locais, os desastres ambientais como esses incêndios no Canadá ou na Amazônia contribuem para o agravamento do aquecimento global
Os incêndios florestais no Canadá atingiram um recorde histórico, com mais de 77,9 mil km² de florestas queimadas em 2023, o maior número dos últimos 40 anos. Essa extensa área queimada é equivalente à do Panamá ou quase 50 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Além disso, os incêndios emitiram 160 milhões de toneladas de carbono, o maior índice registrado desde o início do monitoramento em 2003, superando as emissões das Filipinas em 2021.
Impactos na qualidade do ar
A fumaça resultante dos incêndios no Canadá tem afetado a qualidade do ar, tanto nas grandes cidades canadenses quanto em regiões distantes. Montreal, na província de Quebec, registrou a pior qualidade do ar entre as principais cidades do mundo, de acordo com o IQAir, que monitora a poluição globalmente. O Ministério do Meio Ambiente do Canadá recomendou que os moradores evitassem atividades ao ar livre e usassem máscaras de proteção. Eventos externos, incluindo shows e competições esportivas, foram cancelados.
Propagação da poluição e efeitos na Europa
A poluição proveniente dos incêndios no Canadá tem se espalhado para outras regiões, como cidades nos Estados Unidos, incluindo Chicago e Washington, e atravessou o Atlântico, chegando à Europa nos últimos dias. Segundo o cientista do serviço de monitoramento atmosférico europeu Copernicus, Mark Parrington, é possível que a fumaça cause nebulosidade e tingimento alaranjado do pôr do sol no continente europeu ao longo da semana. No entanto, a expectativa é que a fumaça permaneça em uma altitude mais elevada, minimizando os efeitos na qualidade do ar.
Nesta terça-feira (27), foram registrados 487 focos de incêndio ativos no Canadá, sendo que 259 estão fora de controle. O ministro do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Steven Guilbeault, alertou no início de junho que esta temporada de incêndios florestais já está entre as piores já registradas, destacando a necessidade de preparação para um verão longo.
Os incêndios no Canadá têm atingido principalmente a floresta boreal, que cobre a maior parte do território canadense e é composta principalmente por diferentes tipos de coníferas, como pinheiros. A diversidade de árvores nessa floresta é menor em comparação com as florestas brasileiras, com predominância de abetos-negros. A vasta extensão e a difícil acessibilidade da região têm dificultado o controle dos incêndios. Apesar de os incêndios serem uma parte natural do ecossistema da floresta boreal, as mudanças climáticas têm contribuído para o aumento da intensidade, frequência e tamanho dos incêndios.
Impacto da crise climática
As condições climáticas, incluindo tempo seco, altas temperaturas e vento, são fatores que favorecem a propagação dos incêndios florestais. Com as mudanças climáticas, essas condições têm se tornado mais frequentes nas regiões florestais, levando a um aumento nos incêndios. James MacCarthy, pesquisador do Global Forest Watch, destaca que os tipos de incêndios observados atualmente na floresta boreal do Canadá não são naturais, embora o fogo em si seja parte integrante desse ecossistema. O aumento nas temporadas de incêndios nos últimos 50 anos, que agora são cerca de 20% mais longas do que antes de 2000, reforça a influência da crise climática nesse cenário.
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Emissões de carbono e agravamento do aquecimento global
Além dos impactos locais, os incêndios florestais contribuem para o agravamento do aquecimento global. Nas florestas boreais, a maioria do carbono está armazenada no solo, e a queima desse tipo de vegetação libera grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂). Em 2021, os incêndios nas florestas boreais da Eurásia e da América do Norte emitiram um recorde de 1,76 bilhão de toneladas de CO₂, representando 23% de todas as emissões provenientes de incêndios no mundo. Estudos indicam que as queimadas de 2023 provavelmente superarão esses números alarmantes.
Os incêndios florestais sem precedentes no Canadá em 2023 têm causado impactos significativos em nível local e global. Além de bater recordes históricos, as queimadas têm gerado poluição atmosférica e emissões recordes de carbono, agravando o aquecimento global. A situação desafiadora na floresta boreal canadense evidencia a urgência de ações efetivas para mitigar as mudanças climáticas e combater os incêndios florestais em todo o mundo.
Com informações de AFP e Reuters
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