Os governos do Acre, do Amazonas e de Rondônia, chefiados por três bolsonaristas reeleitos, participam da COP27 em busca de recursos internacionais e de aproximação com o futuro governo Lula.
Os redatores do ClimaInfo desistiram de entender qual argumento poderia ser usado por estes governos para demandar recursos internacionais atrelados à redução das emissões de carbono. Concluímos que só por um milagre convencerão a plateia da COP da honestidade de promessas de redução da destruição ambiental, já que nos últimos quatro anos defenderam o desmantelamento do aparato estatal de comando e controle, a flexibilização do licenciamento ambiental e as políticas antiambientais do atual governo federal.
O resultado ambiental destes governos foi bem retratado por Vinicius Sassine na Folha: “No Acre, a devastação foi de 2.259 km2 de 2019 a 2021, mais do que o dobro do que o registrado nos três anos anteriores (…) Em Rondônia, em três anos, foram 4.358 km2, um aumento de 18%. E no Amazonas, especialmente no sul do estado, o desmate foi de 5.140 km2 em três anos, aumento de 67,7%.”
Por outro lado, é bem mais fácil entender a tentativa de aproximação com Lula: nas palavras do secretário do meio ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira, “temos dependência grande da União, então há um alinhamento natural”.
Amazônia Legal na COP 27
Os governos da Amazônia Legal darão uma coletiva na COP 27 na próxima 2ªfeira (14/11) para apresentar seus planos para a região. Eles também entregarão o detalhamento a Lula durante a passagem do presidente eleito pelo Egito.
Em tempo 1: Não são só os governos dos estados da Amazônia que buscam aproximação com Lula. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse ontem na COP que a viagem do presidente eleito ao Egito é “estratégica”. Petro propôs ontem na COP27 uma cúpula climática dos governos dos países que detêm partes da floresta Amazônica: Peru, Equador, Bolívia, Venezuela, Suriname Colômbia e Brasil. Como relata o Valor, o presidente da Colômbia entende que “a revitalização da floresta amazônica envolve a formação de um bloco político capaz de abrir um fundo para buscar financiamento e implementar políticas de mitigação das mudanças climáticas com orçamento próprio de cada país e ajuda internacional.”
Em tempo 2: João Paulo Capobianco, colaborador do programa do governo eleito, disse em entrevista ao Estadão que a área ambiental precisa de mais do que um “revogaço” para dar fim ao desmantelamento do setor feito pelo governo atual: é preciso fazer um “avançaço”. Isto recolocaria “o país num patamar em que recupera sua capacidade de gestão e de diálogo construtivo no plano internacional.”
Em tempo 3: O Observatório do Clima, o Greenpeace Brasil e a organização australiana Climate Counsel apresentaram uma comunicação conjunta ao Ministério Público no Tribunal Penal Internacional (TPI) com evidências de ataques generalizados e sistemáticos na região amazônica contra usuários de terras rurais e os Povos Indígenas promovidos por uma rede organizada de políticos, servidores públicos, policiais, empresários e outros criminosos.
Os crimes, que incluem assassinato e perseguição, eram realizados para facilitar a desapropriação de terras, a exploração de recursos naturais e a destruição do meio ambiente. De acordo com as evidências, entre 2011 e 2021, os mais de 12 mil conflitos registrados resultaram em 430 mortes, 554 tentativas de assassinato, 2.290 ameaças de morte, 87 casos de tortura e mais de 100 mil expulsões ou despejos. Segundo a comunicação, os abusos são equivalentes a crimes contra a humanidade.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
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