“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, este poderia ser o mote das próximas campanhas publicitárias do Banco do Brasil. Pelo menos no que diz respeito ao que determina para si sobre proteção ao meio ambiente e ao que desembolsa para quem o devasta.
Em junho do ano passado, o banco estatal aprovou sua “Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática” (PRSAC).
Um documento bem chinfrim na verdade, mas que, em um de seus princípios, afirma que o BB buscaria “oportunidades de negócios que considerem aspectos de natureza social, ambiental e/ou climática, alinhadas ao objetivo de crescimento da carteira de negócios sustentáveis e à transição para uma economia de baixo carbono”.
Não é, porém, o que mostra a carteira do banco. Desde então, o BB manteve ou acrescentou investimentos que somam US$ 370 milhões em sete empresas do setor agrícola associadas ao desmatamento da Amazônia e do Cerrado e à exploração de mão de obra em condições análogas à escravidão, relata o Repórter Brasil. São valores retidos principalmente em ações de companhias e um empréstimo.
“As políticas do Banco do Brasil são claramente insuficientes para evitar que o banco financie o desmatamento”, avalia Merel van der Mark, coordenadora da Florestas e Finanças (F&F), coalizão de organizações que monitora globalmente fluxos de dinheiro que abastecem empresas que colocam as florestas do planeta em risco. O que não chega a surpreender, já que a PRSAC tem apenas 3 páginas.
O mesmo agronegócio que desmata vem sendo duramente afetado pelas mudanças climáticas causadas pela sua destruição. Eventos climáticos extremos causaram prejuízos de R$ 287 bilhões à agropecuária brasileira entre 2013 e 2022, mostra um levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), com base em dados do Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
As secas foram responsáveis por 87% dos prejuízos na agropecuária no intervalo considerado, explica o Valor. Ao todo, os eventos causaram perdas em 6,8 milhões de hectares de lavouras – uma área equivalente à soma dos territórios dos estados do Rio de Janeiro e Alagoas.
O combate à devastação do agro, em particular na Amazônia, é afetado pela falta de acesso a dados do setor, principalmente da pecuária. O Repórter Brasilmostra que, com a exceção do Pará, os demais estados da Amazônia Legal – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Tocantins – não disponibilizam acesso às informações que facilitariam a identificação de irregularidades ambientais na criação de bovinos.
Isso afeta diretamente a fiscalização ambiental. Sem essas informações, nem o IBAMA, nem o ICMBIO, órgãos federais responsáveis pela conservação e policiamento ambiental, conseguem consultar guias de movimentação de gado e cadastros de criadores na região.
E essa vigilância, bem como as autuações decorrentes dessas ações, são comprovadamente eficazes em diminuir o desmate amazônico. É o que aponta um estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made), da USP, conduzido por pesquisadores das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e Sergipe (UFS).”
Os testes indicam ainda que um aumento de 1% nas autuações do IBAMA reduz em 0,5% o desmatamento no mesmo ano”, estima a pesquisa, a partir de modelos econométricos que reúnem 16 bases de dados sobre a Amazônia Legal relativos ao período de 2006 a 2021, detalha a Folha.
Texto publicado em CLIMA INFO
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