Um bate-boca entre representantes do governo federal e da oposição ruralista na distante Pequim mostrou como a questão do desmatamento ainda mancha a imagem do Brasil no exterior. Pior: o episódio evidenciou como os parlamentares pró-agronegócio seguem repetindo as mentiras e distorções dos tempos de Bolsonaro para negar a destruição ambiental.
Em um evento na capital da China, o presidente da APEX Brasil, Jorge Viana, associou o desmatamento à expansão das áreas utilizadas para a agricultura e pecuária. “Quero dar números bem objetivos. Falei que 84 milhões de hectares foram desmatados. Para quê essas áreas estão sendo usadas? 67 milhões de hectares para a pecuária, 6 milhões para agricultura de grãos e 15 milhões [são] de florestas secundárias”, disse.
A fala foi logo rebatida por representantes da bancada ruralista no Congresso Nacional. A senadora e ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS) criticou Viana e acusou a APEX de querer “derrubar de uma só vez a imagem do país, o saldo comercial e o PIB”. Já a Frente Parlamentar da Agropecuária contestou as informações citadas por Viana, acusando-as de ser uma “premissa ultrapassada desprovida de informações científicas e oficiais”.
A gritaria foi o suficiente para que o chefe da APEX voltasse atrás, argumentando que houve um “mal-entendido” em sua fala, como informou o Poder360.
Mas a afirmação de Viana não trouxe nenhuma inverdade sobre o impacto do desmatamento e o uso da terra desmatada para atividades produtivas do setor primário.
Sim, a agropecuária segue como um dos motores principais do desmatamento na Amazônia. Não à toa, a turma do agro serviu de cheerleader do desgoverno Bolsonaro na área ambiental nos últimos anos, que resultou numa escalada da destruição florestal. Negar isso não é apenas negar a realidade, mas rejeitar qualquer possibilidade de resolução honesta do problema.
A coluna de Jamil Chade no UOL deu mais informações sobre o episódio.
Em tempo: Ainda sobre o desmatamento na Amazônia, Daniela Chiaretti destacou no Valor que os dados da derrubada de floresta no 1º trimestre de 2023 deixam evidentes a complexidade do problema e a necessidade de engajamento do Congresso Nacional nos esforços do governo federal para resolver a questão. “Não é fácil virar fênix e reerguer-se das cinzas em tal cenário de descontrole, nem mesmo para um governo com a melhor das intenções”.
Texto publicado em CLIMA INFO
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