“A humanidade está em uma estrada a caminho do inferno”, destacou António Guterres na abertura da COP27, no último dia 06. Uma semana depois, a sensação em Sharm el-Sheikh é que, a despeito do alerta sombrio do secretário-geral da ONU, nosso pé continua fincado no acelerador, correndo como se não houvesse amanhã.
Correio Braziliense, Estadão e Folha fizeram um balanço geral da situação das conversas no Egito. O maior abacaxi na mesa dos negociadores é a questão de perdas e danos, que ganhou espaço inédito nesta COP27. Os países seguem divididos quanto ao caminho a seguir: enquanto as nações em desenvolvimento e mais vulneráveis defendem a criação de um fundo específico para perdas e danos, com recursos novos e adicionais, seus parceiros desenvolvidos estão cautelosos e querem estudos adicionais antes de se comprometer com um novo instrumento financeiro.
As conversas também estão travadas sobre a nova meta coletiva de financiamento para ação climática. Os países em desenvolvimento cobram não apenas um roadmap claro para que a promessa dos US$ 100 bilhões anuais, ainda não cumprida pelos governos ricos, saia do papel nos próximos anos, mas também que haja um caminho mais claro para elevar o fluxo de financiamento. Já os países desenvolvidos argumentam que não serão capazes de, sozinhos, elevar o patamar do financiamento climático, e defendem uma maior participação de instituições multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Mundial, e da iniciativa privada.
Em outros tópicos da agenda da COP27, como a elevação da ambição dos compromissos nacionais de mitigação e a operacionalização dos mecanismos de mercado de carbono sob o Acordo de Paris, as discussões também avançaram pouco, com muito trabalho para acontecer nos primeiros dias da 2ª semana desta COP27. Vale ler também o resumo da Associated Press e do Guardian.
Os problemas não se limitam à agenda de negociação. O Guardian elencou os problemas de organização do Egito no International Convention Center (ICC) em Sharm el-Sheikh: falta de sinalização dos espaços, má distribuição de água e comida, preços abusivos, ar-condicionados funcionando como turbinas de avião, problemas de conexão de internet, e até mesmo um vazamento de esgoto no corredor principal da Conferência.
Do lado de fora do espaço oficial da COP27, os anfitriões egípcios seguem causando incômodo entre os participantes, principalmente jornalistas e representantes da sociedade civil. A Bloomberg trouxe algumas histórias preocupantes: jovens expulsos de um hotel tarde da noite por não concordarem em pagar a mais pelos quartos que já tinha sido pagos; abordagens agressivas de pessoas não identificadas nas ruas da cidade; diversos casos de monitoramento de grupos sociais dentro do espaço da COP por agentes egípcios.
Texto publicado originalmente por CLIMA INFO
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