Enquanto aguardam a ida do presidente eleito Lula à COP27, negociadores do Brasil, da Indonésia e da República Democrática do Congo estão avançando na formação de uma aliança estratégica para coordenar esforços de conservação de florestas tropicais no âmbito do enfrentamento da crise climática.
De acordo com o Guardian, a iniciativa pretende facilitar medidas de financiamento e comércio de créditos de carbono associados à proteção das áreas remanescentes de floresta tropical. Os três países concentram mais da metade (53%) do total de área florestal tropical que sobrou no planeta.
“Este acordo pode ser um promissor passo adiante se os Povos Indígenas e comunidades locais forem totalmente consultados nesse processo e seus direitos e liderança, respeitados”, observou Oscar Soria, da Avaaz, que comparou a aliança a uma “OPEP das Florestas Tropicais”, uma analogia ao cartel de produtores de petróleo que controla os preços internacionais do combustível.
Aliança do Brasil e outros países
A aproximação entre o Brasil e outros países detentores de florestas tropicais pode acelerar os esforços internacionais para impedir o desmatamento em todo o mundo. Com Lula, a expectativa de analistas e ativistas é que isso se reflita também em mais pressão política sobre os países desenvolvidos para destravar financiamento e medidas de proteção florestal.
“É uma estratégia intrigante e potencialmente poderosa para aumentar os fluxos monetários, reduzir o desmatamento e desacelerar as mudanças climáticas“, avaliou James Deutsch, da Rainforest Trust, à Reuters.
Deutsch assinalou que a articulação dos três países com maior estoque de florestas tropicais do mundo pode ajudar a aumentar o valor do preço pago por tonelada de emissões evitadas de CO2.
Pelo lado dos países ricos, ao menos por enquanto, os sinais são mistos. Por um lado, o governo do Reino Unido reforçou seu compromisso com a ajuda à conservação de florestas ameaçadas pelo desmatamento ao redor do mundo, compromisso firmado durante a COP26, em Glasgow, no ano passado.
Como o Guardian assinalou, as mudanças sucessivas de governo nos últimos meses colocaram em risco as promessas climáticas de Londres, mas a pressão política fez com que o novo primeiro-ministro Rishi Sunak mantivesse os compromissos firmados pelo seu antecessor, Boris Johnson. Por outro, os britânicos já anteciparam que não pretendem aumentar o volume de recursos públicos destinados a projetos de conservação florestal.
Em tempo 1: Para o climatologista Carlos Nobre, a Amazônia será chave para que o Brasil possa liderar a luta global contra a mudança do clima. “Com vontade política, o Brasil tem condições de reduzir drasticamente o desmatamento e, com isso, tornar-se o primeiro país entre os maiores emissores de CO2 do mundo [somos o 5o] a cumprir suas metas climáticas. Pode se tornar net zero em 2040”, observou Nobre ao Globo.
Em tempo 2: A vitória de Lula nas eleições presidenciais brasileiras – e, por tabela, o fim do desgoverno atual – segue gerando expectativa positiva em Sharm el-Sheikh. O Estadão destacou a fala de Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA e Nobel da Paz, celebrando o fato de o Brasil ter escolhido “parar de destruir a Amazônia”, sem citar os nomes do presidente em final de mandato ou do futuro mandatário.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
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