Aldeia da etnia, localizada no interior de São Paulo, participará da implementação de agrofloresta em parceria com Hub
A Pretaterra, hub de inteligência agroflorestal, acaba de fechar parceria com a aldeia indígena Tekoa Porã, da etnia guarani. As terras da aldeia agora passam a integrar o projeto de restauração produtiva “Agrofloresta na Mata Atlântica”, da Pretaterra. Até o final de 2023, serão implementados 6 hectares de agrofloresta na aldeia, localizada em Itaporanga, no interior de São Paulo, às margens do Rio Itararé.
Fundadores da Pretaterra, os engenheiros florestais Paula Costa e Valter Ziantoni falam sobre a oportunidade de trabalhar em parceria com indígenas locais. “Escolhemos a comunidade Tekoa Porã para fazer parte do nosso projeto, por ser uma das comunidades indígenas que ainda existem no Estado de São Paulo, tendo em vista que já trabalhamos com comunidades locais e povos tradicionais ao redor do mundo”, diz Paula.
O projeto já plantou 100 hectares de Mata Atlântica na região de Timburi, também no interior de São Paulo, e mais de 30 hectares com outros povos indígenas na região. Nos próximos anos, serão plantados mais 200 hectares, ou seja, cerca de 200.000 árvores, que fixarão mais de 100.000 toneladas de dióxido de carbono nos próximos 20 anos e beneficiarão diretamente pelo menos 50 famílias, além de mais de 200 indiretamente.
Para Valter, o resgate do conhecimento tradicional é fundamental para quem busca enfrentar os desafios do presente e construir um futuro mais promissor para todos. “Entender como os povos da floresta trabalham em harmonia com a natureza é a chave para a construção de um futuro regenerativo, com alimentos nutritivos e abundantes para todos, inclusão social e mitigação climática”, afirma ele. A partir desse entendimento, são aplicadas ferramentas científicas para aquisição de conhecimento local, com o objetivo de entender e multiplicar a sabedoria das populações nativas.
Aldeia Tekoa Porã
Na aldeia, 48 pessoas, de 13 famílias diferentes, vivem em 12 hectares de terras. O grupo é originário de Itaporanga, mas foi remanejado para Bauru, também no interior do Estado, nos anos 1940. “Foi após esse remanejamento que a cidade de Itaporanga se estabeleceu”, diz o cacique Angerri da Silva. “Voltamos para Itaporanga em 2006. Hoje, quem visita a aldeia vivencia a história indígena desde o primeiro momento em que estivemos aqui.”
Em 2011, após uma enchente no rio Itararé, as famílias da aldeia ficaram desabrigadas e, por isso, se mudaram para uma área comprada pela Igreja Católica e cedida aos indígenas. Quando chegaram à terra, ela estava degradada e desmatada, com baixa produtividade. Sempre em coletivo, trabalharam duro para reestruturar a aldeia, que, hoje, conta com casas, um barracão e um centro de convenções – chamado de Casa do Guerreiro.
Desde então, é realizado um festival cultural durante o mês de abril, quando cerca de 5.000 pessoas passam pela aldeia. Dos dias 19 a 22 de abril, enquanto ocorre o festival, são servidos churrasco e mandioca, além de comercializados artesanatos. “Os pratos mais pedidos são a mandioca com mel e o milho cozido”, diz Angerri.
Na tribo, a ideia de cultivos diversificados já é difundida. Além das roças de mandioca, também são plantadas hortaliças para consumo. Recentemente, os membros da aldeia começaram a aprender aquaponia, um sistema para criação de peixes e produção de alimentos.
Há também um grande interesse pela fruticultura na aldeia – já foram plantadas melancias, com a colheita de 5 toneladas no ano passado, e existe interesse em plantar abacate, goiaba e manga. “Na nossa visita técnica, rodamos as áreas para entender os potenciais para o plantio de agroflorestas e mapeamos tudo com drone”, conta Paula. “Devemos plantar sistemas produtivos biodiversos, focando nos interesses que existem, nas práticas adotadas, nas culturas anuais e nas frutas de interesse, mas também pensando em silvicultura, café e restauração.”
O trabalho da Pretaterra é combinar esforços desenvolvimentistas com os povos originários, os primeiros habitantes do Brasil – e auxiliar esses povos no processo de resgate da sua sabedoria e de uma agricultura ancestral e resiliente, por meio da ótica de uma agrofloresta inovadora e integrativa. “Isso nos ajuda a fortalecer laços sociais e históricos, que verdadeiramente unem um povo na sua essência. A agrofloresta atua como uma ferramenta de resiliência, de união, de perseverança e de pertencimento na cocriação de uma agricultura ambientalmente sustentável e socialmente integradora, capaz de enfrentar e solucionar os maiores desafios do Brasil e do planeta”, afirma Valter.
Fonte: CicloVivo
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