Em relação à origem e destino da madeira, o estado do Mato Grosso se destaca como o maior produtor da mercadoria oriunda de espécies ameaçadas, representando 55% do total, seguido pelo Pará (25%) e Rondônia (10,3%). Esses três estados são historicamente os principais produtores de madeira na região amazônica.
Um levantamento recente divulgado pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) revelou dados alarmantes sobre a comercialização de madeira de espécies ameaçadas no Brasil entre os anos de 2010 e 2020. Durante esse período, o país movimentou aproximadamente 7,3 milhões de metros cúbicos de madeira de espécies em risco, incluindo o pau-santo, acapu, angelim, cedro e itaúba, todas classificadas com alta vulnerabilidade de extinção. Desse total, 94% foi consumido internamente, principalmente em produtos de baixo valor agregado, como madeira serrada bruta.
Os resultados fazem parte da 11ª edição do Boletim Timberflow, uma iniciativa do Imaflora, divulgada na última segunda-feira (29). Esse boletim representa o primeiro mapeamento desse tipo no país e revela que a comercialização de madeira de espécies ameaçadas corresponde a 6% do fluxo total das transações nacionais.
O levantamento levou em consideração tanto as espécies listadas na “lista vermelha” da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), quanto aquelas mencionadas em instrumentos legais e portarias nacionais no período de 2010 a 2022. Ao todo, foram identificadas 60 espécies em diferentes estágios de ameaça que ainda são comercializadas no Brasil. Dessas, 32 estão classificadas como Vulneráveis (VU), 27 como Em Perigo (EN) e uma como Criticamente em Perigo (CR).
Embora as espécies classificadas como Vulneráveis (VU) possam ser exploradas dentro dos critérios estabelecidos para o Manejo Florestal Sustentável, as espécies Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR) têm sua exploração proibida.
Maryane Andrade, consultora da iniciativa de legalidade florestal do Imaflora, destaca a importância desse estudo para conscientizar sobre a comercialização dessas espécies e incentivar uma discussão entre os diversos atores do setor sobre a preservação da biodiversidade e a integridade do setor florestal.
Origem e destino
Em relação à origem e destino da madeira, o estado do Mato Grosso se destaca como o maior produtor da mercadoria oriunda de espécies ameaçadas, representando 55% do total, seguido pelo Pará (25%) e Rondônia (10,3%). Esses três estados são historicamente os principais produtores de madeira na região amazônica.
A região Centro-Oeste do Brasil foi responsável por adquirir 35% dessa madeira, seguida pela própria região Norte (27%). A produção total é dominada por cinco espécies, representando 82% do volume comercializado: itaúba, garapeira, angelim, cedro, cumaru-de-cheiro e acapu. Dessas espécies, as quatro primeiras são classificadas como Vulneráveis (VU), enquanto o acapu é classificado como Em Perigo (EN).
Destaca-se ainda que, apesar da proibição de seu corte, o acapu (Vouacapoua americana) representa 2,5% da produção total, acumulando mais de 188 mil metros cúbicos de madeira em tora. Atualmente, essa madeira é comercializada ilegalmente para usos comuns, como matéria-prima barata na produção de cercas e mourões de fazendas na Amazônia.
Outra espécie identificada como ainda sendo comercializada mesmo em situação de Criticamente em Perigo é o pau-santo (Bulnesia sarmientoi), com um volume de 1,5 mil metros cúbicos comercializados entre 2010 e 2020.
O estudo ressalta que grande parte da comercialização de espécies Críticas (CR) e Em Perigo (EN) ocorreu nos anos anteriores à promulgação da Instrução Normativa MMA n.º 1, de 12 de fevereiro de 2015, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que proíbe a aprovação de Planos de Manejo Florestal para espécies nessas classificações. Embora haja uma redução na exploração dessas espécies a partir de 2016, indicando um impacto positivo das medidas legais, os dados demonstram que a legislação ainda não foi suficiente. Em 2020, foram registrados oficialmente bancos de dados a exploração de 18.348,97 metros cúbicos de madeira em tora de espécies classificadas como CR e EN.
Mau uso de madeira nobre
Outro aspecto preocupante destacado pelo Boletim Timberflow é o fato de que a maior parte da madeira proveniente de espécies sensíveis (94%) é destinada a produtos de baixo valor agregado, como serrada bruta, que representa 60% dos produtos comercializados, além de outros derivados como resíduos industriais, cavacos e lascas, toretes e mourões.
Diante desse cenário, o estudo recomenda o investimento no desenvolvimento industrial do setor florestal, visando aumentar o valor agregado dos produtos de madeira. Além disso, destaca a importância de combater a ilegalidade, fraudes e o vazamento para o mercado ilegal, por meio do aprimoramento da fiscalização pelos governos estaduais e federais.
Maryane Andrade ressalta que é essencial não apenas proibir a exploração de determinadas espécies, mas também combater efetivamente a ilegalidade. Embora seja um desafio, é possível fortalecer as medidas em prol de um setor florestal mais responsável e eficiente.
Com informações d’o Eco
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