Avaliar 2022 com um pé na esperança é decidir que valorizamos a ciência, a iniciação científica e o potencial de um Brasil próspero com sua soberania tecnológica, como uma Nação.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Quando se aproxima o fim do ano, é frequente a necessidade de avaliações sobre o que se passou, para que construamos bases para um futuro melhor. Neste contexto, o novo livro de Paul Tucker, publicado pela Universidade de Princeton, em novembro passado, traz um bom mote: “Global Discord: values and power in a fractured world order” (“Discórdia Global: valores e poder em uma ordem mundial fraturada”, até agora sem publicação traduzida).
A advertência feita pelo autor é de que os interesses (o que queremos) não podem estar dissociados dos valores (o que acreditamos), uma vez que valores “também são interesses” e o esforço da cooperação repousa na extensão das práticas compartilhadas e na estima mútua. Salta aos olhos o quanto banalizamos, como sociedade, nossos valores culturais e a necessidade de estima mútua.
Há entre muitos de nós, uma complacência quando direitos de outros são subtraídos, como se isso fosse positivo, pois ainda é presente o hábito do desprezo pelo próximo – como se ainda fôssemos europeus e invasores, em uma distante terra estrangeira.
Quando valores antidemocráticos são percebidos como normais em uma sociedade democrática, sem serem veementemente repudiados; quando a proteção do meio ambiente é desprezada; quando a ciência é desprezada; quando qualquer ser humano é desprezado, certamente há algo de errado na sociedade. Avaliar 2022 é avaliar o quanto a fratura social ou a dualidade entre debates não é por conta de interesses, mas por conta de valores. A banalidade dos valores nacionais.
Aliás, numa das acepções do termo “banalidade” está a utilização, livre ou forçada, pelos vassalos de coisas pertencentes ao senhor feudal, mediante pagamento. Os interesses das regiões periféricas do Brasil começarão a ser protegidos a partir do momento em que seja atribuído e reconhecido algum valor para estas regiões e suas pessoas – como parte e não como algo a explorar. Enquanto houver a distância dos valores republicanos em relação ao interior ou à floresta, seguiremos, na Amazônia, na condição atual.
Avaliar 2022 com um olhar em 2023 é refletir o quanto queremos valorizar (ou não) a existência de outros. Avaliar 2022 com um pé na esperança é decidir que valorizamos a ciência, a iniciação científica e o potencial de um Brasil próspero com sua soberania tecnológica, como uma Nação.
Alternativamente, resta a preferência por sermos vassalos de estrangeiros, produzindo apenas como Colônia, para o proveito do Império. A transcendência desta situação será possível a partir do momento em que nos valorizemos mutuamente. Fora disto, seguiremos sem trazer para nós a capacidade de construir um futuro melhor. A cada dia nos colocamos nesta encruzilhada e com uma nova oportunidade; tudo é diferente, mas o problema segue o mesmo.
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